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Padre brasileiro é morto em missão em Moçambique
Missionária portuguesa também foi assassinada, a facadas, em ataque a missão
Religioso fluminense estava no país havia dois anos e liderava um complexo com internato para 1.000 alunos, hospital e casa de padres
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
VINICIUS ABBATE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um padre brasileiro e uma
missionária portuguesa foram
assassinados ontem de madrugada em Moçambique após
uma invasão de um grupo armado a uma missão jesuíta na
província de Tete, a 1.570 km da
capital, Maputo. Outras duas
pessoas ficaram feridas.
A ação ocorreu à 1h30 (19h30
de anteontem, horário de Brasília). Com machados, facões e
armas, o grupo, estimado em ao
menos dez homens, matou o
padre Waldyr dos Santos, 69, e
a voluntária Idalina Neto Gomes, 30. Santos morreu com
um tiro no peito no quarto em
que estava. Gomes foi morta a
facadas. Nada foi roubado, e os
criminosos fugiram. Ambos estavam na missão jesuíta de
Fonte Boa, na zona rural de Angónia, distrito de Tete.
Fluminense de Nova Friburgo, o padre foi ordenado em
1971 e, como sacerdote, atuou
em Salvador, Teresina e Manaus, antes de seguir para a
missão em Moçambique, a seu
pedido. Estava no país havia
dois anos -por tradição dos jesuítas, deve ser enterrado lá.
Tido como bom e pacífico
por colegas, liderava a missão,
um complexo com internato
para 1.000 alunos, hospital, casa dos padres e dos voluntários.
A missão promove atividades
educacionais e religiosas, especialmente para crianças.
Segundo o padre brasileiro
Carlos Giovanni Salomão, superior imediato de Waldyr dos
Santos e responsável pelos jesuítas em Moçambique, o ataque ocorreu só às casas dos padres e dos voluntários, distante
100 metros do restante da missão. Os criminosos aproveitaram a fragilidade do local, que
não tem segurança e conta com
luz elétrica, por gerador a diesel, apenas até as 21h. Eles estavam, diz Salomão, em quatro
grupos de duas ou três pessoas.
O padre Waldyr dos Santos
foi o primeiro a ser atacado. Ele
estava no andar de cima da casa, um sobrado. Ao ouvir o tiro
dado contra ele, os três missionários que dormiam no andar
inferior fugiram. Dois conseguiram se esconder.
A voluntária Idalina Neto
Gomes, a terceira do grupo,
tentou correr em direção à
frente da casa, mas foi capturada e morta. No ataque, também
se feriu o moçambicano José
Araújo de Andrade, 39, que levou um tiro no pé e foi espancado. Ele passa bem.
Segundo Salomão, o grupo
não levou nada, embora, ao
chegar, tenha anunciado assalto, pedido dinheiro e a chave
das seis camionetes da missão.
Sétimo caso
Por telefone, de Tete, ele disse à Folha ter sido esse o sétimo, e mais grave, caso de agressão contra entidades religiosas
em Moçambique em três meses. "Não é só interesse de vandalismo e roubo. Há por trás
uma mentalidade de desestabilizar uma organização que tenta ajudar o país", disse. A relação entre os moçambicanos e
os jesuítas é boa, segundo ele.
O chefe dos jesuítas pediu
ajuda à embaixada brasileira
em Maputo -ontem, os jesuítas foram retirados da missão.
O Itamaraty disse que a embaixada deve tomar providências
nos próximos dias junto à polícia local. A Folha procurou a
embaixada de Moçambique no
Brasil, mas não obteve retorno.
A direção do colégio jesuíta
São Francisco de Sales, em Teresina, onde o padre Waldyr
dos Santos havia trabalhado de
1997 ao final de 2002, decretou
luto oficial de três dias.
Colaborou a Agência Folha
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