São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2010

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Alunos usam barco para fugir do trânsito

Estudantes da zona sul de SP vão às aulas em barco inflável e economizam até dois terços do tempo de percurso

"É mais seguro do que enfrentar os riscos do trânsito", diz pai de um aluno; trajeto pode ser completado por van

ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO
FERNANDO DONASCI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Kauan, 8, era só mais um aluno de colégio particular da elite paulistana que ia diariamente para a aula dentro do carro blindado dos pais.
Por mais confortável e seguro que parecesse, não havia como escapar dos engarrafamentos de mais de uma hora para chegar à escola.
Hoje ele vai de barco e leva menos da metade do tempo.
Sim, Kauan ainda mora e estuda em São Paulo, na cidade que soma mil veículos por dia à sua frota de 6,9 milhões e onde há engarrafamentos de mais de 200 km.
Mas, para fugir do trânsito, seus pais pagam a mensalidade de uma embarcação similar a um bote para que a criança faça parte do trajeto diário ao colégio pela represa Guarapiranga (zona sul).
"É mais seguro do que enfrentar os riscos do trânsito. Fico mais tranquilo do que quando ele ia com a gente de carro", diz Marco Antonio Christiano de Carvalho, 44, advogado e pai do menino.
Kauan integra um grupo de 11 crianças e adolescentes, entre 7 e 18 anos, cujos pais aderiram aos serviços de um barco para se deslocar a duas escolas particulares de SP.
As famílias moram em região bem arborizada às margens da Guarapiranga.
No começo da década, um transporte alternativo similar já havia sido adotado na vizinhança. O barco inflável começou há dois anos.
A viagem pela represa leva cinco minutos. O empresário do setor náutico Ricardo Munhoz, 44, que também leva seus dois filhos no barco, diz que faz mais de uma quando é preciso -já que só cabem sete estudantes por vez.
Com mochila nas costas, os alunos desembarcam do lado oposto da represa.
Em seguida, podem ir a uma das duas escolas caminhando, em sete minutos. Ou então, fazem baldeação e complementam a rota em uma van, que também foi incluída como parte do serviço.
Com isso, é possível completar em 12 minutos um percurso que, de carro, com os engarrafamentos matinais, costumava levar 40 minutos.

A PEDIDOS
O serviço informal teve origem numa ação entre amigos, mas ganhou requintes de profissionalismo, com regularidade e tarifa mensal.
O empresário Ricardo Munhoz relata que houve um pedido na vizinhança. Como ele é profissional da área, tem barcos e dá aulas de windsurfe na represa, resolveu atender ao apelo.
O valor das mensalidades varia de R$ 190 a R$ 230, a depender da localização do colégio. O preço é para um só trajeto, ida ou volta, porque a maioria dos pais não precisa ou não acha vantajoso pagar nos dois horários. "Nem dá lucro. É mais para bancar os custos", afirma Munhoz.


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