São Paulo, quinta-feira, 07 de setembro de 2006

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CPI associa ex-advogada de chefe do PCC à morte de juiz

Alan Marques/Folha Imagem
A advogada Ariane, que depôs ontem na CPI do Tráfico de Armas


Para relator, telefonemas e visitas mostram que ela intermediou a ordem de assassinato

Ariane dos Anjos negou as acusações, mas não explicou diferenças entre sua movimentação financeira e sua declaração de renda

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI do Tráfico de Armas pretende pedir o indiciamento de Ariane dos Anjos, que já defendeu Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola -chefe da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital)- por participação no assassinato do juiz-corregedor de Presidente Prudente Antonio Machado José Dias, em 2003.
Boa parte de seu depoimento de duas horas e meia ontem à CPI foi considerado "mentiroso" pelos integrantes da comissão. A advogada, que disse não trabalhar mais para Marcola, deu explicações insatisfatórias sobre uma tentativa frustrada de fazer uma visita conjugal no presídio de Presidente Bernardes, em 2005. Parlamentares suspeitam que ela tentava ter contato direto com Marcola.
Além disso, a CPI descobriu que o ex-marido dela era agente penitenciário em Bauru e foi demitido após acusação de ter operado uma central telefônica clandestina para os presos.
Ariane negou envolvimento com o assassinato do juiz e classificou os indícios levantados pela CPI de "coincidências que estão no campo da suposição". Porém, o relator, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), diz que o cruzamento de ligações telefônicas e visitas a presos mostram que ela intermediou a ordem de assassinato entre Marcola e membros do PCC.
O elo da comunicação seria Priscila Maria dos Santos, acusada pela polícia de operar uma "central telefônica" do PCC.
Na véspera do assassinato, foi feita uma ligação de Ariane para Priscila. Poucas horas antes do crime, Ariane visitou Marcola por duas horas no presídio de Avaré. Um minuto após o crime, recebeu outra ligação de Priscila, de oito segundos. Para a CPI, foi uma chamada só para confirmar o crime.
Com tom que variava entre irônico e assertivo, Ariane repetiu diversas vezes que nunca levou seu celular para um presídio e que nunca transmitiu ordens ou recados de Marcola ou de seus outros clientes que integram o primeiro escalão do PCC. Ariane também já advogou para Priscila, Mário Élcio da Silva e Luiz Henrique Fernandes -todos ligados à facção.
Segundo ela, os telefonemas foram atendidas por sua mãe ou secretária, que ficam no carro com o celular enquanto ela entra nas prisões. Mas seu depoimento caiu em descrédito. Pressionada, reconheceu que declarou falsamente ter uma união estável de dois anos com um preso, que estava no mesmo pavilhão de Marcola, mas negou que o objetivo fosse se encontrar com o chefe do PCC. "Sou uma advogada inteligente, mas nesse caso fui meio burra."
Além disso, ela não conseguiu explicar discrepâncias entre sua movimentação financeira e sua declaração de renda ou a listagem de seu nome em livro de contabilidade do PCC.


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