São Paulo, domingo, 8 de fevereiro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SP, 36,8øC
Escândalos em Brasília e louras com 'tchan' ocupavam noticiário há 42 anos
Verão de 1998 repete calor e clima da estação de 1956

CYNARA MENEZES
da Reportagem Local

O verão de 1998 é um repeteco de outro verão quente em São Paulo: em 1956, o termômetro chegou aos 36,8øC. O Congresso Nacional também pegava fogo, e louras com muito mais "tchan" ocupavam o noticiário.
Naquele verão quando a sociedade paulistana ia ao Guarujá fugir do "mormaço desagradável que embota os ares planaltinos", Marilyn Monroe estreava "O Pecado Mora ao Lado", de Billy Wilder.
Enquanto a loura norte-americana se refrescava deixando a saia voar, a vedete e também platinada Elvira Pagã escandalizava posando sem blusa. Cobrindo os seios com as mãos, anunciava o espetáculo "O Pecado em Sete Véus".
Na Câmara, parlamentares trocavam sopapos discutindo a viagem do então presidente eleito Juscelino Kubitschek aos Estados Unidos e à Europa. Quem pagou? JK garantia custear com recursos próprios.
A temperatura subia dia após dia: "Recorde de calor: 35,5 na capital", estampava a Folha da Manhã de 10 de janeiro de 1956. Uma semana depois, o pico de 36,8øC e o texto: "A cidade ardia sob o rigor da canícula".
Parece longínquo o tempo em que calor forte era chamado de canícula, mas a incrível receita de um cientista norte-americano para acabar com o calor ainda soa como a descoberta do século.
"Se você não suporta o calor e agora está aborrecido porque o verão chegou, esqueça-se disso", dizia a reportagem da mesma Folha. O professor Morton J. Rodman, da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, tinha a solução.
Depois de estudar os efeitos do calor sobre o homem em um aparato por ele criado, concluiu o gênio da época: quando o ar está úmido de calor e começa a provocar suor, "o melhor que se pode fazer é ficar parado". Mas, em São Paulo, que não pára? Ele não soube responder.
Os anúncios de moda apregoavam novos tecidos: náilon para vestidos de baile, alpaca tropical para ternos, sandálias masculinas made in México, calçados para mulheres em crochê.
Inspirado naquele verão, o artista plástico Flávio de Carvalho, lançaria meses mais tarde, para "libertar o homem do calor e dos seus maléficos efeitos", o novo traje masculino.
Ele desfilou na Barão de Itapetininga de blusa vermelha de náilon com um tubo instalado na ponta que afastava o tecido do corpo e permitia a ventilação, e saiote já por si refrigerado. O "New Look 56", como chamou, é também revivido em 98, a pedido da Folha, pelo artista plástico Guto Lacaz, em visão ainda mais refrescante. Sigam-no os bons.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.