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R$ 1,4 bi podem
tirar 7 milhões de
alunos do atraso
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
enviado especial ao Maranhão
Com R$ 1,4 bilhão o Brasil poderia, em tese, eliminar a defasagem
que emperra o fluxo escolar e levar
7 milhões de alunos com pelo menos dois anos de atraso para uma
série mais compatível com a idade.
É uma soma grande, mas não
impossível de se obter. Equivale a
três meses de arrecadação da
CPMF -a contribuição sobre
movimentações financeiras, que
se destina à área de saúde.
Por R$ 200 a mais per capita seria possível fazer um aluno atrasado saltar até três séries. Não se trata de mágica, mas de investimento
em livros, material didático, treinamento do professor, supervisão
e avaliação externa, diz o consultor João Batista Araújo e Oliveira.
As chamadas classes de aceleração já são uma realidade em vários
Estados, com resultados positivos.
Os projetos mais antigos, alguns
com três anos, estão sendo implementados no Maranhão (leia texto
ao lado), em Minas Gerais e em
São Paulo.
Segundo dados do Ministério da
Educação (MEC), cerca de 150 mil
alunos estão se beneficiando desses programas no país e saltando,
por exemplo, da 2ª série para a 5ª
série do ensino fundamental. Mas
isso ainda é pouco -apenas 2,1%
do total de alunos aptos a estarem
em uma classe de aceleração.
As altas taxas de repetência, a
entrada tardia das crianças na escola e a evasão formam o tripé de
problemas que provoca o atraso
escolar e que forma o principal
gargalo do ensino público do país.
A defasagem chegou a tal ponto
que há no Brasil mais alunos matriculados no ensino fundamental
do que crianças de sete a 14 anos,
as quais, em tese, seriam a população total atendida por essas oito
primeiras séries.
Dos quase 34 milhões de matrículas, ao menos 5,5 milhões são de
adolescentes de 15 anos ou mais,
que já deveriam estar no ensino
médio, mas, por causa do atraso
escolar, estão engarrafando as
classes do ensino fundamental.
Do ponto de vista da escola, a
defasagem idade/série provoca
acúmulo de estudantes nas primeiras séries e ineficiência: todo
ano os professores têm de ensinar
a mesma coisa para pelo menos
30% dos alunos do ensino fundamental que não passaram de ano.
Para o estudante, repetir várias
vezes a mesma série acaba por estigmatizá-lo, além de provocar
distorções no perfil das classes.
Nos casos mais dramáticos, jovens
de 14 anos são obrigados a conviver com crianças com a metade da
sua idade numa classe de 1ª série.
"Um dos problemas mais graves é para a auto-estima do aluno", afirma Iara Prado, secretária
de ensino fundamental do MEC.
Desestimulado, o estudante tende
a abandonar a escola.
Classes de aceleração
É por essa razão, diz a secretária,
que o ministério da Educação lançou uma linha de financiamento
para os Estados que quiserem adotar programas de aceleração de
aprendizagem: "As classes são organizadas por idade, com material
adequado à faixa etária e um professor treinado para lidar com esse
aluno que já tem a auto-estima
muita baixa".
O MEC financia o material didático e a capacitação dos professores. O resto fica por conta dos governos estaduais. Até a iniciativa
privada tem se envolvido no problema. A Fundação Ayrton Senna,
por intermédio da Fundação Carlos Chagas, também tem financiado classes de aceleração.
A base do problema, entretanto,
requer outras iniciativas. O acúmulo de alunos atrasados em relação à série que deveriam estar se
deve, principalmente, à interrupção do fluxo escolar. Em outras
palavras, à repetência.
Um estudo comparando os dados dos censos escolares de 1995 e
1996 mostra que há dois gargalos
principais: na 1ª e na 5ª séries do
ensino fundamental. No primeiro
caso, apenas 54 de cada 100 alunos
matriculados passam à 2ª série. No
outro, só 59 de 100 são promovidos para a 6ª série.
As melhores taxas de aprovação
ocorrem na 4ª e 8ª séries: 75/100 e
79/100, respectivamente.
Na 1ª série, o gargalo ocorre porque os alunos que não conseguem
ser alfabetizados acabam reprovados. Na 5ª série é quando se dá a
transição curricular e, em algumas
escolas, vários professores, lecionando disciplinas específicas, dão
aula para a mesma classe.
Para Iara Prado, o problema não
é com os alunos, mas com os professores. Ela considera que boa
parte do corpo docente não tem
formação pedagógica adequada,
nem domina os conteúdos das disciplinas que devem ensinar.
Segundo João Batista Gomes Neto, diretor do Instituto Nacional
de Ensino e Pesquisa Educacionais, a situação já foi pior.
Entre outros motivos para a melhoria do fluxo escolar nos últimos
anos, ele aponta, por exemplo, a
adoção do ciclo básico de alfabetização em Estados como São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
Nesse sistema, os alunos das primeiras séries do ensino fundamental são promovidos automaticamente às séries seguintes. Mesmo assim, diz Gomes Neto, o Brasil ainda registra taxas muito altas
de repetência da 1ª à 5ª série.
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