São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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ADMINISTRAÇÃO

Governo pretende implantar 30 unidades neste semestre, 20 delas na cidade comandada por Marta Suplicy

Lula privilegia SP com Farmácia Popular

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Considerada pelo próprio PT a área de pior avaliação da prefeita Marta Suplicy, a saúde da cidade de São Paulo vai ganhar um reforço federal a seis meses das eleições municipais. A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o programa Farmácia Popular, promessa da campanha presidencial petista atrasada há pelo menos oito meses, começará pela capital paulista nas próximas semanas.
Cercado de sigilo no Ministério da Saúde, o Farmácia Popular nada mais é do que uma rede de farmácias públicas que venderão medicamentos a preços mais baixos do que os da rede privada.
A aceleração do projeto, que coincide com o calendário eleitoral, foi uma ordem de Lula ao ministro da Saúde, Humberto Costa. Ele quer 20 unidades funcionando na cidade de São Paulo nas próximas semanas. Outras dez seriam implantadas no Rio de Janeiro e em duas capitais administradas pelo PT: Recife e Goiânia.
Pelo plano que repousa na mesa do ministro, os preços seriam, em média, 40% mais baixos do que os dos remédios vendidos em drogarias comuns. O público alvo do programa são as classe média e média baixa, expulsas nos últimos anos dos planos de saúde privados e que hoje disputam com os mais pobres vagas e remédios nos postos municipais e estaduais.
As primeiras unidades do Farmácia Popular serão construídas em grandes avenidas da capital paulista, a maioria na região central. Os locais serão definidos após a prefeitura decidir qual será sua contrapartida -se cederá os terrenos, funcionários ou os dois.
O Ministério da Saúde não deu informações sobre o Farmácia Popular. Limitou-se a dizer que será lançado "em breve".
Dirigentes petistas identificaram três grandes preocupações entre os brasileiros que elegerão os novos prefeitos em outubro: segurança, desemprego e saúde. Suas pesquisas internas revelam o mesmo panorama que se extrai das planilhas do último levantamento do Datafolha, publicado duas semanas atrás.
O sistema de saúde municipal é muito mal avaliado pelos paulistanos. Apenas 12% dizem que os serviços são ótimos ou bons. Mais da metade dos entrevistados (55%) diz que são ruins ou péssimos. E a avaliação vem piorando a cada pesquisa, deixando nítidas as diferenças com os projetos prioritários da administração. É o caso dos CEUs, os "escolões" da periferia. A área de educação tem uma avaliação positiva seis vezes maior do que a da saúde. "Esse é o resultado das prioridades escolhidas por Marta", afirma Eduardo Jorge, ex-secretário da Saúde demitido no ano passado.
A estratégia petista é minimizar esses problemas com a chegada do Farmácia Popular. Um assessor próximo à prefeita afirma que a saúde não vai eleger ninguém neste ano, mas que também não vai atrapalhar.
Os problemas -filas intermináveis, remédios em falta e hospitais sem médicos- não são novos. Arrastam-se há várias administrações. Mas podem dificultar a reeleição de Marta, ao afastar grupos tradicionalmente ligados ao PT. "As pessoas não encontram atendimento digno nos hospitais. Esperávamos uma mudança de qualidade na gestão petista", critica Celina Maria de Oliveira, dirigente da União dos Movimentos Populares de Saúde da Cidade de São Paulo, que organizou manifestação na Praça da Sé ontem.

Privilégio
Esta não é a primeira vez que o governo Lula privilegia administrações petistas. De janeiro de 2002 a junho de 2003, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) emprestou R$ 741,3 milhões à Prefeitura de São Paulo -80,6% do total desembolsado pela estatal para investimentos em municípios.
No último domingo a Folha revelou que a gestão Lula aumentou em 84,1% os empenhos de verbas de acordos, convênios e ajustes feitos entre a União e os Estados governados pelo PT. No mesmo período, houve uma redução de 3% dessas transferências no país.


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