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Estudante negro é o primeiro no curso de medicina
DA SUCURSAL DO RIO
Um estudante de 25 anos, que
se autodeclarou negro e concluiu
os ensinos fundamental e médio
em escolas públicas da zona oeste
do Rio, conseguiu o primeiro lugar em medicina e a terceira posição no ranking geral do vestibular
da Uerj (Universidade do Estado
do Rio de Janeiro), o primeiro
com reserva de vagas para estudantes negros e pardos ou que estudaram em colégios públicos.
Daniel Araújo Fernandes, morador de Bangu (zona oeste do
Rio), inscreveu-se no vestibular
pelo sistema de cotas, mas o considera uma "muleta". No seu caso, as cotas não foram determinantes para que conseguisse entrar na universidade. Sua pontuação foi de 98,25, de um total de
100, apenas um ponto abaixo do
primeiro lugar geral.
"Eu me inscrevi pelas cotas para
ter uma certa tranquilidade. Sabia
que passaria por causa do meu
preparo e dedicação. Mas não
acredito que as cotas sejam capazes de resolver o problema."
Na sua opinião, o sistema é "um
paliativo", que pode até ajudar
muitas pessoas de imediato, mas
não resolverá a questão da inserção do negro na sociedade. "O
que precisa acontecer mesmo é a
recuperação da escola pública.
Sem isso, não haverá sistema de
cotas que resolva", completa.
Este foi o quarto vestibular de
Fernandes. Na sua avaliação, a
conquista só foi possível porque
ele fez um curso preparatório durante todo o ano passado. O cursinho, feito com bolsa, é um dos
mais conceituados do Rio.
"Se dependesse só do que
aprendi na escola pública, não teria a menor chance, assim como
não tive nos outros anos."
Filho de pais aposentados pelo
Estado -a mãe, professora de
ensino fundamental, e o pai, inspetor de um colégio público- e
que não têm diploma de curso superior, ele sabe que terá dificuldades para terminar a faculdade.
Como os irmãos -a mais velha, de 30 anos, é formada em pedagogia, e o irmão cursa matemática na Uerj-, ele teve que trabalhar assim que concluiu o ensino
médio, apesar do incentivo dos
pais para que fizesse uma faculdade. Fernandes entrou para o Exército e começou a juntar dinheiro
para ajudar a família e também
para fazer uma poupança que seria usada nos anos em que estivesse tendo aulas na faculdade e não
pudesse trabalhar.
Mesmo sendo o curso de medicina integral, ele sabe que precisará trabalhar para custear seus gastos, uma vez que os pais não têm
dinheiro para bancá-los. Dará aulas de mergulho nos finais de semana e trabalhará como auxiliar
de enfermagem -ocupação adquirida no Exército- em regime
de plantão em alguns hospitais.
Fernandes comemorou a classificação na praia da Barra da Tijuca, com uma amiga.
Contrastes
O primeiro lugar geral no vestibular na Uerj, Renato Turita Paes
Leme, 18, tem um perfil bastante
diferente. Morador de Botafogo,
bairro da zona sul da cidade, ele
estudou a vida inteira numa escola particular bastante conceituada, também da zona sul.
Paes Leme nem precisou fazer
um cursinho para o vestibular.
Nesta sua primeira tentativa, para
a faculdade de matemática, conseguiu um total de 99,25 pontos.
Paes Leme não seguiu a carreira
dos pais, ambos médicos, e nunca
precisou trabalhar.
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