São Paulo, domingo, 8 de fevereiro de 1998

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SP, 36,8øC
Paulistano culpa excesso de concreto e falta de verde pela elevação das temperaturas na cidade
Saia levantada e chope são saídas para calor

da Reportagem Local

Foi duro para o paulistano aguentar: o termômetro chegou aos 34øC na quarta-feira e deixou saudade do tempo em que a cidade era a terra da garoa.
"Pelamordedeus!", exclamava em inconfundível "paulistanês" o executivo José Carlos Cordeiro, 45, mal-ajambrado em seu terno e gravata, no calor da avenida Paulista.
"Tive que ir a Jacareí (interior do Estado) em um carro sem ar-condicionado e voltei a 140 km/h, com perigo de multa, para chegar logo ao paraíso do meu escritório."
Henri Greindl, 40, provavelmente o único belga do mundo a passar o verão em São Paulo há dez anos, cruzava a mesma avenida empapado de suor e garantia: "Eu aguento. Até 30 graus é bom."
Nunca se amou tanto ambientes refrigerados, e os camelôs fizeram a festa dos ventiladores, coloridos, em diversos tamanhos, elétricos e a pilha, com preços nunca maiores do que R$ 25,00.
Tudo era melhor do que ir para a rua sob o sol forte, o ar pesado de umidade. As farmacêuticas Sônia Veiga, 30, Maria Angélica Carlucci, 32, e Marina Takahashi, 27, não tiveram opção de fuga.
Representantes de medicamentos, elas passam o dia de um lado para o outro. "Já cheguei a um consultório toda descabelada e com a saia molhada de suor. Morri de vergonha", conta Sônia.
"Quando estou no carro, na meia-sauna (com o vidro fechado até o meio), levanto a saia. Mulher sua muito entre as pernas", diz Maria Angélica.
O alento das três era o mesmo de milhares de paulistanos no final do dia: muito chope gelado. "É quase melhor do que banho", disse Marina.
O arquiteto Pedro Cury, presidente do IAB-SP (regional do Instituto de Arquitetos do Brasil), culpava o caos urbano pelo calor.
"A quantidade enorme de edifícios impede a circulação do ar. O asfalto retém a umidade e, quando o sol bate, devolve o vapor para a atmosfera", explica.
"Segundo a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o mínimo de área verde recomendável é 12 m2 por habitante. São Paulo tem menos de 32."
E a garoa? O meteorologista Ernesto Alvim, do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), também culpou a falta de verde. "A garoa é uma chuva fina. Se ela encontra uma camada seca, evapora antes de cair", explica. E avisa: o calor não vai acabar tão cedo.
(CYNARA MENEZES)



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