São Paulo, sexta, 8 de maio de 1998

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Carcereiro é contaminado

da Reportagem Local

M.O., 25, está a curando uma inflamação na mão direita depois de tratá-la durante o último mês. Agora, só a ponta de um de seus dedos permanece ainda infeccionada.
M.O. não é preso, mas tem certeza de que apanhou a doença na cadeia. Ele é a outra ponta do problema das doenças infecto-contagiosas nas celas de São Paulo. M.O. é carcereiro e cuida de mais de 150 detentos em uma das delegacias da cidade.
"Peguei essa infecção levando presos ao pronto-socorro. Sei que existe a possibilidade de pegar uma doença mais grave", diz.
Quando chega a casa, ele separa as roupas que usou durante o trabalho. M.O., que pediu que não fosse identificado para não sofrer represálias dos chefes, mora com os tios, não tem filhos nem é casado.
É justamente a preocupação com os filhos e com a mulher que faz o carcereiro V.O., 45, também separar as roupas e lavá-las separadas das dos outros membros da família.
Há mais de 20 anos na polícia, V.O., não aguenta mais a coceira nem a conjuntivite, que é crônica. "Sarna é a doença mais comum que existe na cadeia", afirma.
V.O. usa dois tipos de colírio. "Quando fico longe da delegacia, nos finais de semana, nas férias, a coisa melhora." Pai de três filhos, V.O. tem medo de pegar uma doença grave. "Tudo o que é transmissível causa medo."
Ele e outros carcereiros conversam todos os dias, face a face, com os presos através de uma pequena janela na porta que separa suas salas das celas. A proximidade da conversa o faz temer a tuberculose. "É claro que tenho medo."
Além de conviver com as doenças dos presos, V.O. diz tentar ajudá-los. "Aqui não há como tratá-los. Não há médicos. Compro remédios para eles, mas isso é só um alívio", afirma, mostrando uma cartela de aspirina recém adquirida para um detento. "É terrível." (MG)


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