São Paulo, terça, 7 de outubro de 1997.



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Ex-terceiro-sargento diz que não houve agressões quando esteve na ação
Policial solto do caso Diadema nega crimes na favela Naval

da FT

O ex-terceiro-sargento Reginaldo José dos Santos nega que tenha praticado qualquer crime na favela Naval, em Diadema (Grande SP) e diz que agora quer recomeçar a vida.
Ele foi solto na semana passada por determinação do Tribunal de Justiça, que excluiu a acusação de formação de quadrilha contra os réus. (SÍLVIA CORRÊA)

Pergunta - Como as ações foram determinadas?
Reginaldo José dos Santos -
Há uma escala de serviço. Quem determina é o comandante.
Pergunta - Quem determinou as blitze na Naval?
Santos -
Eram blitze para combater o tráfico em Diadema. Na época, era o coronel Matheus (tenente-coronel Pedro Pereira Matheus).
Pergunta - Que dias o sr. participou da ação na Naval?
Santos -
Para mim aquilo não foi ação. Para mim aquilo ali era um serviço normal. Eu trabalhei normalmente no dia 4 e no dia 6 de março. No dia 4, fiquei 12 minutos lá, parado. Revistamos uns dois, três carros; três, quatro pessoas. E a fita mostra uma abordagem lícita.
Pergunta - Vocês estavam em patrulhamento e passaram na favela?
Santos -
É. Abordamos algumas pessoas no dia 4.
Pergunta - E no dia 6?
Santos -
No dia 6 mudaram os horários. Passamos a entrar às 18h. Era o primeiro dia do aspirante Góes com a gente à noite. O aspirante conversou com todos nós. Tinha uma desapropriação no dia 7 e três policiais que teriam que estar lá ainda não tinham sido avisados. O aspirante passou a missão para mim e nesse dia eu não fui à Naval. Góes perguntou pelos pontos negros e eu falei as favelas da Coca, Naval e do Arco-Íris.
Pergunta - O sr. chegou sozinho?
Santos -
Eu e meu motorista, o soldado Bonfim.
Pergunta - O motorista estava em trajes civis?
Santos -
O civil estava de carona comigo. Um amigo do soldado Bonfim que arruma muitas viaturas da PM... Ele estava no largo de Piraporinha e iria até o Jardim Promissão e demos uma carona para ele. Aí cheguei lá. Foi a hora que o Volks saiu e falaram que eu furei o pneu. O pneu estava manchado, pensei que era sangue e fui dar uma olhada. Passei a tampa da caneta nos dois pneus.
Pergunta - Quando o sr. ficou sabendo do disparo?
Santos -
Umas 3h. Nós não sabíamos um monte de coisa. O disparo foi depois que eu passei lá. Eu soube da fita no dia 26.
Pergunta - O sr. quer a reintegração porque quer voltar ou porque é a única opção?
Santos -
Eu gosto da PM (chora). Dezoito anos da minha vida jogados. Eu choro quando lembro negócio de ladrão, que eu estava roubando dinheiro. Aí dizem que você pediu dinheiro para reportagem. Por mim eu teria sumido.



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