São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2006

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Filha de Daniele pode ter piorado por erro

Laudo diz que menina morta em hospital de Taubaté e cuja mãe foi acusada de envenená-la pode ter recebido tratamento errado

Daniele, que também acusa residente do hospital de estuprá-la, acabou solta após passar 37 dias presa e ser espancada por detentas

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quinze dias antes de morrer, Victória Maria do Prado Iori Camargo, de apenas um ano e três meses, foi levada de Taubaté, a 130 km de São Paulo, para uma consulta no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, referência internacional em pediatria. A menina tinha uma vasculite cerebral de causa desconhecida que a deixava, nas crises, inconsciente por várias horas. O Hospital das Clínicas emitiu parecer sobre o caso de Victória: uma possível causa do problema seria dosagem errada dos medicamentos usados para tratá-la.
A informação sobre o parecer do Hospital das Clínicas foi confirmada à Folha pelo coordenador do Pronto Socorro Infantil de Taubaté, Ciro João Bertoli, e pelo diretor-técnico do Hospital da Universidade de Taubaté, Milton Peres. O hospital de Taubaté era onde se aviavam as receitas de remédios para Victória.
Não houve tempo de checar a consistência da suspeita levantada pelo Hospital das Clínicas. No dia 29 de outubro, Victória morreu no PS Infantil. A mãe dela, Daniele Toledo do Prado, 21, foi acusada, imediatamente após a confirmação do óbito, de ter envenenado a filha com cocaína colocada na mamadeira.
"Eu nem tinha ainda conseguido entender o que significava aquele pííííííííí do oxímetro [que indicava a ausência de pulso], a correria dos médicos para ressuscitá-la, o corpinho inerte da Victória ainda com o tubo saindo da boca, quando a doutora Érika me arrastou pelo braço para a sala onde estava minha filha, gritando: "Olha o que você fez, sua assassina"."
Apoiada em um laudo preliminar do Instituto de Criminalística, a polícia prendeu a mãe. Segundo esse laudo, teria sido encontrada cocaína em material coletado na boca de Victória e na mamadeira servida a ela. Anteontem, Daniele foi libertada. O laudo definitivo mostrou que as amostras coletadas não continham a droga.
Nos 37 dias de prisão, Daniele foi chamada de "monstro da mamadeira" e espancada por 18 detentas. Teve a mandíbula quebrada, além de sofrer lesões na cabeça e no corpo.
O diretor do PS Infantil (que também é professor de medicina na Unitau) estava presente quando a pequena Victória morreu, depois de três paradas cardíacas. Na ocasião, Bertoli tinha conhecimento da suspeita de que os remédios usados para tratar a criança estivessem piorando o seu quadro clínico. Ele não quis comentar a prisão de Daniele, a partir de um laudo preliminar: "Isso não é problema meu, é da polícia".
Daniele era bem conhecida no pronto socorro e no hospital universitário. Com o agravamento do quadro clínico de Victória, os últimos quatro meses de vida da criança foram um entra-e-sai do hospital, com internações na UTI, sempre acompanhadas pela mãe.
Daniele ficou mais conhecida a partir do dia 8 de outubro, quando denunciou ter sido estuprada por um aluno do quinto ano de medicina da Unitau. Para piorar, dentro do hospital, quando visitava a filha internada. O delegado-seccional de Taubaté, Roberto Martins de Barros, tem laudo que confirma a violência sexual.
"Ele me ameaçava e dizia, enquanto me estuprava, que sabia que eu precisava do hospital para cuidar da minha filha", afirma Daniele.
Segundo Milton Peres, do Hospital da Unitau, o acusado foi afastado por 30 dias da universidade. Ouvido na sindicância interna, "o rapaz jurou de pés juntos que não violentou ninguém", relata Peres. Como o prazo de afastamento expirou, o acusado retomou suas atividades normais.


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