São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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Apoio a fumante é necessário, diz médico

Para especialistas, tratamento deve privilegiar pobres; fumante gasta R$ 2 com cigarro e R$ 10 com remédios

DA REPORTAGEM LOCAL

Especialistas no combate ao tabagismo defendem o apoio estatal na oferta de tratamento para quem quiser parar de fumar. Defendem, porém, o acesso da população de renda baixa.
"Não tem cabimento existir uma lei de restrição se não oferece a mão para o tratamento. São coisas que tem de andar em paralelo. Não tem como restringir sem tratar, porque o tabagista é um dependente", disse a cardiologista Jaqueline Issa, coordenadora do Ambulatório de Tratamento do Tabagismo do InCor.
Para a médica, a ajuda é mais importante para as pessoas pobres porque esse tipo de fumante considera o cigarro mais barato do que o remédio.
Pela estimativa da pesquisadora, um fumante de baixa renda gasta entre R$ 1 e R$ 2 por dia com cigarros. O tratamento custa de R$ 5 a R$ 7, similar ao tratamento do SUS, e R$ 10 ao dia, pelo remédio dos atendimentos privados (Vareniclina).
"Só que ela [a pessoa] não tem como financiar a diferença desse valor. R$ 1 ou R$ 2 ela tem, mas na farmácia não vai gastar R$ 7 por dia. Vai ter que comprar o mês, ou semana de tratamento. Tem impacto econômico substancial", afirmou.
A médica também diz que as recomendações dadas pelo Ministério da Saúde por telefone -chupar bala e mascar chiclete- são uma demonstração da existência de técnicas desatualizadas no auxílio ao fumante.
"Isso existia quando não se conhecia a dependência. Hoje, sabe-se como os receptores cerebrais funcionam. Quem não entende isso, o nervosismo, a ansiedade, não pode combater o tabagismo. Não dá para encarar nesse aspecto: "Respira fundo, conta até dez que passa -a vontade vem, mas depois passa." Depois de quanto tempo? Isso é um papo idiota", disse.
Pesquisa da psiquiatra Célia Costa, do grupo de Apoio ao Tabagista do Hospital A.C. Camargo (Hospital do Câncer), aponta que 50% dos pacientes acompanhados precisam de remédio -30% deles sofrem dependência relativa e 20%, dependência grave.
Sem o acompanhamento médico, segundo Célia, o tratamento não é eficaz. "Não adianta a gente chegar e dizer que precisa parar de fumar sem darmos condições para isso. Estamos falando de dependência, a dificuldade que é a pessoa parar por sua conta. Há necessidade de suporte", afirmou ela.
Célia considera que a falta de centros de auxílio na capital atrapalha a progressão da queda no número de fumantes. "Os estudos falam em seis meses nesse processo da pessoa decidir parar de fumar. Quando a pessoa decide, não tem onde [recorrer]. A pessoa tende a desistir mesmo", afirmou ela.
A médica disse que o correto seria haver equipes especializadas em todas as unidades de saúde. "Deveria ser oferecido em todos os postos de saúde, uma coisa muito básica. Básico e simples. Se pensarmos que a longo prazo isso pode determinar o desencadear de uma série de doenças, aí assim nós vamos precisar de gastos e de atendimentos mais especializados", afirmou Célia.
O psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, presidente do Grea (Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas) do Instituto de Psiquiatria do HC (Hospital das Clínicas), disse que o tabagismo precisa ser visto como um problema de saúde. "Tabagismo é uma doença. Não é falta de caráter nem de vontade", afirmou ele.


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