São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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Ausente durante o dia, pai "estica" a noite dos filhos

Adultos buscam aumentar convivência familiar sacrificando sono das crianças

Especialistas alertam, porém, que prolongamento do dia pode atrapalhar o crescimento e criar problemas de aprendizado

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Sentados numa lanchonete de São Paulo, o pai, a mãe e as duas filhas desfrutam o momento em família. Giovanna, 10, toma um sorvete. Giullia, 2, distrai-se com balões. Na hora de ir embora, a caçula abre um berreiro -claro sinal de sono.
Passam das 23h. Isso é hora de criança estar acordada? "Só temos a noite para ficar com elas", responde Carlos Sandes, 42. "Procuramos aproveitar ao máximo", concorda Kelly Mendes Sandes, 39.
Ele, dono de uma loja de carros, e ela, de uma fábrica de embalagens, saem de casa às 8h e só voltam às 20h. Para impedir que a correria detone a convivência familiar, o casal decidiu "esticar" o dia das meninas.
Casos assim são vistos cada vez mais por médicos, psicólogos e educadores. Em vez de dormirem às 20h, crianças vão para a cama às 22h, às 23h e até mais tarde, mesmo que no dia seguinte tenham que estar de pé cedo para ir ao colégio.
Isso, no entanto, pode atrapalhar o crescimento das crianças e criar problemas de aprendizagem na escola.
"A exigência do emprego é grande. Há o trânsito, que consome muito tempo. O fim de semana ficou curto e não preenche a lacuna afetiva. E assim o dia da criança é prolongado", explica Paulo Ronca, doutor em psicologia educacional e consultor do colégio São Luís.
Quando o engenheiro José Patiño, 39, e a médica Maria Cristina Zanella, 40, chegam em casa, às 20h, a babá providenciou para que Adrian, 6, e Isabella, 3, estejam de banho tomado e de pijama vestido. O jantar já está na mesa. O casal não quer perder tempo.
Depois do jantar, brincam, desenham, pintam, contam histórias -tudo em família. As luzes começam a se apagar às 22h. Poucas horas depois, às 6h, o despertador toca. Já é hora de trabalhar e ir para a escola. "Sinto um pouco de culpa por trabalhar demais. E gostaria que dormissem mais. É difícil conciliar as coisas", desabafa a mãe.


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