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Biblioteca Municipal de SP tem acervo roubado
Furto foi descoberto na quinta-feira, e mais obras podem ter desaparecido; diretor admite envolvimento de funcionários no caso
MARIO CESAR CARVALHO
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Biblioteca Mário de Andrade sofreu um desfalque histórico. Um livro de orações de 1501
impresso em pergaminho, 58
gravuras de Rugendas (1802-1858), 42 de Debret (1768-1848), 12 de Steinmann (1800-1844) e três de Burmeister
(1807-1892) foram furtados da
principal biblioteca pública de
São Paulo.
O Livro das Horas, como é
chamada a obra de 1501, e as
gravuras dos pintores viajantes
do século 19 estavam no setor
de obras raras da Mário de Andrade. O armário de aço no qual
estavam guardados é trancado
por uma chave do tipo tetra; a
sala, localizada na torre de 22
andares, era fechada por cadeado. Só três pessoas têm acesso a
essas duas chaves, segundo
Luís Francisco Carvalho Filho,
diretor da biblioteca.
O livro das Horas é a mais valiosa das obras furtadas. Seu
preço varia de US$ 10 mil a US$
100 mil, dependendo do estado
e se é colorido manualmente,
segundo dois especialistas consultados pela Folha. O livro da
Mário de Andrade tinha as letras que abrem os capítulos
pintadas a mão. O valor do livro
de Steinmann, que tem 12 gravuras, vai de US$ 10 mil a US$
20 mil. Uma gravura de Debret
vale de R$ 1.000 a R$ 2.000.
O furto foi descoberto no final da tarde da última quinta-feira. Uma representante da
empresa Arte 3 discutia com
Carvalho Filho e o curador de
obras raras a possibilidade de a
biblioteca emprestar três gravuras de Burmeister para uma
exposição sobre Aleijadinho.
Quando pegaram o livro, notaram que 3 das 11 gravuras haviam desaparecido.
No dia seguinte, após analisar dois armários de aço que
guardam 10 mil das obras raras
da biblioteca, foi notado o sumiço do livro de 1501 e dos pintores viajantes. As páginas foram cortadas com estilete. Carvalho Filho diz que só fez o
anúncio ontem para não atrapalhar as investigações.
Segundo ele, existe a possibilidade de que mais obras tenham sido furtadas ou mutiladas. A biblioteca tem 40 mil
obras raras.
"O fato é muito grave por várias circunstâncias. Não há sinais de arrombamento. Isso
significa que as rotinas do setor
de obras raras e as chaves foram obtidas por alguém. Sem a
participação de alguém da biblioteca, isso não teria acontecido", disse o diretor.
Nenhuma das obras furtadas
havia sido requisitada recentemente por pesquisadores. O livro de Rugendas, alemão que
ficou no Brasil entre 1821 e
1825, foi consultado pela última vez em 2004. O livro de
Steinmann foi mostrado a um
visitante no primeiro semestre
deste ano.
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