São Paulo, segunda-feira, 08 de abril de 2002

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SAÚDE

Pelo menos metade das cidades de SP infestadas pelo Aedes aegypti não mede índice útil para o planejamento das ações

Municípios combatem a dengue "no escuro"

André Sarmento/Folha Imagem
Agente participa de mutirão contra a dengue na Sociedade Paulista de Trote, na Vila Guilherme (zona norte de São Paulo


FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Estimativa feita pela Sucen revela que hoje pelo menos metade dos 485 municípios paulistas infestados pelo mosquito da dengue faz o combate ao inseto "no escuro", sem realizar a medição do índice de Breteau, um indicador da densidade de larvas do mosquito transmissor da doença.
O índice de Breteau mede o número de criadouros de larvas do mosquito para cada cem imóveis vistoriados. É um indicador utilizado desde o início do século passado para o planejamento e avaliação das ações de controle do Aedes aegypti. Algumas cidades, como a capital, somente contam os focos do mosquito encontrados. Mas, por não utilizarem o índice de Breteau, não podem relativizar o dado.
No caso de um município verificar que o seu número de focos diminuiu de um mês para outro, apenas essa informação não é suficiente para que as autoridades tenham certeza de que o combate deu resultados. Pode significar, por exemplo, que as equipes de agentes sanitários reduziram a intensidade do trabalho e por isso encontraram menos criadouros.
O índice é uma forma mais refinada de avaliação, que permite identificar até o tipo de criadouro predominante (veja quadro). Ele é o resultado de vistorias em várias áreas com o mesmo critério, durante o mesmo período e com uma frequência determinada, que vai de mensal a trimestral, dependendo do tamanho do município. É independente, portanto, do aumento ou redução das atividades de combate ao mosquito.
"O índice é a linha central do trabalho, importante para o município saber o resultado que está sendo obtido. Esse resultado também vai permitir que ele redirecione o trabalho, se necessário. Poderá verificar ainda as áreas com os índices mais elevados, priorizar alguns tipos de criadouros. Sem o índice, a cidade trabalha um pouco no escuro", diz Carmen Moreno Glasser, responsável pela área de controle de vetores da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), que assessora as prefeituras paulistas no combate à dengue.
O trabalho, segundo ela, exige mais funcionários e treinamento. O problema, diz Carmen, é que muitas cidades ainda desconhecem a importância do indicador.

Sem controle
Em uma avaliação feita em janeiro deste ano, apenas 123 dos 485 municípios infectados pelo mosquito da dengue apresentaram o índice de Breteau. A funcionária da Sucen afirma que não há números atualizados no momento, mas acredita que a situação possa ter mudado.
Sem esses dados, porém, a Sucen fica impedida de ter uma "fotografia" da densidade de larvas no Estado de São Paulo.
A infestação do mosquito da dengue já atinge 75% dos 645 municípios do Estado.

Avaliação de risco
De acordo com Carmen, um baixo índice de Breteau não é garantia de menos casos de dengue. Mas quanto menor o valor, menor o risco da doença.
Santos, por exemplo, o município de São Paulo com maior número de casos de dengue confirmados (2.479 até a semana passada), teve um índice de Breteau total baixo em janeiro e fevereiro deste ano. Mas, além da infestação do mosquito, outros fatores têm de ser levados em conta para explicar o aparecimento de mais casos da doença, como temperatura e fluxo de pessoas.
O mosquito só se torna um transmissor da doença a partir do momento em que pica uma pessoa infectada pelo vírus da dengue. As altas temperaturas favorecem sua procriação.
"Santos merece um estudo mais aprofundado, em possíveis criadouros fora das casas", afirma Carmen. A Sucen quer verificar se há focos do mosquito em bueiros, por exemplo.



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