|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BARBARA GANCIA
Kaká x Gisele
De um lado, o meia do Milan, Kaká, do outro, a modelo Gisele Bündchen: qual dos dois vai para o trono?
KAKÁ É A ANTÍTESE da polêmica. Cumpridor de suas obrigações, franco e equilibrado,
ele é o protótipo do bom moço, "o
genro que todo pai queria ter", segundo seu patrão, Silvio Berlusconi.
Nunca foi visto em boates, bateu
boca com técnico ou jamais poderia
ser envolvido no escândalo dos paparazzi italianos, que levou um punhado de fotógrafos para a cadeia no
início do ano por chantagear jogadores (entre eles, alguns brasileiros)
com fotos comprometedoras.
Mas não é que, nesta semana, Kaká conseguiu ser o centro das atenções justamente por dizer o que
pensa? À versão italiana da revista
"Vanity Fair", o jogador declarou ter
sofrido para driblar a tentação do sexo antes do casamento: "Minha mulher e eu quisemos chegar virgens ao
altar. A Bíblia ensina que o verdadeiro amor só se alcança com a união do
casamento, um laço de sangue no
qual a mulher perde a virgindade.
Para nós, a primeira noite foi linda",
disse ele. E mais: "Sou um jovem
normal. Não foi fácil chegar ao casamento sem nunca ter estado com
uma mulher. Eu e Caroline (sua mulher) nos beijávamos e o desejo existia. Mas soubemos nos conter. Se
hoje a nossa vida é mais bonita, acho
que é porque esperamos pela hora
certa". Palmas para o Kaká. Por mais
que suas declarações soem exóticas,
não é esse o tipo de consciência e
responsabilidade que todo pai e mãe
sonham que os filhos tenham?
Enquanto a "Vanity Fair" italiana
era distribuída nas bancas, outra
brasileira, também célebre no mundo inteiro, dava entrevista para dizer exatamente o oposto. Instada a
dar sua opinião sobre o aborto, Gisele Bündchen afirmou: "Sou a favor
de a mulher fazer o que deseja de seu
corpo, ela deve ter o direito de decidir". Sobre os preservativos, a modelo foi ainda mais incisiva: "Proibir
camisinha é ridículo, basta pensar
nas várias doenças que são transmitidas sem ela. Como é possível não
querer que se use camisinha e que
também não se faça aborto?"
De um lado, Kaká, do outro, La
Bündchen: qual dos dois vai para o
trono? Bem, vamos lá: confesso que
a integridade de Kaká me encanta.
Mas, talvez, se ele pudesse ter conhecido o sexo antes do casamento,
não teria corrido para o altar tão jovem. Não coloco em dúvida as ótimas intenções dele, mas, na minha
modestíssima opinião, deveria haver uma lei proibindo o casamento
para menores de 25 anos.
Gisele Bündchen merece ser ovacionada de pé. Sem frescuras, ela expôs a hipocrisia reinante. À exceção
de um Kaká, um Tony Ramos ou um
daqueles jovens escolhidos para ver
o papa no Pacaembu, quem não
transa antes do casamento?
Não fornecer acesso a preservativos, não deixar a mulher decidir sobre seu corpo, isso, sim, deveria ser
considerado crime. Especialmente
em um país em que a educação dentro e fora de casa é lamentável e os
jovens ainda são alvo da ganância de
grupos econômicos.
Veja: justo quando a Anvisa está
prestes a implementar nova regulamentação que restringe severamente a publicidade de bebidas alcoólicas, Gilberto Leifert, presidente do
Conar (Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária), fala em "liberdade de expressão" para defender que se deixe tudo como está.
Alô, Igreja Católica! Não é mesmo
o melhor dos mundos, jovens serem
incentivados a não usar camisinha,
mas a beber?
barbara@uol.com.br
Texto Anterior: Ato na Paulista foi combinado pelo site Orkut Próximo Texto: Qualidade das praias: Em Ilhabela e em Caraguá, condições de praias pioram Índice
|