São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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FUMO

Inca optou por trabalhar com grupo treinado por seus profissionais, sem considerar instituições antitabagistas em operação

Unidade em hospital não foi cadastrada

DA REPORTAGEM LOCAL

Se o programa do Ministério da Saúde tivesse contemplado instituições importantes que já trabalham com fumantes, o número de centros cadastrados já seria mais de dez, apenas em São Paulo.
Hospital do Câncer, Hospital das Clínicas, Instituto de Psiquiatria, Instituto do Coração, Santa Casa, Beneficência Portuguesa e Proad, um dos programas Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), são algumas delas.
"Soubemos do programa do ministério pelos jornais e ainda não fomos convidados para participar", diz Maria Teresa Cruz Lourenço, coordenadora do Grupo de Apoio ao Tabagista do Hospital do Câncer. "Nosso grupo funciona há cinco anos, exatamente dentro das regras estabelecidas pelo Inca." O Instituto Nacional do Câncer, órgão do Ministério da Saúde, é que comanda as ações contra o cigarro.
"O Inca adotou uma postura centralizadora, só cadastrando centros que ele havia treinado", diz Ronaldo Laranjeira, presidente da Abead, Associação Brasileira de Álcool e Drogas, e da Uniad, Unidade de Álcool e Drogas da Unifesp/Hospital São Paulo.
Na sua opinião, diante do imenso número de fumantes, o Inca deveria ter aberto para a participação do maior número possível de unidades. "O programa é bom, mas tem amplitude muito pequena. O treinamento deve ser descentralizado, do contrário vamos levar anos treinando pessoas."
Um dos méritos do programa do governo foi reconhecer a dependência do cigarro como uma doença. O uso dos adesivos e chicletes de nicotina, assim como o antidepressivo e as terapias, passam a ser remunerados pelo SUS. O pagamento é feito depois de a instituição apresentar a conta.
O problema é que, ao lidar com grande número de centros e de pacientes, o ministério acabou impondo consensos e regras que dividem os especialistas. Muitas instituições adotam terapias diferentes da cognitiva-comportamental, determinada na portaria.
"Não se pode falar em consenso para um tratamento que vai ajudar, na melhor das hipóteses, apenas um terço dos pacientes", diz Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Proad. Na sua opinião, diante da baixa eficácia dos tratamentos, e do grande contingente de dependentes, o governo deveria incentivar o maior número de instituições e de variedade de intervenções possíveis.
Para o Inca, programa teve participação de sociedades médicas e adotou consenso internacional.
(AURELIANO BIANCARELLI)


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