ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião de despedida dos funcionários da Infraero, o brigadeiro José Carlos Pereira fez um desabafo. Disse que quando morrer não quer nenhum político segurando a alça do seu caixão e emendou: "Por favor, se alguém estiver lá, afastem. Nunca precisei de padrinho político e vou morrer sem".
Demitido ontem, ele sugeriu ter sido "atacado pelas costas" e punido porque não tinha padrinho político. "Talvez tenha cometido um grande erro de não ter padrinho político. Isso me deixou vulnerável. A Aeronáutica não pode ser atacada; a Anac tem proteção constitucional muito poderosa."
E comparou a sua situação à de uma guerra. "Quando se vai atacar alguém, um adversário, sempre escolha o lado mais fraco dele. De preferência, pegue pelas costas, dormindo. Na guerra funciona assim, não existe ética."
A Folha teve acesso ao áudio do discurso para os funcionários da empresa. Sem perder o bom humor característico, ele informou que a Infraero "necessitará passar por revisões sérias" que ele não conseguiu implementar porque não tinha força política.
"Todo mundo sabe que a empresa necessitará passar por revisões sérias, e eu não tive condições de fazer essas revisões, não tive mesmo, até por ser tampão [ele nunca foi efetivado], meu mandato foi um tampão gigantesco. Porém, o Sérgio [Gaudenzi] vem com essa missão e com toda a autoridade para fazer as revisões que forem necessárias", disse.
Pereira pediu aos funcionários que ajudem o novo presidente a recuperar a empresa e contou que os dois foram amigos de colégio. "Fizemos o ginásio juntos", disse. E pediu para que não se preocupem com ele porque não chora nem diante de crianças mortas.
"Há muitos anos perdi minha consciência, não tenho absolutamente consciência nenhuma", afirmou. "O que perdi de consciência ganhei em princípios éticos. Não choro diante de uma criança morta, mas discuto eticamente por que ela morreu."


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