|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vizinhos saqueiam carne enterrada pelo Exército no Rio
Parte das 76,1 toneladas de carne "sem condições de uso", que estavam em área militar, foi usada em churrascos
Até ontem, ninguém havia sido atendido nos postos de saúde e no hospital da região com problemas relacionados à alimentação
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Parte de um carregamento
de 76,1 toneladas de caixas de
carne "sem condições de uso",
segundo a Receita Federal e o
Ministério da Agricultura, foi
desenterrada de uma área militar e serviu de matéria-prima
para churrascos de moradores
de Ricardo de Albuquerque, zona norte do Rio.
As peças transportadas do
porto do Rio pelo Exército para
a área militar terminaram na
churrasqueira dos vizinhos do
CIG (Campo de Instrução de
Gericinó), onde haviam sido
enterradas. Apesar de a carne
estar "sem condições de uso",
ninguém foi atendido nos postos de saúde e no hospital da região com problemas relacionados à alimentação.
Na quinta-feira, um caminhão do Exército despejou as
caixas-o peso equivale ao de
85 veículos Pálio Fire- em um
buraco no campo de Gericinó a
pedido da Receita Federal. Logo depois, vizinhos do terreno
invadiram o local pela rua Boaçu e desenterraram as carnes.
As caixas eram carregadas por
famílias inteiras e até em carrinhos de mão.
O Comando Militar do Leste
informou que "o Serviço de Patrulha do CIG percebeu a presença de populares que residem nas imediações do campo
retirando a carne que havia sido enterrada".
Após expulsar os saqueadores, o material foi transferido
para "uma área mais interna",
segundo a nota. No entanto,
militares ainda fechavam o buraco a cerca de 800 metros das
casas ontem pela manhã.
"As conseqüências geralmente aparecem 24 horas depois de a pessoa ingerir o alimento, mas estamos em alerta para qualquer caso", disse o superintendente da Vigilância Sanitária, Victor Berbara, que
afirmou não terem ocorrido casos de infecção alimentar na rede de saúde estadual da região.
No posto de saúde que atende o
bairro, também não houve
atendimentos deste tipo desde
a quinta-feira.
Segundo ele, a ingestão da
carne é "um risco muito grande". "A má conservação da carne faz com que microorganismos se desenvolvam. Eles podem causar desde uma infecção
simples até uma infecção generalizada, desidratação e, dependendo do caso, óbito".
A vigilâncias sanitárias estadual e municipal pretendem fazer uma inspeção no bairro a
partir de amanhã em casas e comércio. Muitos venderam a
carne ou guardaram em casa
para churrasco no Dia dos Pais,
no próximo domingo.
Origem
Receita Federal e Ministério
da Agricultura divergem sobre
origem e destino da carne. Segundo nota da Receita, a carne
veio da Argélia "e foi abandonada pelo importador". Em 5 de
julho, foi feita a Declaração do
Perdimento. Segundo o Ministério da Agricultura, a Argélia
seria o destino, e não a origem
da carne. As caixas têm inscrições apontando como importador de alimentos Sarl Sahby Simex, cujo o endereço seria rue
de Stade, 7, Rouiba, Argélia.
O mesmo selo informa o Brasil como país de origem da carne, mas aponta como exportador uma empresa sediada na
Alemanha, a "International
Meat" (carne internacional).
Em consulta ao Ministério da
Agricultura, a Receita foi informada de que o carregamento
encontrava-se "em desacordo
com a legislação vigente" e foi
recomendada a destruição da
carne. Adesivos colados nas
caixas indicavam, em inglês, a
data de validade da carne como
sendo 5 de outubro de 2007.
Segundo a Receita, a opção
de enterrar a carne foi escolhida por ser a que "respeita mais
o ambiente".
Texto Anterior: Serra autoriza privatização de trecho do Rodoanel Próximo Texto: Moradores vendem caixa de 25 kg do produto por R$ 20 Índice
|