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São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

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SEGURANÇA

Cerca de mil pessoas participaram de ato; categoria reivindica 47% de aumento, mas governo diz que não é possível negociar

Policiais fazem protesto por reajuste salarial

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Com um caixão que simbolizava o enterro da política de segurança pública do governo Alckmin, cerca de mil pessoas, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), fizeram ontem uma passeata por reajustes salariais para policiais civis e militares de São Paulo. Os manifestantes -em grande parte mulheres e policiais aposentados- foram do Palácio da Polícia à Secretaria da Segurança Pública, ambos no centro de São Paulo.
As perdas salariais da categoria nos últimos cinco anos chegam a 46,9%, segundo o delegado Carlos Eduardo Benito Jorge, porta-voz do Movimento Salarial da Polícia Paulista e Segurança para Todos, que congrega 41 entidades.
O secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, disse ontem, em reunião com os líderes do movimento, que não irá conceder o reajuste.
Segundo Jorge, que também preside a Associação dos Delegados de Polícia do Estado, o governo deu duas "migalhas" de reajuste em 2001 e 2002, de 7% e 5%, respectivamente. Caso não haja reposição, Jorge afirma que os policiais poderão parar.
Ontem, porém, o tom da manifestação não era de greve e sim de alerta para a situação das categorias. "Eu faço rodízio para pagar as contas, no mês em que pago a luz, não pago a água, prestando atenção para não chegar a cortar o serviço", disse a mulher de um PM, que não quis se identificar.
"Lá em casa a gente já cortou o plano de saúde, trocou o carro por um mais velho e paramos de viajar nas férias", reclama o policial civil João Carlos de Lima, 50, que saiu de Ribeirão Preto para participar da manifestação.
A delegada aposentada Maria Lima Matos, 60, participou do protesto com as mãos algemadas. "Essas algemas são para demonstrar que a polícia está com as mãos atadas, sem condições de trabalhar", afirmou.
Nem todos, porém, foram solidários à situação dos policiais. Assim que passou ao lado da praça da República (centro), a passeata chamou a atenção de outro grupo, que protestava na frente da Secretaria da Educação contra maus-tratos em unidades da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor).
Formado principalmente por mães de internos e representantes de ONGs ligadas a direitos humanos, o grupo foi ao encontro dos policiais, chamando-os de assassinos. Os organizadores do ato, porém, logo levaram os manifestantes novamente para a frente da Secretaria da Educação.

Reunião
Nenhum acordo foi estabelecido ontem entre os manifestantes e o secretário Saulo de Castro Abreu Filho. "Se o Judiciário disser que a polícia é tão diferente a ponto de poder ter um aumento imediatamente, mesmo no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal, aí passa a ser um assunto político. Hoje nós temos uma barreira intransponível que é a lei", afirma.
Em nota, a secretaria divulgou que, entre 1995 e 2003, concedeu reajustes de 381,25% para soldados em início de carreira e de 78,35% para investigadores que também estejam no início do cargo. Ambos recebem R$ 1.220.
Para os delegados, segundo o órgão, foi concedido um reajuste de 45,92% -o salário passou de R$ 1.747,49 para R$ 2.550.
A categoria afirma que esse é o penúltimo salário mais baixo do cargo no país, à frente apenas da Bahia, onde o salário de delegados em início de carreira é de R$ 2.128. No Mato Grosso do Sul, o salário é de R$ 7.114. No Piauí, R$ 5.400.
Na manhã de hoje, os presidentes das 41 entidades que integram o movimento irão se reunir para marcar a data de um novo protesto -provavelmente uma passeata até o Palácio dos Bandeirantes, no próximo dia 20. Segundo Jorge, a possibilidade de uma paralisação não está descartada.
A greve, porém, seria ilegal, segundo o advogado criminalista Luiz Flávio Borges D'Urso, conselheiro da OAB. "A reivindicação dos policiais é justa, mas há meios para que isso se realize independentemente de uma paralisação."


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