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Carcereiro é
contaminado
da Reportagem Local
M.O., 25, está a curando
uma inflamação na mão direita depois de tratá-la durante o último mês. Agora,
só a ponta de um de seus
dedos permanece ainda infeccionada.
M.O. não é preso, mas
tem certeza de que apanhou a doença na cadeia.
Ele é a outra ponta do problema das doenças infecto-contagiosas nas celas de
São Paulo. M.O. é carcereiro e cuida de mais de 150
detentos em uma das delegacias da cidade.
"Peguei essa infecção levando presos ao pronto-socorro. Sei que existe a possibilidade de pegar uma
doença mais grave", diz.
Quando chega a casa, ele
separa as roupas que usou
durante o trabalho. M.O.,
que pediu que não fosse
identificado para não sofrer
represálias dos chefes, mora com os tios, não tem filhos nem é casado.
É justamente a preocupação com os filhos e com a
mulher que faz o carcereiro
V.O., 45, também separar
as roupas e lavá-las separadas das dos outros membros da família.
Há mais de 20 anos na polícia, V.O., não aguenta
mais a coceira nem a conjuntivite, que é crônica.
"Sarna é a doença mais comum que existe na cadeia", afirma.
V.O. usa dois tipos de colírio. "Quando fico longe
da delegacia, nos finais de
semana, nas férias, a coisa
melhora." Pai de três filhos, V.O. tem medo de pegar uma doença grave.
"Tudo o que é transmissível causa medo."
Ele e outros carcereiros
conversam todos os dias,
face a face, com os presos
através de uma pequena janela na porta que separa
suas salas das celas. A proximidade da conversa o faz
temer a tuberculose. "É
claro que tenho medo."
Além de conviver com as
doenças dos presos, V.O.
diz tentar ajudá-los. "Aqui
não há como tratá-los. Não
há médicos. Compro remédios para eles, mas isso é só
um alívio", afirma, mostrando uma cartela de aspirina recém adquirida para
um detento. "É terrível."
(MG)
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