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SAÚDE
Além de sensibilizar mulheres férteis, hospital quer incentivar as inférteis que tiveram filhos a doar medicamentos
Campanha da Santa Casa de SP estimula doação de óvulos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O serviço de reprodução assistida da Santa Casa de São Paulo iniciou uma campanha inédita: ao
mesmo tempo que pretende estimular as mulheres férteis que vão
fazer uma laqueadura a doar antes da cirurgia os seus óvulos a um
casal infértil, quer sensibilizar outras mulheres que já tiveram os
seus filhos para que doem medicamentos indutores de ovulação
às inférteis carentes. Ambas doações devem ser anônimas.
Só em São Paulo, mais de 5.000
casais aguardam a chance de fazer
uma FIV (Fertilização In Vitro)
em um serviço público. Os únicos
locais que custeiam a medicação,
Hospital das Clínicas e Pérola
Byington, só vão ter novas vagas a
partir do segundo semestre. Ainda assim, não aceitam mulheres
acima de 37 anos por julgarem
baixas as chances de gravidez.
Para o o médico Nilson Donadio, 65, idealizador da campanha,
as mulheres devem fazer a doação
de óvulos ou de medicamentos
por puro altruísmo. "Deve ser um
ato humanitário, de amor ao próximo." Segundo ele, a campanha
pode ajudar muitos casais inférteis que, por falta de recursos financeiros, não conseguem um filho. Só de medicamentos, um casal gasta em média R$ 3.000 por
tentativa de gravidez.
A Santa Casa é o único serviço
público de infertilidade que não
tem fila de espera e também não
restringe o atendimento pelo critério da idade. Para mulheres acima de 38 anos que não produzem
bons óvulos, segundo Donadio, é
sugerido que tentem a gravidez
com óvulos doados.
Troca
Na realidade, a campanha de arrecadação de óvulos e de medicamentos é uma variação de um
programa de doação de óvulos
que já existe há mais de dois anos
na Santa Casa. Por meio dele, mulheres que têm bons óvulos e que,
por qualquer outro problema,
não conseguem engravidar
(trompas obstruídas ou infertilidade do marido, por exemplo)
podem trocá-los por medicamentos doados por uma outra infértil
que não tenha condições de engravidar com os próprios óvulos.
Foi o que aconteceu com a dona-de-casa Cícera, 24. Ela tinha as
trompas obstruídas e não conseguia engravidar naturalmente.
Sem dinheiro para custear uma
FIV em uma clínica particular, ela
resolveu doar parte dos seus óvulos em troca dos medicamentos
que precisava para engravidar.
Na primeira tentativa de FIV
que fez na Santa Casa ela engravidou de gêmeos. Cícera não sabe
quantos óvulos seus foram doados. "Eu só queira ter os meus filhos. Quando consegui, nem pensei mais nos óvulos doados."
Segundo Donadio, a doação de
óvulos elimina também um outro
problema verificado nas clínicas
de fertilização: o congelamento de
embriões excedentes. Durante o
processo de FIV, estimula-se a
produção de muitos óvulos.
O Conselho Federal de Medicina só permite que, no máximo,
quatro embriões sejam transferidos para o útero. O restante deve
ser congelado por até três anos.
Depois, o casal deve decidir se vai
implantá-los ou se vai doá-los.
Pesquisa feita recentemente na
clínica Fertility, com 721 casais
com problemas de infertilidade,
mostrou que apenas 37,8% deles
aceitariam doar os óvulos excedentes do processo de reprodução assistida. Segundo o médico
Edson Borges Júnior, diretor da
Fertility e presidente da Sociedade
Brasileira de Reprodução Assistida, atualmente, a única fonte de
óvulos para doação é casais em
tratamento para gravidez.
Para Borges Júnior, a campanha
de doação de óvulos por mulheres
férteis é uma ótima iniciativa, mas
envolve riscos, por menores que
sejam. "Elas vão ter de tomar remédios para estimular os ovários
a produzir mais óvulos e certamente terão efeitos colaterais."
Além disso, segundo ele, o hospital vai ter de bancar o medicamento. Segundo Donadio, nesses
casos, podem ser usados medicamentos de baixo custo, como o
Clomid, que têm menos efeitos
sobre o organismo da mulher.
O serviço de reprodução assistida da
Santa Casa funciona às segundas e quartas-feiras à tarde e às terças de manhã. O
telefone é 0/xx/11/3224-0122, ramal
5909
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