São Paulo, quinta-feira, 07 de setembro de 2006

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Biblioteca Municipal de SP tem acervo roubado

Furto foi descoberto na quinta-feira, e mais obras podem ter desaparecido; diretor admite envolvimento de funcionários no caso

MARIO CESAR CARVALHO
RICARDO GALLO

DA REPORTAGEM LOCAL A Biblioteca Mário de Andrade sofreu um desfalque histórico. Um livro de orações de 1501 impresso em pergaminho, 58 gravuras de Rugendas (1802-1858), 42 de Debret (1768-1848), 12 de Steinmann (1800-1844) e três de Burmeister (1807-1892) foram furtados da principal biblioteca pública de São Paulo.
O Livro das Horas, como é chamada a obra de 1501, e as gravuras dos pintores viajantes do século 19 estavam no setor de obras raras da Mário de Andrade. O armário de aço no qual estavam guardados é trancado por uma chave do tipo tetra; a sala, localizada na torre de 22 andares, era fechada por cadeado. Só três pessoas têm acesso a essas duas chaves, segundo Luís Francisco Carvalho Filho, diretor da biblioteca.
O livro das Horas é a mais valiosa das obras furtadas. Seu preço varia de US$ 10 mil a US$ 100 mil, dependendo do estado e se é colorido manualmente, segundo dois especialistas consultados pela Folha. O livro da Mário de Andrade tinha as letras que abrem os capítulos pintadas a mão. O valor do livro de Steinmann, que tem 12 gravuras, vai de US$ 10 mil a US$ 20 mil. Uma gravura de Debret vale de R$ 1.000 a R$ 2.000.
O furto foi descoberto no final da tarde da última quinta-feira. Uma representante da empresa Arte 3 discutia com Carvalho Filho e o curador de obras raras a possibilidade de a biblioteca emprestar três gravuras de Burmeister para uma exposição sobre Aleijadinho. Quando pegaram o livro, notaram que 3 das 11 gravuras haviam desaparecido.
No dia seguinte, após analisar dois armários de aço que guardam 10 mil das obras raras da biblioteca, foi notado o sumiço do livro de 1501 e dos pintores viajantes. As páginas foram cortadas com estilete. Carvalho Filho diz que só fez o anúncio ontem para não atrapalhar as investigações.
Segundo ele, existe a possibilidade de que mais obras tenham sido furtadas ou mutiladas. A biblioteca tem 40 mil obras raras.
"O fato é muito grave por várias circunstâncias. Não há sinais de arrombamento. Isso significa que as rotinas do setor de obras raras e as chaves foram obtidas por alguém. Sem a participação de alguém da biblioteca, isso não teria acontecido", disse o diretor.
Nenhuma das obras furtadas havia sido requisitada recentemente por pesquisadores. O livro de Rugendas, alemão que ficou no Brasil entre 1821 e 1825, foi consultado pela última vez em 2004. O livro de Steinmann foi mostrado a um visitante no primeiro semestre deste ano.


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