São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2006

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Padre brasileiro é morto em missão em Moçambique

Missionária portuguesa também foi assassinada, a facadas, em ataque a missão

Religioso fluminense estava no país havia dois anos e liderava um complexo com internato para 1.000 alunos, hospital e casa de padres


RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

VINICIUS ABBATE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um padre brasileiro e uma missionária portuguesa foram assassinados ontem de madrugada em Moçambique após uma invasão de um grupo armado a uma missão jesuíta na província de Tete, a 1.570 km da capital, Maputo. Outras duas pessoas ficaram feridas.
A ação ocorreu à 1h30 (19h30 de anteontem, horário de Brasília). Com machados, facões e armas, o grupo, estimado em ao menos dez homens, matou o padre Waldyr dos Santos, 69, e a voluntária Idalina Neto Gomes, 30. Santos morreu com um tiro no peito no quarto em que estava. Gomes foi morta a facadas. Nada foi roubado, e os criminosos fugiram. Ambos estavam na missão jesuíta de Fonte Boa, na zona rural de Angónia, distrito de Tete.
Fluminense de Nova Friburgo, o padre foi ordenado em 1971 e, como sacerdote, atuou em Salvador, Teresina e Manaus, antes de seguir para a missão em Moçambique, a seu pedido. Estava no país havia dois anos -por tradição dos jesuítas, deve ser enterrado lá.
Tido como bom e pacífico por colegas, liderava a missão, um complexo com internato para 1.000 alunos, hospital, casa dos padres e dos voluntários. A missão promove atividades educacionais e religiosas, especialmente para crianças.
Segundo o padre brasileiro Carlos Giovanni Salomão, superior imediato de Waldyr dos Santos e responsável pelos jesuítas em Moçambique, o ataque ocorreu só às casas dos padres e dos voluntários, distante 100 metros do restante da missão. Os criminosos aproveitaram a fragilidade do local, que não tem segurança e conta com luz elétrica, por gerador a diesel, apenas até as 21h. Eles estavam, diz Salomão, em quatro grupos de duas ou três pessoas.
O padre Waldyr dos Santos foi o primeiro a ser atacado. Ele estava no andar de cima da casa, um sobrado. Ao ouvir o tiro dado contra ele, os três missionários que dormiam no andar inferior fugiram. Dois conseguiram se esconder.
A voluntária Idalina Neto Gomes, a terceira do grupo, tentou correr em direção à frente da casa, mas foi capturada e morta. No ataque, também se feriu o moçambicano José Araújo de Andrade, 39, que levou um tiro no pé e foi espancado. Ele passa bem.
Segundo Salomão, o grupo não levou nada, embora, ao chegar, tenha anunciado assalto, pedido dinheiro e a chave das seis camionetes da missão.

Sétimo caso
Por telefone, de Tete, ele disse à Folha ter sido esse o sétimo, e mais grave, caso de agressão contra entidades religiosas em Moçambique em três meses. "Não é só interesse de vandalismo e roubo. Há por trás uma mentalidade de desestabilizar uma organização que tenta ajudar o país", disse. A relação entre os moçambicanos e os jesuítas é boa, segundo ele.
O chefe dos jesuítas pediu ajuda à embaixada brasileira em Maputo -ontem, os jesuítas foram retirados da missão. O Itamaraty disse que a embaixada deve tomar providências nos próximos dias junto à polícia local. A Folha procurou a embaixada de Moçambique no Brasil, mas não obteve retorno.
A direção do colégio jesuíta São Francisco de Sales, em Teresina, onde o padre Waldyr dos Santos havia trabalhado de 1997 ao final de 2002, decretou luto oficial de três dias.


Colaborou a Agência Folha

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