São Paulo, segunda-feira, 08 de abril de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Além de sensibilizar mulheres férteis, hospital quer incentivar as inférteis que tiveram filhos a doar medicamentos

Campanha da Santa Casa de SP estimula doação de óvulos

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O serviço de reprodução assistida da Santa Casa de São Paulo iniciou uma campanha inédita: ao mesmo tempo que pretende estimular as mulheres férteis que vão fazer uma laqueadura a doar antes da cirurgia os seus óvulos a um casal infértil, quer sensibilizar outras mulheres que já tiveram os seus filhos para que doem medicamentos indutores de ovulação às inférteis carentes. Ambas doações devem ser anônimas.
Só em São Paulo, mais de 5.000 casais aguardam a chance de fazer uma FIV (Fertilização In Vitro) em um serviço público. Os únicos locais que custeiam a medicação, Hospital das Clínicas e Pérola Byington, só vão ter novas vagas a partir do segundo semestre. Ainda assim, não aceitam mulheres acima de 37 anos por julgarem baixas as chances de gravidez.
Para o o médico Nilson Donadio, 65, idealizador da campanha, as mulheres devem fazer a doação de óvulos ou de medicamentos por puro altruísmo. "Deve ser um ato humanitário, de amor ao próximo." Segundo ele, a campanha pode ajudar muitos casais inférteis que, por falta de recursos financeiros, não conseguem um filho. Só de medicamentos, um casal gasta em média R$ 3.000 por tentativa de gravidez.
A Santa Casa é o único serviço público de infertilidade que não tem fila de espera e também não restringe o atendimento pelo critério da idade. Para mulheres acima de 38 anos que não produzem bons óvulos, segundo Donadio, é sugerido que tentem a gravidez com óvulos doados.

Troca
Na realidade, a campanha de arrecadação de óvulos e de medicamentos é uma variação de um programa de doação de óvulos que já existe há mais de dois anos na Santa Casa. Por meio dele, mulheres que têm bons óvulos e que, por qualquer outro problema, não conseguem engravidar (trompas obstruídas ou infertilidade do marido, por exemplo) podem trocá-los por medicamentos doados por uma outra infértil que não tenha condições de engravidar com os próprios óvulos.
Foi o que aconteceu com a dona-de-casa Cícera, 24. Ela tinha as trompas obstruídas e não conseguia engravidar naturalmente. Sem dinheiro para custear uma FIV em uma clínica particular, ela resolveu doar parte dos seus óvulos em troca dos medicamentos que precisava para engravidar.
Na primeira tentativa de FIV que fez na Santa Casa ela engravidou de gêmeos. Cícera não sabe quantos óvulos seus foram doados. "Eu só queira ter os meus filhos. Quando consegui, nem pensei mais nos óvulos doados."
Segundo Donadio, a doação de óvulos elimina também um outro problema verificado nas clínicas de fertilização: o congelamento de embriões excedentes. Durante o processo de FIV, estimula-se a produção de muitos óvulos.
O Conselho Federal de Medicina só permite que, no máximo, quatro embriões sejam transferidos para o útero. O restante deve ser congelado por até três anos. Depois, o casal deve decidir se vai implantá-los ou se vai doá-los.
Pesquisa feita recentemente na clínica Fertility, com 721 casais com problemas de infertilidade, mostrou que apenas 37,8% deles aceitariam doar os óvulos excedentes do processo de reprodução assistida. Segundo o médico Edson Borges Júnior, diretor da Fertility e presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, atualmente, a única fonte de óvulos para doação é casais em tratamento para gravidez.
Para Borges Júnior, a campanha de doação de óvulos por mulheres férteis é uma ótima iniciativa, mas envolve riscos, por menores que sejam. "Elas vão ter de tomar remédios para estimular os ovários a produzir mais óvulos e certamente terão efeitos colaterais."
Além disso, segundo ele, o hospital vai ter de bancar o medicamento. Segundo Donadio, nesses casos, podem ser usados medicamentos de baixo custo, como o Clomid, que têm menos efeitos sobre o organismo da mulher.


O serviço de reprodução assistida da Santa Casa funciona às segundas e quartas-feiras à tarde e às terças de manhã. O telefone é 0/xx/11/3224-0122, ramal 5909



Texto Anterior: Livros jurídicos - Walter Ceneviva
Próximo Texto: Violência: Aprenda a reduzir o risco de ser vítima
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.