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OPINIÃO
SUS: nova gerência
JOSÉ KNOPLICH
Segundo o ministro da Saúde, a
criação do PAB (Plano de Atendimento Básico) permitirá iniciar
um novo gerenciamento do SUS
(Sistema Único de Saúde). A afirmação de que existe dinheiro suficiente na saúde, mas ele é mal aplicado, é uma semiverdade.
Os recursos são ínfimos para as
necessidades da medicina preventiva e curativa. Mas FHC não deixa
de ter razão quando afirma que
um gerenciamento de R$ 19 bilhões pode ser administrado. O
governo gasta R$ 93 por brasileiro/ano, sem considerar que 30%
da população paga, diretamente
ou pelo empregador, os planos de
saúde, mas também o SUS, usando-o em casos graves e caros.
O novo gerenciamento implica
uma alteração inicial e parcial de
duas fórmulas até agora praticadas no SUS. Pela primeira vez desde a existência do sistema, há uma
verba específica para a medicina
preventiva, separada da curativa.
Os prefeitos de 1.376 municípios
(26% do total do país) aceitaram
fazer a experiência em 1998. Receberão diretamente do governo federal R$ 10 por habitante/ano para
realizar 51 procedimentos básicos.
Os R$ 83 restantes por habitante/ano irão para o governo do Estado, para fazer toda a medicina
curativa, no velho estilo de gerência do SUS. Os prefeitos de 88%
dessas cidades não gastavam essa
pequena verba em seus municípios para prevenção de doenças.
Os especialistas afirmam que, a
cada real aplicado em prevenção,
economizam-se R$ 10 nos gastos
com as doenças. Esses recursos
para os municípios escolhidos tirarão R$ 600 milhões das verbas
do SUS para as doenças, mas representam um novo conceito de
gerenciamento, que se completa
com a segunda concepção do PAB.
Os prefeitos não terão, nessa
área preventiva, de apresentar a
fatura ao SUS. Nem haverá atrasos, pois o pagamento é fixo; não
existe mais uma tabela por consulta ou por procedimentos. Agora, o
pagamento é global por pessoa.
A prefeitura não manda a conta
(nem as falcatruas), e o SUS não a
glosa (rejeitando contas ou atrasando pagamentos). Se faltarem
recursos, os prefeitos completam
ou diminuem a atividade.
Esse sistema é aplicado desde
1990 nos EUA e se chama "managed care". A diferença é que a medicina curativa e a preventiva estão juntas, e o gerenciamento representa economia de 23% nos
gastos, com maior eficiência.
Esse sistema, criticado pelas entidades de classe, limita a atividade
liberal do médico de pedir exames
e internações e a do paciente de escolher especialistas e hospitais. Isso não acontecerá, por enquanto,
nessa experiência inicial do SUS,
mas o sistema deverá ser adotado
pelos planos de saúde no Brasil.
José Knoplich, 62, médico reumatologista, é
doutor em saúde pública pela USP. Foi presidente da Associação Paulista de Medicina
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