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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Osvaldo passou 11 dias preso

DA REPORTAGEM LOCAL

O auxiliar administrativo Osvaldo Ferreira dos Santos, 28, lavava aos mãos no Poupatempo da Sé, no centro de São Paulo, depois de tirar impressões digitais para uma nova carteira de identidade quando diz ter ouvido o aviso: "Não adianta correr".
O alerta foi dado por um dos homens que o cercaram e o algemaram a um pedaço de cano. "Fui xingado de bandido sem nenhuma explicação", disse Santos. Ficou 11 dias na cadeia até conseguir provar que uma outra pessoa usou seus documentos, roubados quatro anos antes, para cometer os crimes de furto, roubo e porte ilegal de arma.
Santos disse que chegou a receber tapas e chutes quando foi levado pela polícia para o 1º DP (Sé). Mas o pior viria dois dias depois, quando foi levado para a carceragem do 2º DP (Bom Retiro). O auxiliar administrativo lembra que presos da cela onde estava tentaram fugir.
O plano não deu certo. Na represália, mesmo sem participar da tentativa de fuga, Santos disse que foi obrigado a ficar nu enquanto recebia golpes nas costas e baldes de água gelada.
No recurso à Justiça, a procuradora da PAJ Marilda Watanabe de Mendonça conseguiu provar que Santos teve a moto e os documentos roubados e que fez boletim de ocorrência. O verdadeiro criminoso usou seus documentos para cometer os crimes e depois fugiu da penitenciária em Avaré.
Decisões de três juízes inocentaram Santos em 2001. Mas, apesar disso, ele disse que também foi ironizado na saída da cadeia por policiais. "Ninguém me pediu desculpas e ainda me disseram: "Vai ladrão, pode sair, antes que eu me arrependa", afirmou.
Na decisão, o juiz determina que Santos seja retirado dos registros da polícia. Na última quarta-feira, a PAJ tirou a folha de antecedentes de Santos e teve uma surpresa. Os crimes estavam lá e ele ainda consta como foragido.
"Isso nos deixou surpresos e preocupados. É frustrante ver que o nome dele ainda não está limpo depois de tanto tempo", disse a procuradora. Segundo ela, deve ter havido um problema de comunicação entre a Justiça e o IRGD. Parte do trabalho vai ter de ser refeito.
Essa falha aumentou ainda mais a preocupação de Santos, que evita andar sozinho e carrega no bolso cópia da decisão judicial desde que foi solto. "Ainda tenho medo de ser preso novamente", afirmou Santos, que espera o resultado de uma ação por danos morais que moveu contra o Estado.
Apesar de ter a inocência comprovada, Santos disse que ainda sofre preconceito. "Muitos não acreditam que fui preso por engano e ainda me apontam como um bandido." (GP)


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