UOL


São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIREITOS HUMANOS

Asma Jahangir fez críticas às autoridades

Para relatora da ONU, visita ao Rio de Janeiro foi decepcionante

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de ouvir relatos de assassinatos em que os principais acusados são policiais, a relatora da ONU (Organização das Nações Unidas) para execuções sumárias, Asma Jahangir, disse que, diante do que está sendo feito no Rio para combater o problema, "não vai se conseguir justiça".
Jahangir disse que considerou "decepcionante" a conversa com algumas autoridades do Estado do Rio e criticou especificamente o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, por não apresentar dados sobre o número de mortos sob custódia do Estado.
"Parece-me que ele não é uma pessoa séria", disse a relatora na frente de Santos, depois de uma reunião, na noite de ontem, da qual participaram também os secretários de Segurança, Anthony Garotinho, e de Direitos Humanos, João Luiz Pinaud.
Na mesma entrevista, entretanto, ela reconheceu que "realidades muito duras foram muito bem aceitas" pelos representantes do Estado. Mas reiterou as críticas que já havia feito, durante o dia, à ouvidora de Polícia, Maria do Carmo Alves, "que nem sabia de quanto tempo era o mandato dela, pois disse que era de um ano". Garotinho disse que são quatro.
Antes da reunião com a cúpula estadual da segurança, Jahangir já havia criticado a falta de independência, a falta de dados ou a existência de informações conflitantes no que lhe foi dito por Santos, por Alves e pelo procurador-geral de Justiça do Estado, Antônio Vicente da Costa Júnior. "Ou eles não entendem ou não têm sensibilidade para o que vem ocorrendo com os filhos do Rio", disse Jahangir, em uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa.
A relatora criticou o fato de Santos não ter informações sobre mortes em presídios nos últimos três anos, à exceção da do comerciante Chan Kim Chang, que morreu após ter sido torturado no presídio Ary Franco, em agosto. "Se não tivesse ocorrido esse caso, eu pergunto o que ele teria a me dizer", afirmou a relatora.
Sobre a ouvidora, disse que Alves deu-lhe boas-vindas por 20 segundos e que depois a conversa foi conduzida por seus assessores, um policial civil e um militar. Ela elogiou o vice-governador Luiz Paulo Conde (PMDB), que lhe incentivou a continuar o trabalho.

Mães
Como aconteceu anteontem no morro do Borel, Jahangir chorou ao ouvir relatos de parentes de vítimas da violência policial no Rio.
"Parece que a qualquer hora o meu filho vai abrir a porta e vai me chamar: "Mãe". O meu menino só tinha 16 anos", disse Márcia de Oliveira Silva, mãe de Henri Silva, morto em novembro de 2002.
Jahangir disse que os parentes das vítimas não precisam ficar tentando limpar o nome de seus filhos ou irmãos. "Nenhuma sociedade civilizada deu à polícia o direito de julgar e matar."


Colaborou FABIANA CIMIERI


Texto Anterior: Outro lado: Governo diz já ter consciência da "gravidade"
Próximo Texto: Outro lado: Secretaria afirma que pode ter havido "engano" com a tradução
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.