São Paulo, Domingo, 07 de Novembro de 1999
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SAÚDE
Zumbido já tem cura e tratamento no Brasil

ANDRÉA PERDIGÃO GAYOTTO
especial para a Folha

O zumbido -sensação de ruído constante parecido com o de um inseto-, mal que atinge milhões de brasileiros, já tem tratamento e, em muitos casos, a cura pode ser completa.
Terapias especializadas, chamadas "retreinamento" auditivo ou "habituação", e o uso de medicamentos têm conseguido bons resultados contra o "zummmmm".
O tratamento começa com um cuidadoso diagnóstico. O zumbido não é uma doença em si, mas sintoma de alguma lesão ou desordem no sistema auditivo.
Há mais de 200 doenças relatadas que podem causar o zumbido e é fundamental saber identificar as causas de cada caso.
Primeiro ataca-se as causas do problema. Nos casos em que é provocado por colesterol alto ou excesso de cafeína no organismo, por exemplo, a eliminação da origem, em geral, resolve a questão.
Mas quando as causas são tratadas e o zumbido persiste, pode indicar uma lesão definitiva nos órgãos internos responsáveis pela audição e o problema deve ser tratado mais diretamente.
Os medicamentos normalmente utilizados pelos médicos otorrinos atuam sobre os neurotransmissores, diminuindo a transmissão das informações nervosas. Eles fazem com que o indivíduo tenha uma menor percepção dos estímulos auditivos e assim perceba menos o zumbido.
Entretanto, parte dos pacientes, que não é sensível aos medicamentos, necessita de um retreinamento auditivo ou habituação.

"Habituação"
Segundo especialistas, 80% das pessoa que têm zumbido não se atormentam com ele devido a um fenômeno natural chamado "habituação": o estímulo sonoro é recebido, mas é bloqueado na entrada do cérebro.
Isso acontece normalmente com todo mundo e é uma estratégia criada pelo organismo para não perder a concentração, em função dos ruídos indesejáveis.
Os 20% dos pacientes que têm zumbido e se incomodam não viveram o processo natural de "habituação" e terão como tratamento uma "habituação" induzida. Esse tratamento, pouco conhecido em nosso país, se inicia com uma orientação sobre o problema. "Esses pacientes precisam ser orientados porque o zumbido lhes traz muitos medos: o medo de que seja um tumor, que seja uma alucinação, que ele cause surdez ou vá aumentando até ele não agüentar mais", diz Tanit Ganz Sanchez, da Fundação São Paulo de Otorrinolaringologia.
O retreinamento se baseia no princípio de que o indivíduo que tem zumbido deve evitar o silêncio. O paciente acopla um pequeno aparelho que se encaixa atrás da orelha, que fica emitindo um som em baixo volume (mais baixo do que o som do zumbido), monótono e constante, como um barulho de chuva, por exemplo. Esse aparelho estimula o processo de habituação, fazendo com que o zumbido vá sendo progressivamente barrado no cérebro. O tratamento leva 18 meses em média. Depois dele, o aparelho não é mais necessário e a percepção do zumbido é alterada.


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