São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2001

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VIOLÊNCIA

Peter Blake, considerado o maior velejador do mundo, teria tentado reagir a assalto a seu barco no rio Amazonas

Navegador neozelandês é morto no Amapá

Associated Press - 19.nov.2001
A primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clark (esq.), ao lado de Peter e Pippa Blake no veleiro Seamaster, no Amazonas


MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA

O navegador neozelandês Peter Blake, 53, foi morto na noite de anteontem durante assalto a seu veleiro, em um distrito de Macapá (AP). Ele era considerado um dos maiores velejadores do mundo.
O veleiro Seamaster havia atracado no balneário de Fazendinha (a 15 km de Macapá), no rio Amazonas, por volta das 21h. Duas horas depois, segundo a Polícia Federal, três homens armados e encapuzados invadiram a embarcação e anunciaram o assalto.
Blake foi atingido por pelo menos um tiro no peito e morreu na hora. Outros dois tripulantes foram feridos pelos ladrões, um com um tiro nas costas e o outro com coronhadas na cabeça, mas foram atendidos no pronto-socorro de Macapá e passam bem.
Segundo o advogado Márcio Jucá, que representa a Embaixada da Nova Zelândia, os tripulantes -oito neozelandeses, incluindo Blake, e um cozinheiro brasileiro- teriam tentado reagir.
"Eles [a tripulação" estavam em maior número e acharam que poderiam dominar os piratas", afirmou o advogado. "Pelo que eles me disseram, foi isso que provocou a fatalidade."

"Ratos d'água"
Os assaltantes teriam chegado ao veleiro em um barco de madeira, segundo a Polícia Federal. Um quarto assaltante aguardava o grupo fora da embarcação.
"A base do veleiro é baixa, permitindo o acesso fácil desse tipo de criminoso, conhecido na Amazônia como "rato d"água'", disse o agente da Polícia Federal José Araújo Filho. "É uma espécie de crime muito comum por aqui, mas não com resultados tão trágicos", completou.
A polícia não soube informar o que teria sido roubado. Ainda não há pistas dos "piratas". Informações não-oficiais davam conta do desaparecimento de um motor de popa e de um anel de Blake.
A embaixadora da Nova Zelândia no Brasil, Denise Almao, chegou na tarde de ontem ao Amapá para acompanhar o caso.
Considerado herói em seu país, Blake foi bicampeão (1995 e 2000) da America's Cup, a mais importante regata do mundo.

Expedição
Atualmente ele estava envolvido na expedição "Blakexpeditions", uma viagem ao redor do planeta de pesquisa de paraísos ecológicos e em defesa da preservação dos recursos minerais. A fundação Jacques Cousteau o havia escolhido como capitão do Calypso 2, navio que daria continuidade ao trabalho de exploração do pesquisador francês morto em 1997.
A expedição, iniciada na Nova Zelândia em outubro do ano passado, estava prevista para terminar em 2005. Já havia passado pela Antártica, pela Argentina e, no Brasil, pelo Amazonas. Ia agora em direção ao Caribe.
Segundo o site do jornal "New York Times", em março de 2000, Blake disse que havia recebido cartas anônimas com planos de matá-lo e de ferir sua família.
"Nós sempre recebemos cartas estranhas, mas isso tem ido longe demais recentemente", disse Blake. "Então tomamos todas as precauções a que fomos aconselhados." O corpo do navegador aguarda autorização da família para ser transladado.
A pedido do ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, a secretária nacional de Justiça, Elizabeth Sussekind, viajou ontem à noite para o Amapá, para dar o suporte do governo federal nas investigações sobre o caso.
O governo do Estado divulgou nota em que, além de lamentar a morte, afirma que fará todo o esforço para ajudar na rápida elucidação do caso.

Boletim da viagem
No site Blakexpeditions, que traz a cobertura da expedição de Peter Blake, pode ser encontrado o último boletim de viagem do navegador na Amazônia, com atualização datada de terça-feira, 4 de dezembro, véspera do ataque pirata ao barco Seamaster.
Em um texto assinado pelo próprio Blake, são relatadas as dificuldades da navegação noturna e o estresse a que a tripulação é submetida nas águas fluviais amazônicas. Os tripulantes do Seamaster têm que estar atentos a troncos flutuantes, bancos de areia, embarcações sem iluminação. "Não há muito tempo para relaxar", escreveu Blake.


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