São Paulo, quarta-feira, 07 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FROTA FANTASMA

Órgão tira do cadastro carros com placa amarela e licenciamento muito atrasado; mudança deve afetar estatísticas

Detran "apaga" 630 mil veículos em SP

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais de 630 mil veículos sumiram das estatísticas oficiais da frota da cidade de São Paulo em um intervalo de dois meses.
A perda de 11% dos automóveis paulistanos, de acordo com dados do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), equivale a uma frota superior à de Estados inteiros, como Alagoas ou Maranhão.
Mas aquilo que deveria ser uma boa notícia para os motoristas acostumados a engarrafamentos não encontra respaldo nas ruas. A redução drástica, ao menos nessa proporção, tende a ser fictícia.
A explicação para as novas estatísticas divulgadas pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB), que deixam a frota da capital mais próxima de 5 milhões do que de 6 milhões, é um ajuste realizado pelo Detran, que retirou de seu cadastro veículos que estão sem licenciamento há muito tempo -ele não detalha quanto, mas, segundo técnicos, desde os anos 90.
Nesse grupo estão os veículos com placas amarelas, de duas letras, ou que podem, por exemplo, ter sido destruídos em acidentes de trânsito, virado sucata ou sido transferidos para outros Estados.
Mas ninguém tem a certeza de que todos não existam mais -e nada garante que uma parte esteja em circulação, ainda que de maneira irregular. A própria reportagem flagrou no mês passado um veículo com as antigas placas amarelas rodando em plena avenida Pacaembu, na região central.
Na periferia, não é raro ver sucatas também com esse emplacamento estacionadas nas calçadas -a Folha identificou três ontem à tarde em Cidade Tiradentes.
Hoje em dia, mesmo que estejam rodando, eles se tornaram "fantasmas" no cadastro oficial.
O Detran considera mais provável que a maioria absoluta dos 630 mil tenha saído das ruas. Admite que alguns podem estar em uso ou entrar em circulação no futuro (se houver a tentativa de regularização do licenciamento), mas diz que os dados antigos permanecerão em poder da Secretaria da Fazenda para esses casos.
O ajuste estatístico da frota de automóveis se deve a um grupo de trabalho criado em 2004 para sanear os dados utilizados inclusive para a cobrança do IPVA.
Com ele, a capital paulista, que tinha 5,82 milhões de veículos em fevereiro de 2005, passou a ter 5,18 milhões de veículos em abril.
Em setembro deste ano, uma nova alta já elevava a frota para 5,26 milhões -patamar semelhante ao existente em 2001.
A mesma revisão foi feita para a frota do Estado inteiro, mas a reportagem não obteve os dados exatos -próximos de 1 milhão.
Ciro Vidal, que foi diretor do órgão de 1985 a 1995, diz que esses ajustes nas estatísticas eram comuns em sua época para evitar ter no cadastro uma "frota mentirosa", que não existe mais, sem que a perda tenha sido oficializada.
A mudança provoca efeitos diretos nas políticas de trânsito, até mesmo porque muitas metas e indicadores dos órgãos oficiais são baseados nos dados do Detran.
A quantidade de mortes por acidente, por exemplo, costumeiramente é relativizada pela frota. E, desde 1998, a totalidade de veículos, pelas estatísticas oficiais, só crescia na capital paulista.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Prejuízo: Novo acidente em obra da linha 4 do Metrô derruba parede de loja
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.