São Paulo, sexta-feira, 08 de fevereiro de 2002

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Após fuga, chileno veio ao Brasil

ROGERIO WASSERMANN
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

O Brasil havia sido o primeiro destino de Maurício Hernández Norambuena, 43, líder do sequestro de Washington Olivetto, após ter sido resgatado de helicóptero de uma prisão de segurança máxima em Santiago, em 1996, com outros três integrantes da Frente Patriótica Manuel Rodriguez (FPMR), segundo fonte ligada ao grupo que falou à Folha em condição de anonimato.
Hernández, ou "comandante Ramiro", teria passado depois pelo México e por Cuba antes de chegar à Colômbia. Teria ainda entrado e saído do Brasil algumas vezes nesse período.
Na Colômbia, Hernández teria sido acompanhado por Alfredo Canales Moreno, também preso pelo sequestro de Olivetto, e de José Muñoz Alcoholado, ambos integrantes de uma das inúmeras divisões do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária) e que se mantém na luta armada, denominada MIR-EGP. Muñoz seria o primeiro homem do grupo, e Canales, o terceiro.
Também teriam estado na Colômbia Ricardo Palma Salamanca e Pablo Muñoz Hoffman, que fugiram da prisão com Hernández Norambuena em 1996. Salamanca é um dos possíveis participantes do sequestro de Olivetto, segundo as investigações da polícia de São Paulo.
A presença dos chilenos na Colômbia objetivava dar apoio às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal grupo guerrilheiro do país, envolvido numa guerra civil de quase quatro décadas. Dentro dessa lógica, o sequestro de Olivetto, pelo qual pediram US$ 10 milhões, visava reforçar e equipar o "grupo chileno" na Colômbia, permitindo a ele ter mais voz e poder dentro da organização.
A cooperação com as Farc teria sido intensificada após janeiro de 2001, quando Galvarino Apablaza Guerra, o "comandante Salvador", renunciou à liderança da FPMR e optou pelo caminho da reintegração política, abrindo espaço para que Hernández, com uma opção mais militarista, assumisse o comando do grupo.
Hernández, que comandava uma das três vertentes em que o grupo estava então dividido, teve o apoio da ala liderada por Juán Gutiérrez Fischman, o "Chele", filho de um ex-guerrilheiro boliviano casado com uma chilena, que liderava outra vertente -a terceira era a liderada por "Salvador".
A Colômbia teria sido escolhida pelo grupo por ser o país da América do Sul no qual se desenvolve uma antiga guerra civil, com pelo menos dois fortes grupos guerrilheiros, e que sofreria, na avaliação deles, uma ameaça de invasão americana que poderia afetar o equilíbrio político na região.
Mesmo atuando na Colômbia, o grupo chileno manteve suas "bases de apoio" na Argentina e no Brasil, para onde muitos de seus integrantes fugiram durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1989).



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