São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2007

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Medicamento anti-Aids é retirado do mercado

Decisão ocorreu devido ao excesso de substância potencialmente cancerígena

Comercializado no Brasil desde 1998, remédio é consumido por 9.000 adultos e por 250 crianças portadoras do vírus HIV

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos medicamentos que compõem o coquetel anti-Aids distribuído pelo governo federal brasileiro está sendo recolhido por conter excesso de uma substância potencialmente cancerígena.
Comercializado no Brasil desde 1998, o remédio é consumido por 9.000 adultos e 250 crianças portadoras do vírus HIV. Um total de 180 mil pessoas usam o coquetel anti-Aids.
A decisão do recolhimento partiu da companhia farmacêutica Roche, que, anteontem, anunciou a retirada do mercado europeu e brasileiro de todos os lotes do remédio Viracept (nelfinavir), nas formas em pó e em comprimidos.
Segundo nota da Roche, o recolhimento se deve ao fato de ter havido na Europa diversos relatos de que alguns lotes do medicamento de 250 mg possuíam um odor alterado.
Análises químicas detalhadas mostraram a presença de uma impureza no princípio ativo da droga, o ácido etil éster metanosulfônico. Também havia níveis maiores que o normal do ácido nos remédios.
Os problemas atingiram pelo menos dois lotes. Um deles deu entrada no almoxarifado do Ministério da Saúde no último dia 29 de maio e estava em fase inicial de distribuição.
O ácido etil éster metanosulfônico é uma substância considerada genotóxica, ou seja, pode afetar os genes e levar ao surgimento do câncer.
O remédio nelfinavir faz parte do grupo de inibidores de protease, classe de medicamentos que reduz a velocidade de propagação do vírus HIV no organismo, além de diminuir o risco de os pacientes desenvolverem doenças oportunistas ligadas à infeção viral.
Segundo a Roche e o Programa Brasileiro de DST Aids, o recolhimento de todos os lotes do remédio no Brasil tem caráter preventivo, já que não houve relatos de problemas com a substância até o momento. Nos EUA, no Canadá e no Japão, a droga continua em uso.

Comunicado
Ontem, o programa DST Aids divulgou um comunicado em que solicita às unidades distribuidoras de medicamentos anti-retrovirais que suspendam a entrega do nelfinavir comprimidos de 250 mg ou pó para solução oral (usado pelas crianças infectadas pelo vírus HIV).
Segundo Mariângela Simão, diretora do programa, todos os pacientes que usam nelfinavir devem procurar o serviço de saúde no qual são acompanhados para orientações e substituição do medicamento.
Ela afirma que existem várias opções terapêuticas capazes de substituir o nelfinavir. "Essas pessoas não ficarão desassistidas. Temos estoque suficiente para atender a todos."
Os adultos em tratamento, por exemplo, poderão substituir o remédio por outros da classe dos inibidores de protease, como o lopinavir/ritonavir, amprenavir ou saquinavir.
Ao todo, 17 drogas compõem o coquetel anti-Aids distribuído pelo governo federal, sendo o nelfinavir uma delas. Cada paciente usa uma combinação de um ou mais remédios.
Nos últimos anos, o nelfinavir deixou de ser um medicamento de primeira linha no tratamento de novos doentes. Segundo Mariângela Simão, o decréscimo no uso ocorreu em razão da posologia -duas doses diárias, com um total de dez comprimidos-, considerada de difícil adesão.


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