São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2004

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SEQÜESTRO

Polícia matou dois homens que faziam a segurança do cativeiro da estudante; família pagara resgate havia 57 dias

Menina de 12 anos é libertada após 70 dias

SÍLVIA CORRÊA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma menina de 12 anos, aluna de um dos mais tradicionais colégios paulistanos, foi seqüestrada na saída da escola, nos Jardins (zona oeste), e libertada ontem pela Polícia Civil após 70 dias refém. É o seqüestro mais longo esclarecido neste ano no Estado.
Na invasão do cativeiro, dois acusados foram mortos. A quadrilha havia recebido o resgate em 10 de junho, sob a promessa de soltar a menina, mas voltou atrás.
A refém foi localizada após a prisão do porta-voz do grupo, mas há indícios de que haja mais cinco envolvidos em liberdade.
Assustada, a família deve deixar o país. Por questões de segurança, portanto, a Folha não vai identificar a vítima nem seus parentes.
Aluna do Dante Alighieri, a menina é a filha caçula do dono de uma rede de lojas de móveis e decoração com unidades em outros três países, entre eles os EUA.
Desde o ensino infantil, há oito anos, ela faz a pé o trajeto de cem metros entre o colégio e o prédio onde mora. Em 28 de maio, a rotina foi violentamente quebrada.
Já na calçada de sua casa, a menina foi agarrada pelo pescoço por um homem negro, de terno e gravata, que se jogou, abraçado a ela, na caçamba de uma Saveiro preta. O carro saiu em disparada.
O ataque ocorreu na hora da saída do Dante e foi visto por pais e alunos. As cenas também foram registradas por uma câmera de segurança de um prédio vizinho, mas nada indicava as placas da Saveiro, que nunca foi localizada.
O primeiro contato foi feito horas depois. Os criminosos queriam US$ 10 milhões. A família acionou a Divisão Anti-Seqüestro (DAS) e a Control Risk -uma empresa britânica de gerenciamento de crises e de seguro anti-seqüestro. No 13º dia da ação, após o negociador do grupo dar uma prova de vida da refém, a família entregou R$ 500 mil à quadrilha, em dinheiro e jóias.
Ao pagamento, porém, sucedeu-se um silêncio de semanas. Foram os momentos de maior tensão. Quando voltaram a fazer contato, sem libertar a menina, os homens anunciaram: queriam receber mais R$ 500 mil.
Nos 70 dias, foram pouco mais de dez ligações. Raras e fundamentais. Rastreadas e interceptadas, elas levaram os policiais a Renato Faria Lopes, 25, preso em casa, na tarde de anteontem.
O rapaz não tem passagens pela polícia, não tinha armas e não foi autorizado a dar entrevistas, mas a polícia diz que ele admitiu ter negociado este e outros três seqüestros e foi responsável pela indicação do cativeiro, no sítio Araponga, em Juquitiba (Grande SP).
Eram 3h30 de ontem quando a equipe chegou ao local. "Ela só sorriu e disse que não foi agredida, mas é impossível avaliar as conseqüências psicológicas disso", narra o delegado Wagner Giudice, diretor da DAS.
Uma hora depois, a menina estava na cobertura da família. "Foi emocionante. O pai dela foi fantástico. O nosso maior presente é ter garantido o Dia dos Pais dele."
Para outros pais, porém, a sorte ainda não chegou. Seis pessoas seguem em cativeiro no Estado -três delas menores de idade.


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