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SP, 36,8øC
Paulistano culpa excesso de concreto e falta de
verde pela elevação das temperaturas na cidade
Saia levantada e chope são saídas para calor
da Reportagem Local
Foi duro para o paulistano
aguentar: o termômetro chegou
aos 34øC na quarta-feira e deixou
saudade do tempo em que a cidade
era a terra da garoa.
"Pelamordedeus!", exclamava
em inconfundível "paulistanês" o
executivo José Carlos Cordeiro,
45, mal-ajambrado em seu terno e
gravata, no calor da avenida Paulista.
"Tive que ir a Jacareí (interior
do Estado) em um carro sem
ar-condicionado e voltei a 140
km/h, com perigo de multa, para
chegar logo ao paraíso do meu escritório."
Henri Greindl, 40, provavelmente o único belga do mundo a passar o verão em São Paulo há dez
anos, cruzava a mesma avenida
empapado de suor e garantia: "Eu
aguento. Até 30 graus é bom."
Nunca se amou tanto ambientes
refrigerados, e os camelôs fizeram
a festa dos ventiladores, coloridos,
em diversos tamanhos, elétricos e
a pilha, com preços nunca maiores
do que R$ 25,00.
Tudo era melhor do que ir para a
rua sob o sol forte, o ar pesado de
umidade. As farmacêuticas Sônia
Veiga, 30, Maria Angélica Carlucci, 32, e Marina Takahashi, 27, não
tiveram opção de fuga.
Representantes de medicamentos, elas passam o dia de um lado
para o outro. "Já cheguei a um
consultório toda descabelada e
com a saia molhada de suor. Morri
de vergonha", conta Sônia.
"Quando estou no carro, na
meia-sauna (com o vidro fechado
até o meio), levanto a saia. Mulher
sua muito entre as pernas", diz
Maria Angélica.
O alento das três era o mesmo de
milhares de paulistanos no final
do dia: muito chope gelado. "É
quase melhor do que banho", disse Marina.
O arquiteto Pedro Cury, presidente do IAB-SP (regional do Instituto de Arquitetos do Brasil),
culpava o caos urbano pelo calor.
"A quantidade enorme de edifícios impede a circulação do ar. O
asfalto retém a umidade e, quando
o sol bate, devolve o vapor para a
atmosfera", explica.
"Segundo a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o mínimo de área verde recomendável é
12 m2 por habitante. São Paulo
tem menos de 32."
E a garoa? O meteorologista Ernesto Alvim, do Inmet (Instituto
Nacional de Meteorologia), também culpou a falta de verde. "A
garoa é uma chuva fina. Se ela encontra uma camada seca, evapora
antes de cair", explica. E avisa: o
calor não vai acabar tão cedo.
(CYNARA MENEZES)
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