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RISCO
Esquizofrênicos têm de 5 a 6 vezes mais chances de se envolver com a Justiça, mas assassinatos são raros
Surto desencadeia acesso de violência
da Reportagem Local
A associação entre alguns transtornos mentais e a violência existe e é
científica, embora
os especialistas ressaltem que a incidência de atos
extremos, como assassinatos, é
muito pequena.
Entre as dezenas de variações
desses transtornos, algumas se
destacam como mais prováveis
de apresentar risco de violência.
Pessoas que sofrem de esquizofrenia se envolvem em problemas
que acabam na Justiça com cinco
ou seis vezes mais frequência que
a população em geral.
"Mas raramente são atos tão
violentos como homicídios, mas
infrações pequenas", afirma Jair
Mari, professor titular de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
O esquizofrênico é aquele que
tem surtos psicóticos com idéias
delirantes -tem mania de perseguição, ouve vozes. É durante esses surtos que ele sente necessidade de reagir contra os "perseguidores", em alguns casos, violentamente. É esse o diagnóstico do estudante Mateus da Costa Meira,
segundo seu psiquiatra, José Cássio Nascimento Pitta.
O esquizofrênico não consegue
se relacionar afetivamente e suas
idéias podem ser desagregadas
-ou seja, em sua fala, as frases
são soltas, embaralhadas.
A principal diferença entre o esquizofrênico e o paranóico é que
este tem a personalidade mais
preservada, não tem distúrbios
afetivos nem pensamento desagregado. Ele tem delírios de perseguição e de ciúmes (pode agredir a mulher porque ela passou
batom para ir à padaria).
Outro distúrbio que está relacionado à violência é o transtorno
de personalidade anti-social, ou
seja, o psicopata. Ele tem uma falha de caráter, é frio, impulsivo e,
diferentemente dos outros, tem
plena consciência de seus atos. É o
caso, por exemplo, do motoboy
Francisco de Assis Pereira, o "maníaco do parque".
A periculosidade é expressivamente maior, segundo especialistas, em um portador de um desses
transtornos mentais que seja dependente de álcool ou drogas, como a cocaína ou o crack -a dependência química é mais uma situação de distúrbio mental.
"As drogas e o álcool, mesmo
para pessoas que não apresentam
outro transtorno, são muito mais
nocivos para a sociedade pelas
distorções de percepção e agressividade que provocam", diz Valentim Gentil, professor titular de
Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.
Para todos esses transtornos há
tratamentos considerados eficazes, com medicação e acompanhamento psiquiátrico, o que
permite o controle dos surtos.
No entanto, esse controle fica
prejudicado nos pacientes que
não aderem ou que suspendem o
tratamento por conta própria, como ocorreu com o estudante Meira. Segundo o psiquiatra da Unifesp, estima-se que 20% a 30%
dos pacientes com diagnóstico de
esquizofrenia estão sem tratamento hoje no Brasil.
(PRISCILA LAMBERT e AURELIANO BIANCARELLI)
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