São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002

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VIOLÊNCIA

Vítima foi ferida por PMs e teve a perna amputada dias depois; OAB suspeita de prisão ilegal e omissão de socorro

Justiça apura suposta tortura de mecânico

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais) de São Paulo abriu ontem sindicância para investigar denúncia de tortura, falta de atendimento e prisão ilegal supostamente praticadas por policiais militares. A vítima, o mecânico André Luiz Prado, 32, preso no CDP de Osasco (Grande SP), teve a perna direita amputada.
A denúncia foi feita anteontem pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, João José Sady, à juíza-corregedora do Dipo, Ivana David Boriero.
A OAB pediu a investigação depois que recebeu uma carta assinada por 26 pessoas. Entre elas, parentes de Prado e 22 testemunhas do caso ocorrido no Jardim Arpoador (zona oeste de SP).
A juíza solicitou um novo exame de corpo de delito de Prado e cópia da prisão em flagrante do mecânico à 18ª Vara Criminal, onde tramita o processo.
No dia 26 de julho, Prado recebeu um tiro, que atravessou a perna, após ter seu carro parado por policiais da Força Tática. Há duas versões para o caso.
Os PMs disseram que Prado era um dos quatro homens que estavam em um Tempra e teriam tentado fugir da barreira atirando. A PM apresentou uma arma e uma porção de maconha que seriam de Prado, que é ex-presidiário.
As testemunhas disseram que Prado estava no carro com duas mulheres, foi parado e baleado. Um PM teria usado uma barra de ferro para cutucar o ferimento de tiro e torturar o mecânico.
Segundo a advogada de Prado, Aparecida de Albuquerque Cardaci, ele foi levado para o pronto-socorro do Hospital Bandeirantes, que alegou que não tinha cirurgião plantonista e pediu que a PM o levasse para outro local. "Os policiais pediram que colocassem uma faixa para estancar o sangue. Depois disso, ele não recebeu mais atendimento", disse Cardaci. Ela afirmou que duas funcionárias do hospital confirmaram a história à Justiça.
Segundo familiares, Prado foi levado para o CDP de Osasco e ficou lá por mais cinco ou seis dias. Como o ferimento piorou, foi levado para o Hospital Regional de Osasco. Dias depois, teve sua perna amputada acima do joelho.
A Ouvidoria das Polícias já acompanhava o caso porque desconfiou da ação, mas não tinha dados sobre testemunhas nem que Prado teve a perna amputada.
A reportagem ligou cinco vezes ontem à tarde para o comando da PM, que não atendeu a Folha para falar sobre o caso. A Secretaria da Administração Penitenciária afirmou que só teria hoje dados sobre o estado de saúde de Prado, mas que vai instalar uma sindicância se houver indício de omissão de atendimento na prisão.


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