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CARNAVAL
Escola de SP pode ser boicotada na TV por fazer merchandising da Nestlé, que não é patrocinadora oficial do evento
Globo ameaça vetar desfile da Mocidade
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A TV Globo não irá transmitir a
apresentação da Mocidade Alegre
caso a escola de samba paulistana
coloque na avenida, na madrugada de hoje para amanhã, carros
alegóricos e fantasias com merchandising da Nestlé.
A Nestlé diz que investiu R$ 500
mil em patrocínio à escola, cujo
enredo será "Do Néctar dos Deuses ao Alimento dos Homens e
Feras: Deleite-se ao Sabor do Leite". Terá, em troca, duas alas e
dois carros alegóricos alusivos a
seus produtos, principalmente as
marcas Leite Ninho e Leite Moça,
nas quais prometem desfilar os
atores Luciano Szafir e Nívea Stelmann, da novela "O Clone".
A ameaça inédita da Globo tem
por base um contrato assinado
com a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, válido até 2014, que proíbe a exibição
de propaganda dentro dos desfiles. A TV paga mais de R$ 1 milhão por ano à entidade em troca
da transmissão integral do Carnaval paulistano.
O ex-presidente da Liga Sidnei
Carrioulo, da escola Águia de Ouro, contou que, até 2001, a Globo
"tolerava" as propagandas na
apresentação das escolas. "Só não
podia ser muito descarado, mas,
uma coisinha aqui, outra ali, todo
mundo fazia", afirmou.
Segundo ele, a Globo procurou
a Liga no mês passado para endurecer as regras contra merchandising. Ela ameaçava romper os
contratos de transmissão se não
houvesse mudanças.
A avaliação da rede era que algumas empresas deixavam de
anunciar na TV para fazer merchandising. Dessa forma, tinham
uma exposição maior ao público e
gastavam menos.
O artigo 41 do regulamento do
Carnaval foi alterado por causa
dessas pressões, incluindo a perda
de três pontos para a escola que fizer propaganda nas fantasias,
adereços e carros alegóricos. "Ficou definido que seria tolerância
zero. Nem mesmo camisetas dos
empurradores dos carros e instrumentos das baterias poderão
expor a marca", disse Carrioulo.
Na época, a Globo e a Liga acertaram que só seria tolerado merchandising se envolvesse algum
patrocinador oficial do Carnaval
de São Paulo. Por exemplo, a Kaiser. A multa prevista em caso de
descumprimento do acordo, segundo Carrioulo, ultrapassa a casa dos R$ 20 milhões.
Em comunicado oficial, a assessoria de imprensa da Nestlé afirmou ontem que a "ação de patrocínio, desde seu início, não previa
a exibição de logomarcas da empresa ou de qualquer um de seus
produtos na avenida".
Uma das alas apresentada nos
ensaios dos barracões, porém,
exibia fantasias com reprodução
das latas de Leite Ninho. Desde
anteontem, funcionários da escola de samba correm para substituir "Leite Ninho" por "Leite em
Pó". As fantasias/embalagens, no
entanto, terão as mesmas cores e
características do produto da
Nestlé, permitindo a identificação
da marca pelo público.
A Globo deverá manter o veto à
transmissão do desfile da Mocidade Alegre mesmo com as mudanças nas fantasias e carros alegóricos. A Nestlé é um dos maiores anunciantes da emissora, mas,
no final do ano passado, associou
suas marcas ao apresentador Gugu Liberato, do SBT.
Horário
Segundo a assessoria de imprensa da Globo, a emissora recebeu um comunicado do presidente da Liga, Robson de Oliveira, recomendando a não-transmissão
do desfile da Mocidade Alegre devido ao patrocínio da Nestlé.
Ainda de acordo com a Globo, a
Liga pode mudar o horário do
desfile da escola, que seria às
4h20, para as 5h30. Com a mudança, a Mocidade pode ser a última agremiação a entrar no Sambódromo, permitindo à Globo interromper a transmissão do Carnaval sem abrir um "buraco" em
sua grade de programação.
A assessoria de imprensa da Liga informou ontem que a mudança na ordem dos desfiles ainda
não havia sido definida. A entidade tenta fazer um acordo porque
as novas regras só foram definidas com a Globo em janeiro, às
vésperas do Carnaval.
A presidente da Mocidade, Elaine Cristina Bichara, informou que
não se pronunciaria sobre o tema.
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