São Paulo, domingo, 8 de fevereiro de 1998

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Programa no Maranhão tenta erradicar o atraso escolar até 2002
Classe de aceleração faz aluno recuperar vontade de estudar

do enviado especial ao Maranhão

Magro, 1,55 metro de altura, Alessandro Brandão não se destaca pelo tamanho entre seus colegas de classe. Mas umas poucas palavras, ditas timidamente, são suficientes para que sua voz grossa revele a idade.
Aos 14 anos, ele estuda com 21 outros meninos e meninas em uma classe de aceleração da Unidade Integrada Renascença, na região central de São Luís.
Sua história é parecida com a de outros 126 mil alunos de 1ª a 4ª série da rede estadual do Maranhão. Pobre, começou a estudar com mais de 7 anos, repetiu a 2ª série mais de uma vez, abandonou e voltou à escola. Agora, Alessandro e seus colegas estão defasados mais de dois anos em relação à idade.
Mesmo na classe de aceleração, ele tem colegas quatro anos mais novos. Os mais novos se queixam que apanham do maior, Alessandro reclama das provocações: "É chato estudar com criança pequena. Eles fazem muita confusão", diz.
Apesar de estar há vários anos na escola, Alessandro diz que só aprendeu a ler depois de entrar na classe de aceleração, há dois anos. "Aqui é mais fácil de aprender...", diz. Sua maior esperança é passar para a 5ª série.
Esse também é o objetivo de Solange Buzar, gerente do projeto de aceleração de estudos do governo maranhense. Desde que o programa foi implantado, em 1995, ela calcula que 60% dos alunos com defasagem série/idade já passaram ou estão em alguma classe de aceleração.
No primeiro ano eram 1.300 alunos em 20 escolas, em São Luís e municípios vizinhos. Neste ano, deve atender 35 mil alunos em 143 municípios do Estado. A média de aprovação tem variado de 83% a 88%.
O acompanhamento dos egressos das classes de aceleração tem mostrado que seu desempenho, depois que voltam para as classes regulares, é equivalente ao dos demais alunos.
Nesse ritmo, Solange acredita que o atraso escolar nas primeiras quatro séries do ensino fundamental vai estar erradicado no Estado por volta de 2002.
Mas as coisas não são tão fáceis. "Esse é um programa temporário. Junto, tem que haver ações preventivas para evitar que o problema original permaneça. Se não, no fim vamos ter mais classes de aceleração do que classes regulares."
Eline Rios Sousa, 11 anos, 1,33 metro, adora o projeto. Conta que nunca foi reprovada. Foi para a classe de aceleração porque, quando estava na 2ª série, mudou-se do Pará para o Maranhão e perdeu o ano porque não havia vagas em São Luís. No ano seguinte, foi obrigada a voltar à 1ª série. Agora, após um ano de aceleração, foi para a 5ª série.
Para ela, o que mudou não foi só a perspectiva de andar mais rápido: "Antes era mais ou menos chato vir para a escola. Agora, as aulas são mais dinâmicas". Eline já faz planos. Quer ser professora: "Gosto de crianças. Quero ensinar as crianças".



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