São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2007

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BARBARA GANCIA

Kaká x Gisele

De um lado, o meia do Milan, Kaká, do outro, a modelo Gisele Bündchen: qual dos dois vai para o trono?

KAKÁ É A ANTÍTESE da polêmica. Cumpridor de suas obrigações, franco e equilibrado, ele é o protótipo do bom moço, "o genro que todo pai queria ter", segundo seu patrão, Silvio Berlusconi.
Nunca foi visto em boates, bateu boca com técnico ou jamais poderia ser envolvido no escândalo dos paparazzi italianos, que levou um punhado de fotógrafos para a cadeia no início do ano por chantagear jogadores (entre eles, alguns brasileiros) com fotos comprometedoras.
Mas não é que, nesta semana, Kaká conseguiu ser o centro das atenções justamente por dizer o que pensa? À versão italiana da revista "Vanity Fair", o jogador declarou ter sofrido para driblar a tentação do sexo antes do casamento: "Minha mulher e eu quisemos chegar virgens ao altar. A Bíblia ensina que o verdadeiro amor só se alcança com a união do casamento, um laço de sangue no qual a mulher perde a virgindade. Para nós, a primeira noite foi linda", disse ele. E mais: "Sou um jovem normal. Não foi fácil chegar ao casamento sem nunca ter estado com uma mulher. Eu e Caroline (sua mulher) nos beijávamos e o desejo existia. Mas soubemos nos conter. Se hoje a nossa vida é mais bonita, acho que é porque esperamos pela hora certa". Palmas para o Kaká. Por mais que suas declarações soem exóticas, não é esse o tipo de consciência e responsabilidade que todo pai e mãe sonham que os filhos tenham?
Enquanto a "Vanity Fair" italiana era distribuída nas bancas, outra brasileira, também célebre no mundo inteiro, dava entrevista para dizer exatamente o oposto. Instada a dar sua opinião sobre o aborto, Gisele Bündchen afirmou: "Sou a favor de a mulher fazer o que deseja de seu corpo, ela deve ter o direito de decidir". Sobre os preservativos, a modelo foi ainda mais incisiva: "Proibir camisinha é ridículo, basta pensar nas várias doenças que são transmitidas sem ela. Como é possível não querer que se use camisinha e que também não se faça aborto?"
De um lado, Kaká, do outro, La Bündchen: qual dos dois vai para o trono? Bem, vamos lá: confesso que a integridade de Kaká me encanta. Mas, talvez, se ele pudesse ter conhecido o sexo antes do casamento, não teria corrido para o altar tão jovem. Não coloco em dúvida as ótimas intenções dele, mas, na minha modestíssima opinião, deveria haver uma lei proibindo o casamento para menores de 25 anos.
Gisele Bündchen merece ser ovacionada de pé. Sem frescuras, ela expôs a hipocrisia reinante. À exceção de um Kaká, um Tony Ramos ou um daqueles jovens escolhidos para ver o papa no Pacaembu, quem não transa antes do casamento?
Não fornecer acesso a preservativos, não deixar a mulher decidir sobre seu corpo, isso, sim, deveria ser considerado crime. Especialmente em um país em que a educação dentro e fora de casa é lamentável e os jovens ainda são alvo da ganância de grupos econômicos.
Veja: justo quando a Anvisa está prestes a implementar nova regulamentação que restringe severamente a publicidade de bebidas alcoólicas, Gilberto Leifert, presidente do Conar (Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária), fala em "liberdade de expressão" para defender que se deixe tudo como está.
Alô, Igreja Católica! Não é mesmo o melhor dos mundos, jovens serem incentivados a não usar camisinha, mas a beber?

barbara@uol.com.br


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