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FROTA FANTASMA
Órgão tira do cadastro carros com placa amarela e licenciamento muito atrasado; mudança deve afetar estatísticas
Detran "apaga" 630 mil veículos em SP
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de 630 mil veículos sumiram das estatísticas oficiais da frota da cidade de São Paulo em um
intervalo de dois meses.
A perda de 11% dos automóveis
paulistanos, de acordo com dados
do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), equivale a uma
frota superior à de Estados inteiros, como Alagoas ou Maranhão.
Mas aquilo que deveria ser uma
boa notícia para os motoristas
acostumados a engarrafamentos
não encontra respaldo nas ruas. A
redução drástica, ao menos nessa
proporção, tende a ser fictícia.
A explicação para as novas estatísticas divulgadas pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB), que deixam a frota da capital mais próxima de 5 milhões do que de 6 milhões, é um ajuste realizado pelo
Detran, que retirou de seu cadastro veículos que estão sem licenciamento há muito tempo -ele
não detalha quanto, mas, segundo técnicos, desde os anos 90.
Nesse grupo estão os veículos
com placas amarelas, de duas letras, ou que podem, por exemplo,
ter sido destruídos em acidentes
de trânsito, virado sucata ou sido
transferidos para outros Estados.
Mas ninguém tem a certeza de
que todos não existam mais -e
nada garante que uma parte esteja
em circulação, ainda que de maneira irregular. A própria reportagem flagrou no mês passado um
veículo com as antigas placas
amarelas rodando em plena avenida Pacaembu, na região central.
Na periferia, não é raro ver sucatas também com esse emplacamento estacionadas nas calçadas
-a Folha identificou três ontem
à tarde em Cidade Tiradentes.
Hoje em dia, mesmo que estejam rodando, eles se tornaram
"fantasmas" no cadastro oficial.
O Detran considera mais provável que a maioria absoluta dos 630
mil tenha saído das ruas. Admite
que alguns podem estar em uso
ou entrar em circulação no futuro
(se houver a tentativa de regularização do licenciamento), mas diz
que os dados antigos permanecerão em poder da Secretaria da Fazenda para esses casos.
O ajuste estatístico da frota de
automóveis se deve a um grupo
de trabalho criado em 2004 para
sanear os dados utilizados inclusive para a cobrança do IPVA.
Com ele, a capital paulista, que
tinha 5,82 milhões de veículos em
fevereiro de 2005, passou a ter 5,18
milhões de veículos em abril.
Em setembro deste ano, uma
nova alta já elevava a frota para
5,26 milhões -patamar semelhante ao existente em 2001.
A mesma revisão foi feita para a
frota do Estado inteiro, mas a reportagem não obteve os dados
exatos -próximos de 1 milhão.
Ciro Vidal, que foi diretor do órgão de 1985 a 1995, diz que esses
ajustes nas estatísticas eram comuns em sua época para evitar ter
no cadastro uma "frota mentirosa", que não existe mais, sem que
a perda tenha sido oficializada.
A mudança provoca efeitos diretos nas políticas de trânsito, até
mesmo porque muitas metas e indicadores dos órgãos oficiais são
baseados nos dados do Detran.
A quantidade de mortes por acidente, por exemplo, costumeiramente é relativizada pela frota. E,
desde 1998, a totalidade de veículos, pelas estatísticas oficiais, só
crescia na capital paulista.
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