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Ausente durante o dia, pai "estica" a noite dos filhos
Adultos buscam aumentar convivência familiar sacrificando sono das crianças
Especialistas alertam, porém, que prolongamento do dia pode atrapalhar o crescimento e criar problemas de aprendizado
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Sentados numa lanchonete
de São Paulo, o pai, a mãe e as
duas filhas desfrutam o momento em família. Giovanna,
10, toma um sorvete. Giullia, 2,
distrai-se com balões. Na hora
de ir embora, a caçula abre um
berreiro -claro sinal de sono.
Passam das 23h. Isso é hora
de criança estar acordada? "Só
temos a noite para ficar com
elas", responde Carlos Sandes,
42. "Procuramos aproveitar ao
máximo", concorda Kelly Mendes Sandes, 39.
Ele, dono de uma loja de carros, e ela, de uma fábrica de embalagens, saem de casa às 8h e
só voltam às 20h. Para impedir
que a correria detone a convivência familiar, o casal decidiu
"esticar" o dia das meninas.
Casos assim são vistos cada
vez mais por médicos, psicólogos e educadores. Em vez de
dormirem às 20h, crianças vão
para a cama às 22h, às 23h e até
mais tarde, mesmo que no dia
seguinte tenham que estar de
pé cedo para ir ao colégio.
Isso, no entanto, pode atrapalhar o crescimento das crianças e criar problemas de aprendizagem na escola.
"A exigência do emprego é
grande. Há o trânsito, que consome muito tempo. O fim de semana ficou curto e não preenche a lacuna afetiva. E assim o
dia da criança é prolongado",
explica Paulo Ronca, doutor em
psicologia educacional e consultor do colégio São Luís.
Quando o engenheiro José
Patiño, 39, e a médica Maria
Cristina Zanella, 40, chegam
em casa, às 20h, a babá providenciou para que Adrian, 6, e
Isabella, 3, estejam de banho
tomado e de pijama vestido. O
jantar já está na mesa. O casal
não quer perder tempo.
Depois do jantar, brincam,
desenham, pintam, contam
histórias -tudo em família. As
luzes começam a se apagar às
22h. Poucas horas depois, às
6h, o despertador toca. Já é hora de trabalhar e ir para a escola. "Sinto um pouco de culpa
por trabalhar demais. E gostaria que dormissem mais. É difícil conciliar as coisas", desabafa
a mãe.
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