São Paulo, Domingo, 07 de Novembro de 1999
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POR QUÊ?


Como o estudante de medicina que matou 3 no MorumbiShopping, 1% dos adultos sofre de esquizofrenia ou de outro distúrbio mental, mas é necessário um coquetel de fatores para desencadear um acesso violento

Fotomontagem Evelson de Freitas/Folha Imagem
O estudante de medicina Mateus da Costa Meira, que atirou contra platéia de cinema de onde julgou virem vozes que o perseguiam


AURELIANO BIANCARELLI
PRISCILA LAMBERT

da Reportagem Local

Pelos números frios das estatísticas, cada sessão de cinema com cerca de cem espectadores pode esconder um Mateus, o estudante que matou três pessoas no MorumbiShopping na noite da quarta-feira. Segundo estudos, 1% dos adultos sofre de esquizofrenia ou outro de tipo de paranóia.
Para que um doente mental se transforme em assassino, no entanto, é necessário uma conjunção de tantos fatores que os eventos violentos se reduzem a episódios esporádicos.
Foi o que aconteceu com Mateus da Costa Meira, dizem os especialistas. Ele estava mergulhado num caldo tão conturbado que seus delírios o levaram a planejar um atentado onde pouco importava quem seriam os alvos.
Meira morava longe da família, não tinha amigos, vivia o estresse de um curso de medicina disputado, abandonou tratamentos e medicamentos, usava drogas e envolveu-se com traficantes. Seu distúrbio psiquiátrico, que pode ter origem genética ou fisiológica, foi apenas o gatilho detonador.
Em geral, o doente mental é a vítima, não a ameaça, diz Valentim Gentil, professor titular de psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. "A maior parte dos portadores de transtornos mentais sofre muito mais do que causa sofrimento a outras pessoas."
Para Jair Mari, professor titular de psiquiatria da Unifesp, o risco aumenta quando o portador de um transtorno mental usa drogas, não adere ao tratamento, sente-se rejeitado, estressado e ainda tem acesso a armas. "Mas a grande maioria de nossos pacientes não causa mal a ninguém."
Segundo ele, pesquisa realizada nos EUA concluiu que, se toda a população de esquizofrênicos fosse retirada do país, os índices de violência cairiam de 2% a 3%.
Como fatores desencadeadores da violência, o psiquiatra forense Guido Palomba cita uma série de fatores psicossociais, como a fome, o trabalho excessivo, o estresse, o abandono. "Pobreza e riqueza podem desencadear a violência", diz.
"Mas a competitividade, o estresse da luta por espaço contribuem para o disparo da arma por pessoas predispostas."


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