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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Ficha impediu contratação

DA REPORTAGEM LOCAL

Era a grande chance. Recém-casado e desempregado, Helder Miguel Fernandes Neves tinha passado em todos os testes para uma grande empresa e só esperava o telefonema que anunciaria sua contratação. O assistente financeiro Walter Bento Rodrigues também estava confiante de que um telefone traria a notícia de que o sonho de ser policial militar se tornaria realidade.
A ligação telefônica da empresa aconteceu, mas não com a notícia que Neves esperava. O funcionário informou que ele tinha passado em todos os testes com mérito, mas que na folha de antecedentes constava que ele era um ex-detento. Cumprira pena de três anos por tráfico de drogas em Guarujá (litoral paulista).
Neves tentou explicar que era um engano, que tinha documentos para provar que nesse período em que supostamente estaria preso na verdade tinha se casado e até feito uma viagem ao exterior. Não adiantou e ele perdeu a vaga.
Pior: descobriu que existia um mandado de prisão contra ele em outro processo que apurava porte ilegal de arma e tráfico. Teve de conseguir às pressas um advogado para revogar a prisão. Então descobriu que as acusações tinham relação com o furto de seus documentos, na praia de Boracéia (litoral paulista), em 1994. O verdadeiro criminoso usou seus documentos, cumpriu três anos de prisão e foi embora. Oficialmente, o ex-detento é Neves.
Ele conseguiu revogar a prisão em 1999, mas até hoje tenta limpar seu nome. Fez o exame datiloscópico que comprovou que ele e o autor dos crimes não são a mesma pessoa e ainda espera que os crimes sejam retirados de sua folha de antecedentes.
"Mandei vários currículos nos últimos anos, mas não tive resposta de nenhum. As empresas consultam para ver se você tem ficha criminal", disse Neves, 35, pai de um garoto de dois anos.
Walter Rodrigues, 32, não recebeu o telefonema como Neves, mas acredita que foi descartado por causa de sua filha criminal onde consta porte ilegal de arma. "Fui bem em todos os testes. Mas a PM faz uma pesquisa e descobriu isso", afirmou.
Rodrigues disse que seu irmão, que era assaltante de banco, foi preso com uma arma com numeração raspada, em Taboão da Serra (Grande SP). Só que na delegacia ele apresentou a carteira de identidade de Rodrigues.
Rodrigues disse que também perdeu o emprego por causa de sua ficha criminal. "Na mesma época, eu era caixa de uma rede de postos de gasolina e estava até concorrendo ao cargo de gerente. De repente, fui mandado embora sem que ninguém explicasse o porquê. Acho que eles também descobriram." (GP)


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