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Prefeitura diz não poder barrar empresa
DA REPORTAGEM LOCAL
A Secretaria Municipal dos
Transportes diz ter conhecimento
das viações de ônibus com sócios
do Uruguai, mas afirma que não
há ilegalidade na transferência delas ao paraíso fiscal e que, por esse
motivo, não pode barrá-las na licitação do novo modelo de transporte coletivo paulistano.
Ela informa ainda, por meio da
assessoria de imprensa, que esses
empresários de ônibus que participam da licitação também têm
escritórios no Brasil, ainda que
haja sócios estrangeiros.
Questionada se não haveria riscos para a prefeitura caso precise
mover ações judiciais contra os
sócios dessas viações, a secretaria
informou que elas fazem parte de
consórcios, que são, por contrato,
solidários e responsáveis pelos
problemas causados por todas as
empresas que os integram.
A licitação do novo modelo de
transporte foi lançada em janeiro
deste ano. A intenção da administração Marta Suplicy (PT) é implantar as novas regras até julho.
O novo sistema prevê a existência de linhas locais, restritas aos
bairros, com tarifa reduzida (R$
1,40) e operada por microônibus,
e estruturais, ligando os bairros
ao centro, com veículos maiores e
tarifa próxima da atual (R$ 1,70).
A prefeitura esperava a participação de empresários de ônibus
de fora do Estado, mas apenas os
que já atuam na capital paulista
entregaram os envelopes. Dos oito lotes em disputa, sete tiveram
apenas um interessado.
A prefeitura chegou a inabilitar
todas as empresas que disputavam as oito áreas da licitação por
problemas de documentação. Por
falta de novos interessados, porém, deu um novo prazo para que
essas viações regularizassem os
documentos.
No último sábado saíram os novos resultados da habilitação técnica das participantes no "Diário
Oficial" do município. O consórcio Audy, integrado pela Solution
Bus, foi inabilitado por problemas
de documentação.
Especialistas
O advogado Fábio Ulhôa Coelho, professor da PUC-SP e especialista em direito societário, explica que a criação de offshores
em paraísos fiscais se tornou comum até mesmo pelos custos baixos resultantes da criação delas.
Ele diz (em tese, sem conhecer
de perto a situação das viações de
ônibus) que "a operação, em si,
não é ilegal", mas que nunca, em
sua vida profissional, soube de
uma transação dessas cuja intenção não fosse "fugir das responsabilidades" no Brasil.
O especialista afirma ainda que,
para evitar riscos, caberia ao poder público criar regras em uma
licitação para impedir a participação dessas empresas.
A subprocuradora da República
Ela Wiecko de Castilho disse que
as transferências a paraísos fiscais
(Uruguai, por exemplo) despertam suspeitas principalmente
quando querem "ocultar" os verdadeiros donos. "O fato de querer
ocultar pode ser revelador de uma
coisa ilícita", disse Castilho.
Ela afirma que há previsão de
cooperação internacional entre os
países em caso de buscas judiciais,
mas que, "na prática, é tudo muito complicado", "nunca dá certo".
Um representante da Procuradoria da República em São Paulo,
que preferiu não se identificar por
ter a intenção de investigar esse
tema oficialmente, disse que a situação societária das empresas de
ônibus, conforme relatado pela
Folha, tem "fortes indícios ilícitos". Ele ressalta que, embora a
criação de offshores não seja ilegal, pode haver implicações criminais se comprovada a intenção
de lavagem de dinheiro ou de escapar das ações judiciais.
(AI E CG)
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