UOL


São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONTRABANDO

Bilhetes indicam que criminoso comanda quadrilha de dentro da prisão

Lobão ainda controla negócios, diz CPI

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Bilhetes encontrados ontem no bolso do contrabandista de cigarros Roberto Eleutério da Silva, o Lobão, durante depoimento na CPI da Pirataria da Câmara, mostraram, segundo os deputados, que ele mantém o controle dos negócios de sua quadrilha mesmo preso na carceragem da Polícia Federal de São Paulo.
Lobão está preso desde o dia 3 de setembro e foi levado à CPI ontem por policiais federais. Um deles encontrou cinco bilhetes escritos a mão ao revistar Lobão quando ele estava no banheiro, no intervalo do depoimento à CPI.
Três bilhetes traziam orientações do que ele deveria falar ao juiz, à polícia e aos deputados e outro informava o endereço de uma fábrica no Paraguai que pertenceria ao contrabandista.
O quinto bilhete seria o mais comprometedor, segundo os deputados. A mensagem traz valores em dólares e guaranis (moeda paraguaia). A comercialização de 5.000 caixas, provavelmente de cigarros, é avaliada em US$ 225 mil, por exemplo. O lucro ficaria em US$ 45 mil.
Os deputados interpretam esse bilhete como uma prestação de contas ou um orçamento. Não se sabe se Lobão recebeu ou iria repassar essa mensagem a outra pessoa. "Os bilhetes mostram que Lobão continua no comando de sua quadrilha, apesar de preso", afirmou o presidente da CPI, Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP).
Os deputados desconfiaram quando Lobão fez o gesto de colocar a mão no bolso durante seu depoimento. Pensava-se que ele pudesse ter dinheiro, o que é proibido a um preso. No banheiro, o agente encontrou os bilhetes. A apreensão foi testemunhada por outro policial e dois deputados.
Lobão deu duas versões sobre os bilhetes. Primeiro, disse que seria um resumo do que iria falar no depoimento a um juiz federal. Quando viu os bilhetes, acusou o agente federal de ter colocado as mensagens no seu bolso para incriminá-lo. No fim do depoimento, um delegado da PF falou com Lobão e gravou a conversa sem que o contrabandista soubesse.
Na gravação, mostrada depois na CPI, o delegado pergunta por que ele acusou o agente e Lobão responde: "Eu não tinha outra saída. Ele não tinha que me revistar". Lobão também afirmou, na gravação, que saiu da carceragem com os bilhetes.
Segundo o delegado Wagner Castilho, assessor de comunicação da PF, Lobão deve ter recebido os bilhetes depois de sair da carceragem. "É ele quem diz que trouxe da carceragem. É claro que ele quer incriminar aqueles que descobriram os bilhetes."
Antes tranquilo e irônico com os deputados, Lobão ficou nervoso depois da apreensão dos bilhetes. "Isso é coisa de louco", resumiu. No começo do depoimento, ele desafiou os deputados a mostrar as provas.
"Dizem que sou um contrabandista. E onde estão as mercadorias?", questionou Lobão. Mas ele entrou em contradição ao afirmar que trabalhava fora do país. Depois disse ter se enganado. Quando os deputados insistiram, passou a dizer que só falaria em juízo. Na Justiça Federal, à tarde, voltou a negar as acusações.


Texto Anterior: Segurança: Policiais fazem protesto por reajuste salarial
Próximo Texto: Ofício tentou dissolver grupo de agentes
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.