|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DIREITOS HUMANOS
Asma Jahangir fez críticas às autoridades
Para relatora da ONU, visita ao Rio de Janeiro foi decepcionante
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de ouvir relatos de assassinatos em que os principais acusados são policiais, a relatora da
ONU (Organização das Nações
Unidas) para execuções sumárias,
Asma Jahangir, disse que, diante
do que está sendo feito no Rio para combater o problema, "não vai
se conseguir justiça".
Jahangir disse que considerou
"decepcionante" a conversa com
algumas autoridades do Estado
do Rio e criticou especificamente
o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos
Santos, por não apresentar dados
sobre o número de mortos sob
custódia do Estado.
"Parece-me que ele não é uma
pessoa séria", disse a relatora na
frente de Santos, depois de uma
reunião, na noite de ontem, da
qual participaram também os secretários de Segurança, Anthony
Garotinho, e de Direitos Humanos, João Luiz Pinaud.
Na mesma entrevista, entretanto, ela reconheceu que "realidades
muito duras foram muito bem
aceitas" pelos representantes do
Estado. Mas reiterou as críticas
que já havia feito, durante o dia, à
ouvidora de Polícia, Maria do
Carmo Alves, "que nem sabia de
quanto tempo era o mandato dela, pois disse que era de um ano".
Garotinho disse que são quatro.
Antes da reunião com a cúpula
estadual da segurança, Jahangir já
havia criticado a falta de independência, a falta de dados ou a existência de informações conflitantes no que lhe foi dito por Santos,
por Alves e pelo procurador-geral
de Justiça do Estado, Antônio Vicente da Costa Júnior. "Ou eles
não entendem ou não têm sensibilidade para o que vem ocorrendo com os filhos do Rio", disse Jahangir, em uma audiência pública
da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa.
A relatora criticou o fato de Santos não ter informações sobre
mortes em presídios nos últimos
três anos, à exceção da do comerciante Chan Kim Chang, que
morreu após ter sido torturado
no presídio Ary Franco, em agosto. "Se não tivesse ocorrido esse
caso, eu pergunto o que ele teria a
me dizer", afirmou a relatora.
Sobre a ouvidora, disse que Alves deu-lhe boas-vindas por 20 segundos e que depois a conversa
foi conduzida por seus assessores,
um policial civil e um militar. Ela
elogiou o vice-governador Luiz
Paulo Conde (PMDB), que lhe incentivou a continuar o trabalho.
Mães
Como aconteceu anteontem no
morro do Borel, Jahangir chorou
ao ouvir relatos de parentes de vítimas da violência policial no Rio.
"Parece que a qualquer hora o
meu filho vai abrir a porta e vai
me chamar: "Mãe". O meu menino
só tinha 16 anos", disse Márcia de
Oliveira Silva, mãe de Henri Silva,
morto em novembro de 2002.
Jahangir disse que os parentes
das vítimas não precisam ficar
tentando limpar o nome de seus
filhos ou irmãos. "Nenhuma sociedade civilizada deu à polícia o
direito de julgar e matar."
Colaborou FABIANA CIMIERI
Texto Anterior: Outro lado: Governo diz já ter consciência da "gravidade" Próximo Texto: Outro lado: Secretaria afirma que pode ter havido "engano" com a tradução Índice
|