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SEGURANÇA
Cerca de mil pessoas participaram de ato; categoria reivindica 47% de aumento, mas governo diz que não é possível negociar
Policiais fazem protesto por reajuste salarial
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Com um caixão que simbolizava o enterro da política de segurança pública do governo Alckmin, cerca de mil pessoas, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), fizeram ontem uma passeata por reajustes
salariais para policiais civis e militares de São Paulo. Os manifestantes -em grande parte mulheres e policiais aposentados- foram do Palácio da Polícia à Secretaria da Segurança Pública, ambos no centro de São Paulo.
As perdas salariais da categoria
nos últimos cinco anos chegam a
46,9%, segundo o delegado Carlos
Eduardo Benito Jorge, porta-voz
do Movimento Salarial da Polícia
Paulista e Segurança para Todos,
que congrega 41 entidades.
O secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, disse ontem, em reunião com
os líderes do movimento, que não
irá conceder o reajuste.
Segundo Jorge, que também
preside a Associação dos Delegados de Polícia do Estado, o governo deu duas "migalhas" de reajuste em 2001 e 2002, de 7% e 5%, respectivamente. Caso não haja reposição, Jorge afirma que os policiais poderão parar.
Ontem, porém, o tom da manifestação não era de greve e sim de
alerta para a situação das categorias. "Eu faço rodízio para pagar
as contas, no mês em que pago a
luz, não pago a água, prestando
atenção para não chegar a cortar o
serviço", disse a mulher de um
PM, que não quis se identificar.
"Lá em casa a gente já cortou o
plano de saúde, trocou o carro
por um mais velho e paramos de
viajar nas férias", reclama o policial civil João Carlos de Lima, 50,
que saiu de Ribeirão Preto para
participar da manifestação.
A delegada aposentada Maria
Lima Matos, 60, participou do
protesto com as mãos algemadas.
"Essas algemas são para demonstrar que a polícia está com as
mãos atadas, sem condições de
trabalhar", afirmou.
Nem todos, porém, foram solidários à situação dos policiais. Assim que passou ao lado da praça
da República (centro), a passeata
chamou a atenção de outro grupo, que protestava na frente da
Secretaria da Educação contra
maus-tratos em unidades da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor).
Formado principalmente por
mães de internos e representantes
de ONGs ligadas a direitos humanos, o grupo foi ao encontro dos
policiais, chamando-os de assassinos. Os organizadores do ato,
porém, logo levaram os manifestantes novamente para a frente da
Secretaria da Educação.
Reunião
Nenhum acordo foi estabelecido ontem entre os manifestantes e
o secretário Saulo de Castro
Abreu Filho. "Se o Judiciário disser que a polícia é tão diferente a
ponto de poder ter um aumento
imediatamente, mesmo no limite
da Lei de Responsabilidade Fiscal,
aí passa a ser um assunto político.
Hoje nós temos uma barreira intransponível que é a lei", afirma.
Em nota, a secretaria divulgou
que, entre 1995 e 2003, concedeu
reajustes de 381,25% para soldados em início de carreira e de
78,35% para investigadores que
também estejam no início do cargo. Ambos recebem R$ 1.220.
Para os delegados, segundo o
órgão, foi concedido um reajuste
de 45,92% -o salário passou de
R$ 1.747,49 para R$ 2.550.
A categoria afirma que esse é o
penúltimo salário mais baixo do
cargo no país, à frente apenas da
Bahia, onde o salário de delegados
em início de carreira é de R$ 2.128.
No Mato Grosso do Sul, o salário é
de R$ 7.114. No Piauí, R$ 5.400.
Na manhã de hoje, os presidentes das 41 entidades que integram
o movimento irão se reunir para
marcar a data de um novo protesto -provavelmente uma passeata até o Palácio dos Bandeirantes,
no próximo dia 20. Segundo Jorge, a possibilidade de uma paralisação não está descartada.
A greve, porém, seria ilegal, segundo o advogado criminalista
Luiz Flávio Borges D'Urso, conselheiro da OAB. "A reivindicação
dos policiais é justa, mas há meios
para que isso se realize independentemente de uma paralisação."
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