São Paulo, Segunda-feira, 08 de Março de 1999
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Mãe diz ter deixado que líder de seita castrasse o seu filho

LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém

A mãe do adolescente I.R.J.C.B., Rosa Helena de Jesus Silva, disse anteontem, em depoimento ao Ministério Público, que consentiu na castração de seu filho quando foi questionada pelo líder da seita Mundial, Donato Brandão.
Segundo depoimento de Rosa, Brandão teria dito que estava preocupado com as atitudes do adolescente, que havia desaparecido de casa por um mês.
Rosa, que é integrante da seita desde 1996, confirmou que seu filho havia dormido algumas vezes no mesmo quarto que Brandão.
Hoje é o prazo final para a conclusão do inquérito policial. De acordo com a promotora Martha Helena Ribeiro, o Ministério Público pode, ainda nesta semana, denunciar Brandão por, pelo menos, sete crimes.

Testemunhas
Rosa é a quarta testemunha a confirmar a participação de Brandão na mutilação de I.R.J.C.B., 17, Rejânio de Jesus Morais, 21, e José Ribamar Cidreira, 23. As castrações ocorreram durante um suposto assalto no dia 5 de fevereiro, na praia de Araçagy, em São Luís.
Morais disse, em depoimento, que a intenção de Brandão era torná-los "arcanjos" com a castração.
O estudante Israel de Souza Silva afirmou que teria sido procurado por Brandão para que ele contratassem, por R$ 500, os três homens que cometeram o crime.
O integrante da seita Joaquim Nabuco da Cunha, que auxiliou na castração, também confirmou o envolvimento de Brandão.
A aposentada Zélia Mondego, que disse ter vivido três meses em regime marital com o líder, disse que suspeitava do relacionamento de Brandão com I.R.J.C.B.

Denúncias
O líder da seita Mundial, que cumpre prisão temporária, deve ser denunciado sob a acusação de atentado violento ao pudor, lesão corporal de natureza grave com deformidade permanente, estelionato, redução de pessoas a regime análogo à semi-escravidão, reconhecimento ilegal de paternidade, falsidade ideológica e falsificação de documentos.
Em 1994, Brandão já havia sido condenado a nove anos de prisão por atentado violento ao pudor praticado contra menores.
Além de Brandão, Joaquim Cunha também está detido.
Já o estudante Israel de Souza Silva, que depôs na última sexta-feira, teve o pedido de prisão preventiva negado pelo juiz.
Os três homens que teriam sido contratados por Brandão para praticar a castração nos três rapazes continuam desaparecidos.


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