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Medicamento anti-Aids é retirado do mercado
Decisão ocorreu devido ao excesso de substância potencialmente cancerígena
Comercializado no Brasil desde 1998, remédio é consumido por 9.000 adultos e por 250 crianças portadoras do vírus HIV
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos medicamentos que
compõem o coquetel anti-Aids
distribuído pelo governo federal brasileiro está sendo recolhido por conter excesso de
uma substância potencialmente cancerígena.
Comercializado no Brasil
desde 1998, o remédio é consumido por 9.000 adultos e 250
crianças portadoras do vírus
HIV. Um total de 180 mil pessoas usam o coquetel anti-Aids.
A decisão do recolhimento
partiu da companhia farmacêutica Roche, que, anteontem,
anunciou a retirada do mercado europeu e brasileiro de todos os lotes do remédio Viracept (nelfinavir), nas formas
em pó e em comprimidos.
Segundo nota da Roche, o recolhimento se deve ao fato de
ter havido na Europa diversos
relatos de que alguns lotes do
medicamento de 250 mg possuíam um odor alterado.
Análises químicas detalhadas mostraram a presença de
uma impureza no princípio ativo da droga, o ácido etil éster
metanosulfônico. Também havia níveis maiores que o normal
do ácido nos remédios.
Os problemas atingiram pelo
menos dois lotes. Um deles deu
entrada no almoxarifado do
Ministério da Saúde no último
dia 29 de maio e estava em fase
inicial de distribuição.
O ácido etil éster metanosulfônico é uma substância considerada genotóxica, ou seja, pode afetar os genes e levar ao
surgimento do câncer.
O remédio nelfinavir faz parte do grupo de inibidores de
protease, classe de medicamentos que reduz a velocidade
de propagação do vírus HIV no
organismo, além de diminuir o
risco de os pacientes desenvolverem doenças oportunistas ligadas à infeção viral.
Segundo a Roche e o Programa Brasileiro de DST Aids, o recolhimento de todos os lotes do
remédio no Brasil tem caráter
preventivo, já que não houve
relatos de problemas com a
substância até o momento. Nos
EUA, no Canadá e no Japão, a
droga continua em uso.
Comunicado
Ontem, o programa DST Aids
divulgou um comunicado em
que solicita às unidades distribuidoras de medicamentos anti-retrovirais que suspendam a
entrega do nelfinavir comprimidos de 250 mg ou pó para solução oral (usado pelas crianças
infectadas pelo vírus HIV).
Segundo Mariângela Simão,
diretora do programa, todos os
pacientes que usam nelfinavir
devem procurar o serviço de
saúde no qual são acompanhados para orientações e substituição do medicamento.
Ela afirma que existem várias
opções terapêuticas capazes de
substituir o nelfinavir. "Essas
pessoas não ficarão desassistidas. Temos estoque suficiente
para atender a todos."
Os adultos em tratamento,
por exemplo, poderão substituir o remédio por outros da
classe dos inibidores de protease, como o lopinavir/ritonavir,
amprenavir ou saquinavir.
Ao todo, 17 drogas compõem
o coquetel anti-Aids distribuído pelo governo federal, sendo
o nelfinavir uma delas. Cada
paciente usa uma combinação
de um ou mais remédios.
Nos últimos anos, o nelfinavir deixou de ser um medicamento de primeira linha no tratamento de novos doentes. Segundo Mariângela Simão, o decréscimo no uso ocorreu em razão da posologia -duas doses
diárias, com um total de dez
comprimidos-, considerada
de difícil adesão.
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