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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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SAÚDE

Efeitos prejudiciais de raios ultravioleta são cumulativos; entidade faz campanha de prevenção a câncer de pele

Criança ao sol tem risco a longo prazo

Greg Salibian/Folha Imagem
O garoto André, que costuma brincar todos os dias no parque Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, e não usa protetor solar


AURELIANO BIANCARELLI
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quantas vezes, em domingos modorrentos, nos sentimos felizes ao constatar que lá fora está chovendo? Num país tropical, de sol todo dia, chuva, para os adultos, é um passaporte para uma folga com direito a não fazer nada.
Essa regra não vale para crianças e adolescentes: eles querem sol o tempo todo, e a qualquer preço. Sol é luz. E quem vai preferir sombras a um dia iluminado?
Pois saiba que um movimento médico, cada vez maior no mundo todo, está informando às pessoas, especialmente às crianças e adolescentes, que a sombra é mais protetora que a luz.
Essa pregação aparentemente "vampiresca" está fundamentada em pesquisas e na epidemiologia. O Inca (Instituto Nacional do Câncer), do Ministério da Saúde, informa que o câncer mais frequente no país, o da pele, em 90%, dos pacientes é provocado pelo sol excessivo. A doença fará 82.155 vítimas neste ano.
Até os 18 anos, uma pessoa recebe 80% do sol que tomará durante toda a vida. Por isso, os principais alvos da prevenção são jovens e crianças -como o menino André, 2, que vai todo dia ao parque do Ibirapuera com a mãe, brinca e corre o tempo todo sob o sol, mas não usa filtro solar.
O câncer da pele ainda é raro na infância e adolescência. O problema é o efeito a longo prazo.
"Os efeitos dos raios ultravioleta [UV] sobre a pele são cumulativos, e os resultados podem aparecer 20 ou 30 anos depois. Como crianças e adolescentes não sabem disso, e adoram brincar e correr ao sol, cabe a nós, adultos, cuidar para que se protejam", diz Gilles Landman, presidente do GMB (Grupo Brasileiro de Melanoma, o mais agressivo câncer da pele), entidade que está lançando um programa de prevenção que se estenderá por um ano.
"Quem ama, protege" é o slogan da nova campanha, que traz o desenho de um menino protegido por camiseta, chapéu e a sombra de uma mão cuidadora.
"Além disso, a faixa etária de incidência do câncer vem diminuindo. Antes era a partir dos 50 anos, hoje já aparece aos 40", afirma Carlos Eduardo Alves, chefe da seção de Dermatologia do Instituto Nacional do Câncer.

Vitamina D
O sol participa na transformação da vitamina D, fundamental para o organismo em todas as idades, mas especialmente entre crianças, pois auxilia no crescimento. Segundo Landman, para todas as pessoas, "15 minutos, três vezes por semana, são suficientes para tirar do sol os benefícios."
Segundo a dermatologista Francisca Regina Oliveira Carneiro, coordenadora do departamento de Dermatologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Dermatologia, neste ano a Academia Americana de Pediatria apontou que os benefícios da exposição solar para a síntese da vitamina D em crianças são muito pequenos em relação ao risco da radiação. "Recomendam outros recursos que ajudam na síntese, como a alimentação."
Apesar de alguns dermatologistas não defenderem o uso de filtro solar em bebês, pelo produto poder causar irritação, na Austrália, outro país ensolarado, já recomenda-se esta proteção, afirma Carneiro.


Colaborou Greg Salibian, repórter fotográfico


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