São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PATRIMÔNIO

Verba servirá para reforçar a segurança do acervo; direção da instituição diz ter R$ 810 mil não repassados pela UFRJ

Após furto, MEC libera R$ 760 mil a museu

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Em um dia, o Museu Nacional conseguiu o que vinha tentando em vão havia oito meses. Depois da repercussão do furto de 13 obras raras da biblioteca da instituição e da danificação de outras 11, o Ministério da Educação anunciou, ontem, a liberação imediata de R$ 760 mil para reforço da segurança do edifício do museu, na Quinta da Boa Vista (zona norte do Rio).
O dinheiro é parte de uma verba de R$ 3 milhões que o ministério promete liberar nos próximos meses para o enfrentamento dos principais problemas do museu, que reúne um dos maiores acervos brasileiros de história natural.
O MEC também promete dar prioridade ao que chama de Projeto Museu Nacional. Somando dinheiro do Orçamento da União a recursos captados na iniciativa privada, por meio da Lei Rouanet, o museu receberia R$ 20 milhões nos próximos três anos para construir quatro prédios anexos, transferir seus acervos para esses prédios e concluir a restauração do palácio do século 18 que é a sua sede.
Com recursos da Petrobras e da Fundação Vitae, já foram recuperados quase todos os telhados do palácio, que foi residência da família imperial, e está sendo restaurado o pátio interno. Mas seis salas de exposições estão fechadas há mais de dois anos porque têm até buracos no chão.
A direção do museu alega que tem R$ 810 mil não repassados pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), responsável pela instituição, que não tem orçamento próprio e depende de repasses. A reitoria da UFRJ não foi localizada para comentar o caso.
Em nota oficial sobre o crime na biblioteca, emitida à tarde, a UFRJ manifestou seu "inconformismo diante dos acontecimentos" e afirmou que "não poupará esforços para resolver os problemas mais emergentes" do museu.
Segundo o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o Ministério da Cultura investiu em seus 40 museus R$ 21,8 milhões em 2003 e está investindo R$ 17 milhões neste ano. MEC e Minc estão criando um plano para recuperar também os 35 museus universitários.
Com os R$ 760 mil, será posto em prática um plano de dez medidas. Entre elas estão a instalação de circuitos internos de TV e centrais de alarme de incêndio no palácio e no prédio da biblioteca, a informatização do controle de acesso dos visitantes e o aumento do número de vigilantes.
Ontem, a Polícia Federal iniciou suas investigações sobre o crime. O delegado Júlio César Fernandes dos Santos, da Delegacia de Repressão a Crimes contra Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, esteve na biblioteca acompanhado de um perito, mas não conseguiu pistas. "A perícia não pôde ajudar, pois o local já foi muito alterado. Vamos começar a convocar para prestar depoimentos os funcionários da biblioteca e visitantes freqüentes", disse.
A consulta do público às obras raras está suspensa.

Ministro
O ministro da Cultura, Gilberto Gil, não vai tomar nenhuma medida especial em relação ao roubo de livros raros descoberto nesta semana no Museu Nacional.
Durante uma solenidade no pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, ontem pela manhã, Gil disse que o roubo "revela a fragilidade das instituições culturais".
Segundo o ministro, essas deficiências aparecem em outras situações. "Há perigo de incêndio no Museu Nacional de Belas Artes. Há goteiras no Museu de Arte Moderna do Rio", afirmou ele.
Entretanto Gil disse, sem indicar ações efetivas, que são necessários mais recursos para essas instituições. "Há uma falta de mentalidade em relação à preservação. É preciso ter mais dinheiro, pois já sabemos da fragilidade do sistema brasileiro".


Colaborou FABIO CYPRIANO, da Reportagem Local


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Peças valem US$ 500 mil, diz colecionador
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.