São Paulo, terça-feira, 07 de agosto de 2007

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Vizinhos saqueiam carne enterrada pelo Exército no Rio

Parte das 76,1 toneladas de carne "sem condições de uso", que estavam em área militar, foi usada em churrascos

Até ontem, ninguém havia sido atendido nos postos de saúde e no hospital da região com problemas relacionados à alimentação

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Parte de um carregamento de 76,1 toneladas de caixas de carne "sem condições de uso", segundo a Receita Federal e o Ministério da Agricultura, foi desenterrada de uma área militar e serviu de matéria-prima para churrascos de moradores de Ricardo de Albuquerque, zona norte do Rio.
As peças transportadas do porto do Rio pelo Exército para a área militar terminaram na churrasqueira dos vizinhos do CIG (Campo de Instrução de Gericinó), onde haviam sido enterradas. Apesar de a carne estar "sem condições de uso", ninguém foi atendido nos postos de saúde e no hospital da região com problemas relacionados à alimentação.
Na quinta-feira, um caminhão do Exército despejou as caixas-o peso equivale ao de 85 veículos Pálio Fire- em um buraco no campo de Gericinó a pedido da Receita Federal. Logo depois, vizinhos do terreno invadiram o local pela rua Boaçu e desenterraram as carnes. As caixas eram carregadas por famílias inteiras e até em carrinhos de mão.
O Comando Militar do Leste informou que "o Serviço de Patrulha do CIG percebeu a presença de populares que residem nas imediações do campo retirando a carne que havia sido enterrada".
Após expulsar os saqueadores, o material foi transferido para "uma área mais interna", segundo a nota. No entanto, militares ainda fechavam o buraco a cerca de 800 metros das casas ontem pela manhã.
"As conseqüências geralmente aparecem 24 horas depois de a pessoa ingerir o alimento, mas estamos em alerta para qualquer caso", disse o superintendente da Vigilância Sanitária, Victor Berbara, que afirmou não terem ocorrido casos de infecção alimentar na rede de saúde estadual da região. No posto de saúde que atende o bairro, também não houve atendimentos deste tipo desde a quinta-feira.
Segundo ele, a ingestão da carne é "um risco muito grande". "A má conservação da carne faz com que microorganismos se desenvolvam. Eles podem causar desde uma infecção simples até uma infecção generalizada, desidratação e, dependendo do caso, óbito".
A vigilâncias sanitárias estadual e municipal pretendem fazer uma inspeção no bairro a partir de amanhã em casas e comércio. Muitos venderam a carne ou guardaram em casa para churrasco no Dia dos Pais, no próximo domingo.

Origem
Receita Federal e Ministério da Agricultura divergem sobre origem e destino da carne. Segundo nota da Receita, a carne veio da Argélia "e foi abandonada pelo importador". Em 5 de julho, foi feita a Declaração do Perdimento. Segundo o Ministério da Agricultura, a Argélia seria o destino, e não a origem da carne. As caixas têm inscrições apontando como importador de alimentos Sarl Sahby Simex, cujo o endereço seria rue de Stade, 7, Rouiba, Argélia.
O mesmo selo informa o Brasil como país de origem da carne, mas aponta como exportador uma empresa sediada na Alemanha, a "International Meat" (carne internacional).
Em consulta ao Ministério da Agricultura, a Receita foi informada de que o carregamento encontrava-se "em desacordo com a legislação vigente" e foi recomendada a destruição da carne. Adesivos colados nas caixas indicavam, em inglês, a data de validade da carne como sendo 5 de outubro de 2007.
Segundo a Receita, a opção de enterrar a carne foi escolhida por ser a que "respeita mais o ambiente".


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