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Prisão de casal fez jornalista lembrar que foi suspeito da morte de filho de 1 mês
LUISA ALCANTARA E SILVA
DA REDAÇÃO
As imagens da prisão de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá fizeram com que o
escritor e jornalista Guilherme
Fiuza, autor de "Meu Nome
Não É Johnny", lembrasse do
passado -mais precisamente
de 18 anos atrás. Seu primeiro
filho, Pedro, então com um
mês, caiu do 8º andar de um
prédio em Botafogo (RJ). Na
época, Fiuza e a mulher foram
apontados como suspeitos. O
caso foi arquivado por falta de
provas. Ele lembrou do caso em
seu blog e falou à Folha:
FOLHA - Você se identificou com o
Alexandre e a Anna quando eles foram considerados suspeitos?
GUILHERME FIUZA - Me identifiquei porque o que aconteceu foi
que em meia hora eu estava
preso, em casa, com policiais
militares barrando a minha saída, e o advogado chegou e me
disse que tinha uma série de depoimentos de vizinhos, síndico
etc. dando conta de uma coisa
completamente fantasiosa.
FOLHA - Como aconteceu?
FIUZA - Ele [Pedro] caiu da janela às 8h e morreu imediatamente. Estava no colo da minha ex-mulher, mãe dele, na
varanda, ela tropeçou e ele caiu.
Foi uma ocorrência infeliz e
nós, enfim, tínhamos uma vida
muito bacana, era o nosso primeiro filho... E, não mais do que
em duas horas, havia uma versão de que nós brigávamos terrivelmente, de que tinha havido
na noite anterior ruídos de porta batendo, gritaria... Coisa que
surgiu da mente de vizinhos delirantes. O fato é que existiu
uma versão que nos colocava
como suspeitos. Você está no
nível mais baixo a que alguém
pode chegar. E nós estávamos
na posição mais hostil possível,
que era a de suspeitos.
FOLHA - Você viu seus ex-vizinhos
depois?
FIUZA - Não. Me mandei de lá.
Quando um filho seu morre,
dessa maneira, tem um monte
de coisas que você não faz. Você
fica um tempo decidindo se vai
viver ou se não vai.
FOLHA - O que mais o chocou no
caso da Isabella?
FIUZA - Quando eu vi a mãe dela chegando na delegacia e quase sendo derrubada por jornalistas, que são meus colegas.
Acho que as pessoas enlouqueceram ao tratar uma mãe que
perde uma filha dessa maneira.
Falo da combinação perigosa
de vizinhos fofoqueiros, delegados precipitados e a imprensa ávida por notícia. Falta respeito. É possível que o Alexandre seja culpado. Agora, a gente
não sabe. Pode ser que não seja.
FOLHA - Como a polícia deve agir?
FIUZA - Tem que haver o inquérito, mas, nessa situação, tem
que ter um pouco de humanidade para ver que aquelas pessoas são inocentes até que prove o contrário. Você tem que
procurar poupar essas pessoas,
porque pode estar causando
um dano irreversível a elas.
FOLHA - Por que falar sobre isso 18
anos depois?
FIUZA - Me sinto dirigindo o
dedo a essas pessoas [delegado,
vizinhos e imprensa], porque
elas sabem o que fizeram.
FOLHA - Está apontando também
para o delegado, os vizinhos e a imprensa no caso da Isabella?
FIUZA - Exatamente. Se você
não tem respeito pela dor humana, você não tem nada.
FOLHA - Se você encontrasse os
pais de Isabella, diria alguma coisa?
FIUZA - Acho que a única coisa
que você pode nessas horas é
"Eu também passei por isso".
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