|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Juiz alega haver corruptos livres e solta acusado de furto
Pobre e negro, rapaz de 20 anos foi preso por pequeno furto em residência em Goiás
Magistrado considerou pouco razoável mantê-lo detido enquanto "políticos desviam fortunas e sequer passam diante de uma delegacia"
ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA
Um juiz de Goiás determinou, no fim da tarde de anteontem, a soltura de um rapaz acusado de furto qualificado por
considerar injusto e pouco razoável mantê-lo preso enquanto "políticos e administradores
públicos desviam fortunas dos
cofres públicos e sequer passam diante de uma delegacia".
Segundo a decisão do juiz
Adegmar José Ferreira, da 10ª
Vara Criminal de Goiânia,
manter Maxwell Messias de
Sousa, 20, detido seria continuar "socializando a pobreza
por meio dos mecanismos penais impostos pelo sistema jurídico do país".
Acatando o pedido da defesa
e o parecer do Ministério Público, Ferreira determinou a expedição de alvará de soltura do
réu após a audiência de instrução. O rapaz é acusado por um
pequeno furto em uma casa. O
juiz não disse o que foi levado.
"É uma situação de extrema
pobreza. Ele não arrumava emprego, é uma pessoa negra, um
rapaz novo, de 20 anos de idade, e eu resolvi colocá-lo em liberdade imediatamente por
entender que a prisão dele foi
absurda, considerando os parâmetros da Justiça brasileira,
principalmente o tratamento
dispensado aos crimes administrativos e em determinados
setores da política", disse o juiz.
Para o magistrado, o momento atual é ideal para abrir esse
tipo de discussão, uma vez que
o país vem de uma série de escândalos de corrupção política
e de um processo de escolha
dos representantes dos poderes Legislativo e Executivo.
"Em um país em que a sociedade elege determinados caciques da política para a administração pública e reelege tantas
e quantas vezes, apesar de eles
saquearem os cofres públicos, a
própria sociedade está concordando que o juiz coloque em liberdade um coitadinho que
tem mais razão [para o furto]".
"A partir do momento que algumas pessoas se reelegem
com absoluta maioria de votação, o Judiciário deve ser um
pouco mais crítico, logicamente, sem ser inconseqüente",
afirmou o juiz, lembrando que
o rapaz não era acusado por nenhum crime grave e não oferece risco à convivência social.
Ferreira recordou ainda episódios recentes de condenações a pessoas acusadas por pequenos crimes, como furto de
xampu, sabão em pó e comida,
além de outros episódios que
considerou de baixa gravidade,
tendo em vista que delitos mais
sérios nem sempre são julgados
com a mesma rigidez.
O rapaz foi autuado por furto
qualificado no dia 21. No processo, é representado pela advogada Vania Maria B. Petrus
Costa, da Defensoria Pública,
um benefício oferecido pelo
Estado aos que não têm condições de contratar advogados.
Como argumentos para sustentar o pedido de liberdade de
seu cliente, Costa enfatizou que
Sousa "é réu primário, possui
residência fixa e reside na companhia de seus tios". O rapaz
responderá em liberdade ao
processo, com a condição de
comparecer a todos os atos previstos na tramitação da ação.
Texto Anterior: Outro lado: Advogado de suspeito não é localizado Próximo Texto: Prefeitura de SP interdita loja da Ferrari Índice
|