São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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Tráfego aéreo tem deficiência de aparelhos

Além da crise aérea, falta de equipamentos para auxiliar tripulação e defasagem tecnológica comprometem segurança dos vôos

No ano passado, a Aeronáutica admitia que 40 aparelhos de auxílio à navegação de pilotos estavam sem funcionar

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de aparelhos básicos para auxiliar pilotos, a defasagem tecnológica dos que existem e a demora para repará-los são sinais de que os passageiros de avião no Brasil não têm por que esperar boas condições para voar mesmo quando -e se- for resolvida a disputa entre controladores e Aeronáutica.
No terceiro mais movimentado aeroporto do país, em Brasília, comandantes não se cansam de reclamar da inoperância de um instrumento básico para a orientação dos pousos em uma das cabeceiras da pista -e que deveria indicar a inclinação do avião na descida.
No Rio, pilotos contestam a demora para que uma gravação eletrônica das condições meteorológicas do aeroporto seja consultada no ar.
Em São Paulo, líder em movimento aeroportuário, equipamentos para orientar acessos às aerovias aguardam há anos soluções definitivas de reparo.
Os problemas são citados diariamente por profissionais da aviação como agravantes potenciais dos atrasos nos vôos -e até de riscos à segurança.
Em novembro de 2006, a Aeronáutica admitia ter 40 aparelhos de auxílio à navegação de pilotos e outras 24 freqüências da comunicação terra-ar sem funcionar no país -4,9% e 2,4% do total, respectivamente.
Nas últimas semanas, a instituição passou a se recusar a revelar os números atualizados. Só diz, em nota, que as informações são restritas "à área de manutenção" -e não públicas.

Precisão do pouso
Em Brasília, a deficiência citada por pilotos e admitida extraoficialmente por oficiais da Aeronáutica é em uma das funções do ILS (Instrument Landing System) da cabeceira 29.
O ILS é um sistema difundido no mundo inteiro para a orientação precisa do pouso. Sem ele -ou com uma das funções prejudicadas-, os pousos perdem precisão e dependem mais da visão e das mãos do piloto. O problema pode inviabilizar as operações em dias de neblina, por exemplo.
O mesmo equipamento ficou um mês quebrado semanas atrás no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP).
O Brasil tem diversos aeroportos de porte significativo e que nem sequer têm ILS. O comandante Célio Eugênio de Abreu Júnior, assessor de segurança de vôo do Sindicato dos Aeronautas, afirma que ao menos sete aeroportos de capitais brasileiras ainda não estão com esses equipamentos, incluindo Vitória e Aracaju.
As despesas do programa de segurança de vôo e controle do espaço aéreo brasileiro programadas para este ano devem ficar perto de R$ 550 milhões.
Já os investimentos nos aeroportos -a maioria dos quais visando a ampliação de capacidade e conforto dos passageiros- acumulam quase R$ 3 bilhões em quatro anos e podem passar de R$ 1 bilhão em 2007.
Ronaldo Jenkins, coordenador de segurança de vôo do Snea (sindicato das empresas aéreas), diz ser "triste" a constatação de que há aeroportos sem nem ao menos ter aparelhos de auxílio dos pousos.

Outro lado
A assessoria de imprensa da Aeronáutica informou que há planos de médio prazo para equipar os aeroportos que não dispõem de ILS e modernizar outros aparelhos do tráfego aéreo. Ela afirmou ainda haver restrições geográficas de funcionamento de equipamentos em alguns lugares onde eles não foram instalados.


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