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Filha de Daniele pode ter piorado por erro
Laudo diz que menina morta em hospital de Taubaté e cuja mãe foi acusada de envenená-la pode ter recebido tratamento errado
Daniele, que também acusa residente do hospital de estuprá-la, acabou solta após passar 37 dias presa e ser espancada por detentas
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quinze dias antes de morrer,
Victória Maria do Prado Iori
Camargo, de apenas um ano e
três meses, foi levada de Taubaté, a 130 km de São Paulo, para
uma consulta no Instituto da
Criança do Hospital das Clínicas, referência internacional
em pediatria. A menina tinha
uma vasculite cerebral de causa
desconhecida que a deixava,
nas crises, inconsciente por várias horas. O Hospital das Clínicas emitiu parecer sobre o caso
de Victória: uma possível causa
do problema seria dosagem errada dos medicamentos usados
para tratá-la.
A informação sobre o parecer
do Hospital das Clínicas foi
confirmada à Folha pelo coordenador do Pronto Socorro Infantil de Taubaté, Ciro João
Bertoli, e pelo diretor-técnico
do Hospital da Universidade de
Taubaté, Milton Peres. O hospital de Taubaté era onde se
aviavam as receitas de remédios para Victória.
Não houve tempo de checar a
consistência da suspeita levantada pelo Hospital das Clínicas.
No dia 29 de outubro, Victória
morreu no PS Infantil. A mãe
dela, Daniele Toledo do Prado,
21, foi acusada, imediatamente
após a confirmação do óbito, de
ter envenenado a filha com cocaína colocada na mamadeira.
"Eu nem tinha ainda conseguido entender o que significava aquele pííííííííí do oxímetro
[que indicava a ausência de
pulso], a correria dos médicos
para ressuscitá-la, o corpinho
inerte da Victória ainda com o
tubo saindo da boca, quando a
doutora Érika me arrastou pelo
braço para a sala onde estava
minha filha, gritando: "Olha o
que você fez, sua assassina"."
Apoiada em um laudo preliminar do Instituto de Criminalística, a polícia prendeu a mãe.
Segundo esse laudo, teria sido
encontrada cocaína em material coletado na boca de Victória e na mamadeira servida a
ela. Anteontem, Daniele foi libertada. O laudo definitivo
mostrou que as amostras coletadas não continham a droga.
Nos 37 dias de prisão, Daniele foi chamada de "monstro da
mamadeira" e espancada por
18 detentas. Teve a mandíbula
quebrada, além de sofrer lesões
na cabeça e no corpo.
O diretor do PS Infantil (que
também é professor de medicina na Unitau) estava presente
quando a pequena Victória
morreu, depois de três paradas
cardíacas. Na ocasião, Bertoli
tinha conhecimento da suspeita de que os remédios usados
para tratar a criança estivessem piorando o seu quadro clínico. Ele não quis comentar a
prisão de Daniele, a partir de
um laudo preliminar: "Isso não
é problema meu, é da polícia".
Daniele era bem conhecida
no pronto socorro e no hospital
universitário. Com o agravamento do quadro clínico de
Victória, os últimos quatro meses de vida da criança foram
um entra-e-sai do hospital,
com internações na UTI, sempre acompanhadas pela mãe.
Daniele ficou mais conhecida a partir do dia 8 de outubro,
quando denunciou ter sido estuprada por um aluno do quinto ano de medicina da Unitau.
Para piorar, dentro do hospital,
quando visitava a filha internada. O delegado-seccional de
Taubaté, Roberto Martins de
Barros, tem laudo que confirma a violência sexual.
"Ele me ameaçava e dizia,
enquanto me estuprava, que
sabia que eu precisava do hospital para cuidar da minha filha", afirma Daniele.
Segundo Milton Peres, do
Hospital da Unitau, o acusado
foi afastado por 30 dias da universidade. Ouvido na sindicância interna, "o rapaz jurou de
pés juntos que não violentou
ninguém", relata Peres. Como
o prazo de afastamento expirou, o acusado retomou suas
atividades normais.
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