São Paulo, sexta, 8 de maio de 1998

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VIOLÊNCIA
Noaldo Silva, responsável pela Segurança no RJ, diz que ladrão "com AR-15 na mão deve sair da sociedade"
Secretário defende morte de bandidos

RONI LIMA
da Sucursal do Rio

O secretário de Estado da Segurança Pública do Rio de Janeiro, coronel reformado do Exército Noaldo Alves Silva, 68, disse ontem que "bandido que enfrentar a polícia tem que ser morto".
Logo após participar de missa em homenagem aos 189 anos de criação da Polícia Militar do Rio e aos 137 PMs que morreram em ação desde o início de 97, ele afirmou que "bandido com AR-15 na mão é um que precisa sair do convívio da sociedade. Ele não pode nem ser preso".
O fuzil AR-15, de origem americana, é uma das armas preferidas pelos criminosos do Rio.
Questionado pela Folha sobre o que quis dizer com "sair do convívio da sociedade", o secretário respondeu: "Se ele tá no confronto, pode ser morto. Por isso tem esse nível de 25 mortos".
Silva se referia aos 25 supostos criminosos que foram mortos pela polícia do Rio em oito dias. Esse número é a soma dos que tinham sido mortos até o final da tarde de anteontem. Mais três outros homens foram mortos depois disso.
Entidades de defesa dos direitos humanos criticaram a fala do secretário e o alto número de pessoas mortas em poucos dias.
"Isso é um absurdo. O Estado tem que prender e levar à Justiça. Aquele que prende não pode se arvorar em juiz", afirmou a presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio, Cecilia Coimbra.
Segundo a entidade norte-americana Human Rights Watch, esse número é semelhante à média de pessoas mortas pela polícia de Nova York em um ano. O diretor da entidade no Brasil, James Cavallaro, 35, disse que a polícia de Nova York mata anualmente de 20 a 30 pessoas.
Após sair da missa, celebrada pelo cardeal do Rio, dom Eugenio Sales, na catedral metropolitana, o secretário afirmou que não iria comentar a crítica de Cavallaro.
Mas acabou afirmando que " Rio de Janeiro não é Nova York" e que Cavallaro "não entende a geografia" da capital fluminense. Segundo Silva, em Nova York existem áreas em que não se pode entrar a qualquer hora do dia.
"O turista, quando chega a Nova York, recebe um folheto explicando que não se deve andar em determinados locais onde a criminalidade é grande. Aqui não tem disso", afirmou o secretário.
Para ele, no Rio existem áreas em que não se pode entrar apenas "em determinadas horas", em geral à noite. Mas, fora desses horários, não haveria problemas.
Questionado se uma pessoa poderia entrar em uma favela a qualquer hora, respondeu apenas que "é preciso distinguir o morador do bandido".
Ele afirmou então que "bandido com AR-15" precisa "sair do convívio da sociedade".



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