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ENTRE O INFERNO E O CÉU
Mãe dá à luz após câncer no ovário
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi em abril de 2000, durante a
lua-de-mel, que Maria Aparecida
Belezin notou o crescimento da
barriga. E não era gravidez. Ao fazer o ultra-som, o médico diagnosticou um tumor no seu ovário
direito, medindo nove centímetros. Logo depois o câncer foi confirmado. Tinha na época 31 anos.
Como não era mãe, o cirurgião
decidiu preservar o seu ovário esquerdo. Quinze dias após a cirurgia, porém, procurou-a alegando
que seria mais seguro retirar o outro ovário. O tipo de câncer era
agressivo e, provavelmente, iria
atingir o órgão, dizia o médico.
"Meu mundo caiu. Queria ter filhos e me via na iminência de não
poder tê-los nunca", conta Cidinha, como é mais conhecida.
Ela procurou outros oncologistas, mas todos concordaram que
o melhor era extirpar não só o
ovário restante mas também o
útero. Por fim, uma junta médica
avaliou ser possível retirar, naquele momento, apenas o ovário.
Nessas idas e vindas ao médico,
ela recebeu a sugestão de congelar
seus embriões antes da cirurgia.
Assim o fez por meio de um tratamento de reprodução assistida
gratuito, obtido na Fundação Sinhá Junqueira, em Ribeirão Preto
(SP). Produziu 16 embriões, que
ficaram congelados.
"Nem sabia que isso era possível. As coisas iam acontecendo e
parecia que eu estava em um filme de ficção científica", lembra.
Enquanto isso, ela lutava contra
o câncer. Após a retirada do ovário esquerdo, fez oito meses de
quimioterapia. "Perdi o cabelo,
sentia-me mal, com náuseas, mas
tinha fé que ficaria curada para ter
o meu filho." Assim aconteceu em
2003, quando nasceu José Victor.
Ainda sobraram dez embriões
congelados que ela pretende doar.
No início deste ano, mais surpresas desagradáveis. O câncer
havia atingido o endométrio (camada que reveste o útero) e ela teve de retirar o órgão.
"Parece que estava tudo programado. Era uma vitória e uma derrota, outra vitória e outra derrota", conta, referindo-se à progressão do câncer e as subseqüentes
cirurgias para a retirada dos órgãos e a sua luta para ser mãe.
O saldo, porém, foi positivo:
além do filho, depois da doença
Cidinha voltou a estudar e termina neste ano a faculdade de fisioterapia. Pretende se especializar
na área de oncologia. Ela concilia
o estudo ao trabalho de auxiliar
de biblioteca em uma universidade privada de Ribeirão Preto (SP).
"Sou uma pessoa de bem com a
vida. Tive muita sorte de poder
gerar meu filho entre um câncer e
outro. Vou passar pela minha
existência agradecendo isso", enfatiza.
(CC)
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