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SEGURANÇA
De acordo com Garotinho, medida servirá para "superar prazos" nas reformas do sistema prisional do Estado
Rio decreta emergência em presídios
PLÍNIO FRAGA
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Na tentativa de combater a crise
que atinge o sistema penitenciário
do Estado do Rio -morreram 33
pessoas em quatro rebeliões nos
últimos dez dias-, a governadora Rosinha Matheus (PMDB) decretou ontem "situação de emergência" nas cadeias estaduais.
O único resultado imediato da
medida é a permissão ao Estado
de contratar obras e serviços sem
concorrência pública, por tempo
indeterminado e com custos ainda não calculados.
"A governadora decretou estado de emergência para dar agilidade às obras necessárias no sistema penitenciário. Se fossem correr no rito normal, levariam um
tempo muito grande", justificou o
secretário de Segurança Pública,
Anthony Garotinho, responsável
pela explicação do decreto assinado por sua mulher, em entrevista
coletiva, no centro do Rio.
Ele negou que a decretação do
estado de emergência seja o reconhecimento de falhas do governo.
"Não acredito que seja uma forma
de admitir qualquer tipo de erro."
O decreto 35.644 será publicado
hoje no "Diário Oficial" do Estado. Ontem, ele chegou a ser publicado de modo truncado.
Para o advogado Flávio Guberman, especialista em direito administrativo, o decreto parece ser
uma forma de o governo dispensar a concorrência determinada
pela lei federal 8.666 (Lei das Licitações), que prevê dispensa de licitações em situação emergencial.
"O fato de ser uma emergência
causada por imprevidência do governo não retira a característica
de emergência. Seria uma situação de emergência causada pelo
próprio governo. No caso, caberia
uma ação civil pública contra o
governante", afirmou.
Garotinho criticou a ex-governadora petista Benedita da Silva
(abril-dezembro de 2002), por
não continuar o programa de
criação de casas de custódia iniciado em sua gestão (1999-abril de
2002), e o governo federal, por
não liberar verbas para reforma.
Um exemplo de gastos a serem
feitos sem concorrência, citado
pelo secretário, é a instalação de
sistema de monitoração eletrônica na Casa de Custódia de Benfica
(zona norte). "A tendência no
mundo inteiro é um número menor de agentes penitenciários e de
um número maior de câmeras."
Pela proposta do governo, o
monitoramento de câmeras será
feito numa sala da casa da custódia e em outra sala, na Secretaria
de Segurança. "O custo desse projeto, a ser estendido às demais penitenciárias, está sendo levantado. Como é uma prioridade da
governadora, ela destinará os recursos que forem necessários."
Segundo o secretário, o sistema
penitenciário recebe a cada dia 70
novos presos, o que explicaria a
necessidade de medidas urgentes.
Garotinho nega que falte transparência ao projeto que defende.
"Os preços serão públicos. As empresas serão convidadas a apresentar suas propostas. Queremos
apenas superar prazos."
O decreto federal 895, de 16 de
agosto de 1993, define situação de
emergência como "o reconhecimento pelo poder público de situação anormal, provocada por
desastres, causando danos superáveis pela comunidade afetada".
O advogado Guberman disse
que a lei permite uma definição
mais ampla de situação de emergência, não restrita apenas a desastres ambientais.
A dispensa de licitação é uma
das principais características da
área de segurança do governo Rosinha, assim como ocorreu no governo Garotinho. As 11 casas de
custódia construídas no Estado a
partir de 1999 não tiveram licitação, porque os governos alegaram
que o sistema carcerário do Estado vivia situação de emergência.
Da mesma forma, não foram licitadas as obras do Projeto Delegacia Legal, de modernização dos
distritos de Polícia Civil. As casas
de custódia, destinadas, teoricamente, a presos à espera de julgamento, fazem parte do projeto.
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