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Panfleto para Parada Gay orienta como cheirar cocaína
Delegado do Denarc critica material e diz que investigará se evento facilita tráfico
Segundo material, governos federal estadual e municipal apóiam cartilha; órgãos negam ter participado da redação do documento
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Impresso em 40 mil exemplares, um panfleto produzido
para ser distribuído na Parada
do Orgulho GLBT de São Paulo
orienta os participantes sobre o
uso de cocaína.
"Para cheirar, prefira um canudo individual a notas de dinheiro", diz o material, que
também traz dicas sobre outras
drogas: "Faça uma piteira de
papel se for rolar um baseado";
"Compartilhe a droga, nunca o
material a ser usado".
A cartilha estampa o selo colorido do governo federal,
aquele do slogan "Brasil - Um
País de Todos". O Ministério da
Saúde confirma que os dados
utilizados no texto são coerentes com a sua política de redução de danos (leia abaixo).
Também estão impressos na
cartilha logotipos dos programas contra DST/Aids do governo estadual e da Prefeitura de
São Paulo, do Ministério do Turismo e da Embratur. Entretanto, segundo as respectivas
assessorias de imprensa, os órgãos não tiveram participação
na elaboração do material.
O panfleto -que, dobrado
em quatro partes, forma uma
cartilha de oito páginas- começou a ser distribuído ontem,
durante a Feira Cultural GLBT
(sigla para Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), no vale do Anhangabaú (região central), principal evento paralelo
à parada. A distribuição continuará no domingo, quando a
parada deverá reunir 3 milhões
de pessoas, segundo estimativa
dos organizadores.
Regina Fachini, vice-presidente da Parada do Orgulho
GLBT de São Paulo, diz que o
objetivo do texto é "alertar para
o risco de contaminação durante o uso de drogas, de acordo
com dicas do Ministério da
Saúde". "É a idéia de redução de
danos para afastar riscos de
doenças transmissíveis, como a
Aids", diz Fachini.
Investigação
O material elaborado pela organização da Parada Gay é criticado pelo delegado Wuppslander Ferreira Neto, do Denarc
(Departamento de Investigações sobre Narcóticos), que diz
que investigará o evento para
checar se existe facilitação ou
omissão ao tráfico de drogas.
"O lançamento de um panfleto assim mostra que a parada
reconhece que lá vai se usar cocaína e maconha", diz o delegado. "Esse panfleto é uma aberração. É um incentivo ao uso de
drogas e ao tráfico, que são crimes. A preocupação em alertar
para cuidados de higiene não
pode ser maior que a preocupação sobre o uso de drogas."
Médicos infectologistas ouvidos pela Folha divergem sobre a política de "redução de
danos". "Particularmente, sou
radicalmente contra o uso de
droga em si. Não trabalho com
hipóteses de redução de danos", diz David Uip.
"O ideal é não usar droga nenhuma, mas a divulgação dos
cuidados é positiva para minimizar problemas", diz Hélio
Vasconcelos Lopes.
A cartilha, que defende o uso
de preservativos e fala sobre
anabolizantes, tem outra dica
polêmica, que diz: "Quanto
mais cedo você souber se tem o
HIV, mais tarde começará a tomar a sua medicação".
"Quisemos dizer que, quando a pessoa descobre que tem o
vírus cedo, pode começar a levar uma vida mais saudável e
retardar o início do uso de remédios", diz Fachini.
"Isso não tem nada a ver",
discorda o médico Vasconcelos
Lopes. "É claro que é melhor
descobrir o quanto antes, mas
o início do uso de medicamentos varia conforme cada caso."
O horário de início da Parada
Gay é às 13h30. Está prevista a
passagem de 23 trios pela avenida Paulista, que se dispersam
em frente à praça Roosevelt.
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