São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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Funcionário é peça-chave para segurança

Segundo delegado, condomínios repassam responsabilidade pela proteção para o porteiro, mas não valorizam profissional

Empresa de segurança privada paga salários de R$ 1.500 a R$ 2.000 para funcionários, que têm antecedentes verificados


Diego Padgurschi/Folha Imagem
Condomínio fechado na zona norte reforçou a seguranca após assalto ocorrido em janeiro

DA REPORTAGEM LOCAL

Funcionários são a peça-chave tanto para evitar quanto para facilitar o roubo de condomínios, afirmam empresários de segurança, especialistas em violência e a própria polícia.
"Em 90% dos condomínios, quem cuida do acesso é o porteiro, eventualmente o zelador ou até o faxineiro", afirma o delegado Edison Santi, do Deic. De acordo com Santi, o porteiro, que era uma espécie de relações-públicas do condomínio, foi se tornando um encarregado da segurança -e sendo cobrado por isso.
Segundo o delegado, além de cobrar, é preciso prestigiar esses profissionais. "Quando ele barra [alguém] acaba sendo punido porque era parente de morador e demorou dez minutos para deixar entrar", diz.
"Como pagar um salário mínimo ou dois e exigir que o funcionário não converse, não tome café e fique em pé o dia todo? Quem zela por nós ganha muito mal; às vezes não ganha nem bom dia", diz o jornalista morador do edifício assaltado em Perdizes na segunda-feira.
"Muitos só vão ao médico quando começam a sentir algum tipo de dor", diz José Antônio Caetano, diretor comercial da Haganá, sobre a procura por segurança privada. A empresa fez uma proposta para cuidar do prédio em Perdizes e oferece guaritas blindadas e seguranças na calçada, cuja tarefa é abordar todos os moradores, visitantes e funcionários que quiserem entrar.
Na última quarta, enquanto o calor em São Paulo ultrapassava os 30C, dois seguranças vestindo ternos ficavam em pé sob o sol controlando a entrada de um condomínio na zona norte, um dos que sofreram arrastão neste ano. Segundo o diretor da empresa para a qual trabalham, o salário deles varia de R$ 1.500 a R$ 2.000 para uma jornada de 11 a 12 horas, com uma hora de intervalo. Antes de serem contratados, é feita uma investigação de sua vida; depois, passam por treinamento de cinco dias para conhecer os procedimentos.
"Quando entram na sua casa reviram o mundo material, mas com isso reviram o mundo interno. Quando chega a proposta da companhia de segurança, você se agarra nela com unhas e dentes, é a tábua de salvação. Mas o mundo interno você não consegue organizar sozinho, precisa do coletivo. O que se recomenda é resgatar a vida social", diz o psicólogo Sérgio Kodato, do Observatório de Violência da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto.
Melina Risso, diretora de desenvolvimento do Instituto Sou da Paz, conta que no prédio onde mora, vizinho do edifício assaltado em Perdizes, o debate sobre medidas de segurança já começou. "[Esses casos] começam a gerar paranoia e um círculo vicioso muito ruim. Quanto mais medo, mais você se tranca, menos você convive com os diferentes."
Para ela, é preciso pensar numa ação que articule o bairro, o quarteirão e a rua, que trabalhe em conjunto com a polícia e que faça com que os moradores também se responsabilizem pelo processo de segurança.


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