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São Paulo, sábado, 08 de fevereiro de 2003

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VESTIBULAR

Na Uerj, do Rio, alguns alunos não beneficiados tiveram nota de corte 11,4 vezes maior do que estudantes negros e pardos

Aluno de cota entra com nota mais baixa

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O estudante Daniel Araújo Fernandes comemora o 1º lugar na praia


DA SUCURSAL DO RIO

A nota de corte do vestibular da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) mostra que, em todos os cursos, os estudantes que se utilizaram da reserva de vagas conseguiram entrar com notas inferiores às dos vestibulandos que não se encaixam em nenhum critério de benefício. As cotas contemplam negros, pardos e alunos de escolas públicas.
Em alguns cursos, os estudantes que não podiam concorrer pelo sistema de cotas tiveram uma nota de corte 11,4 vezes maior do que a nota mínima exigida dos alunos que entrarão na universidade pela reserva de vagas.
Foi o caso do curso de odontologia: o último classificado do vestibular tradicional fez 77,5 pontos sobre um total de 100, enquanto o último colocado que entrou por algum critério de cotas fez apenas 6,25 pontos sobre o mesmo total.
A menor nota de corte em todo o vestibular foi de apenas quatro pontos para os beneficiados pelo sistema no curso de engenharia civil. Entre os demais, a menor nota foi encontrada no curso de matemática no campus da Baixada Fluminense: 12 pontos.
A universidade ainda não fez o cálculo de quantos estudantes entraram por critério de cotas.
A Uerj foi a primeira universidade pública de grande porte no Brasil a usar no seu vestibular um critério de cotas raciais e que leva em conta a origem do estudante. A lei que cria as cotas foi aprovada em 2001. Inicialmente proposta pelo ex-governador Anthony Garotinho (PSB), a lei previa a reserva de 50% das vagas para alunos de escolas públicas. Depois, foi criada pela Assembléia Legislativa uma reserva para alunos negros e pardos de 40%.
Para não comprometer 90% das vagas com as cotas para negros e alunos de escolas públicas, a universidade decidiu incluir as cotas raciais na cota dos estudantes de colégios públicos.
O critério usado para definir quem se encaixava na cota racial foi a autodeclaração, ou seja, o aluno informava à coordenação do vestibular sua cor de pele.
Para evitar que brancos se declarem negros ou pardos apenas para conseguir entrar pelas cotas, a coordenação do vestibular previu a possibilidade de processar alunos por falsidade ideológica.
Segundo a universidade, no entanto, não houve um aumento significativo no número de candidatos que se declararam negros ou pardos em relação aos exames anteriores, quando o critério racial ainda não era levado em conta na inscrição.


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