São Paulo, domingo, 08 de maio de 2005

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ENTRE O INFERNO E O CÉU

Mãe dá à luz após câncer no ovário

DA REPORTAGEM LOCAL

Foi em abril de 2000, durante a lua-de-mel, que Maria Aparecida Belezin notou o crescimento da barriga. E não era gravidez. Ao fazer o ultra-som, o médico diagnosticou um tumor no seu ovário direito, medindo nove centímetros. Logo depois o câncer foi confirmado. Tinha na época 31 anos.
Como não era mãe, o cirurgião decidiu preservar o seu ovário esquerdo. Quinze dias após a cirurgia, porém, procurou-a alegando que seria mais seguro retirar o outro ovário. O tipo de câncer era agressivo e, provavelmente, iria atingir o órgão, dizia o médico.
"Meu mundo caiu. Queria ter filhos e me via na iminência de não poder tê-los nunca", conta Cidinha, como é mais conhecida.
Ela procurou outros oncologistas, mas todos concordaram que o melhor era extirpar não só o ovário restante mas também o útero. Por fim, uma junta médica avaliou ser possível retirar, naquele momento, apenas o ovário.
Nessas idas e vindas ao médico, ela recebeu a sugestão de congelar seus embriões antes da cirurgia. Assim o fez por meio de um tratamento de reprodução assistida gratuito, obtido na Fundação Sinhá Junqueira, em Ribeirão Preto (SP). Produziu 16 embriões, que ficaram congelados.
"Nem sabia que isso era possível. As coisas iam acontecendo e parecia que eu estava em um filme de ficção científica", lembra.
Enquanto isso, ela lutava contra o câncer. Após a retirada do ovário esquerdo, fez oito meses de quimioterapia. "Perdi o cabelo, sentia-me mal, com náuseas, mas tinha fé que ficaria curada para ter o meu filho." Assim aconteceu em 2003, quando nasceu José Victor. Ainda sobraram dez embriões congelados que ela pretende doar.
No início deste ano, mais surpresas desagradáveis. O câncer havia atingido o endométrio (camada que reveste o útero) e ela teve de retirar o órgão.
"Parece que estava tudo programado. Era uma vitória e uma derrota, outra vitória e outra derrota", conta, referindo-se à progressão do câncer e as subseqüentes cirurgias para a retirada dos órgãos e a sua luta para ser mãe.
O saldo, porém, foi positivo: além do filho, depois da doença Cidinha voltou a estudar e termina neste ano a faculdade de fisioterapia. Pretende se especializar na área de oncologia. Ela concilia o estudo ao trabalho de auxiliar de biblioteca em uma universidade privada de Ribeirão Preto (SP).
"Sou uma pessoa de bem com a vida. Tive muita sorte de poder gerar meu filho entre um câncer e outro. Vou passar pela minha existência agradecendo isso", enfatiza. (CC)


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