São Paulo, Domingo, 07 de Novembro de 1999
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RISCO
Esquizofrênicos têm de 5 a 6 vezes mais chances de se envolver com a Justiça, mas assassinatos são raros
Surto desencadeia acesso de violência



da Reportagem Local


A associação entre alguns transtornos mentais e a violência existe e é científica, embora os especialistas ressaltem que a incidência de atos extremos, como assassinatos, é muito pequena.
Entre as dezenas de variações desses transtornos, algumas se destacam como mais prováveis de apresentar risco de violência.
Pessoas que sofrem de esquizofrenia se envolvem em problemas que acabam na Justiça com cinco ou seis vezes mais frequência que a população em geral.
"Mas raramente são atos tão violentos como homicídios, mas infrações pequenas", afirma Jair Mari, professor titular de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
O esquizofrênico é aquele que tem surtos psicóticos com idéias delirantes -tem mania de perseguição, ouve vozes. É durante esses surtos que ele sente necessidade de reagir contra os "perseguidores", em alguns casos, violentamente. É esse o diagnóstico do estudante Mateus da Costa Meira, segundo seu psiquiatra, José Cássio Nascimento Pitta.
O esquizofrênico não consegue se relacionar afetivamente e suas idéias podem ser desagregadas -ou seja, em sua fala, as frases são soltas, embaralhadas.
A principal diferença entre o esquizofrênico e o paranóico é que este tem a personalidade mais preservada, não tem distúrbios afetivos nem pensamento desagregado. Ele tem delírios de perseguição e de ciúmes (pode agredir a mulher porque ela passou batom para ir à padaria).
Outro distúrbio que está relacionado à violência é o transtorno de personalidade anti-social, ou seja, o psicopata. Ele tem uma falha de caráter, é frio, impulsivo e, diferentemente dos outros, tem plena consciência de seus atos. É o caso, por exemplo, do motoboy Francisco de Assis Pereira, o "maníaco do parque".
A periculosidade é expressivamente maior, segundo especialistas, em um portador de um desses transtornos mentais que seja dependente de álcool ou drogas, como a cocaína ou o crack -a dependência química é mais uma situação de distúrbio mental.
"As drogas e o álcool, mesmo para pessoas que não apresentam outro transtorno, são muito mais nocivos para a sociedade pelas distorções de percepção e agressividade que provocam", diz Valentim Gentil, professor titular de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.
Para todos esses transtornos há tratamentos considerados eficazes, com medicação e acompanhamento psiquiátrico, o que permite o controle dos surtos.
No entanto, esse controle fica prejudicado nos pacientes que não aderem ou que suspendem o tratamento por conta própria, como ocorreu com o estudante Meira. Segundo o psiquiatra da Unifesp, estima-se que 20% a 30% dos pacientes com diagnóstico de esquizofrenia estão sem tratamento hoje no Brasil. (PRISCILA LAMBERT e AURELIANO BIANCARELLI)

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